EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 21 de fevereiro de 2011 às 14h57.
O mercado espera com ansiedade uma solução para a crise que abala desde o início do mês a fabricante de laticínios italiana Parmalat, com dívidas declaradas de 6 bilhões de euros _ mas estimadas por alguns analistas em até 10 bilhões de euros, naquele que começa a ser classificado como o mais novo escândalo contábil.
"Parecem os estágios iniciais do final da Enron", disse um investidor. A dúvida, nesta segunda-feira (22/12), era sobre o tipo de concordata que a empresa anunciaria, depois que, no último sábado (20/12), o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, declarou que se empenharia para ajudar a salvá-la. "Ninguém se atreve a tocar nos papéis da empresa", declarou um analista ao Wall Street Journal. "SImplesmente não há como analisá-los."
O pedido de concordata não será uma surpresa. De acordo com o Journal, a empresa está em dificuldades para dizer onde estão 4 bilhões de euros de um total de 4,2 bilhões que afirma ter em caixa. Na semana passada, a Parmalat teve dificuldades para resgatar bônus de 150 milhões de euros, o que só ocorreu poucos dias depois do vencimento.
Os próximos vencimentos de dívidas da empresa se referem ao resgate, estimado em 400 milhões de dólares, da participação de 18,18% que os acionistas minoritários detêm na controladora da subsidiária brasileira. Caso a empresa não abrisse o capital, esses acionistas poderiam resgatar bônus nesse valor no final de 2003. O pagamento da primeira parcela desse resgate, vencida na semana passada, foi postergada. Não se sabe o que acontecerá com a segunda parcela, cujo vencimento está marcado para esta segunda-feira (22/12). Procurada pelo Portal EXAME, a Parmalat informou que prefere não se pronunciar sobre as negociações em andamento. A empresa confirma, porém, que houve atraso no pagamento de algumas cooperativas no Brasil e que negocia com bancos formas de honrar seus compromissos sem prejudicar o fluxo de caixa.
Na Itália, Berlusconi afirmou que o ministério da economia intervirá para proteger os empregos dos funcionários da empresa e o seu parque industrial, que é parte da riqueza do país. A Parmalat tem cerca de 35 000 funcionários espalhados em operações em 30 países. O primeiro-ministro também disse que já pensa em reformas nos órgão de fiscalização para evitar que fraudes como a da Parmalat voltem a ocorrer. No ano passado, durante o colapso de outro importante grupo industrial italiano, o Cirio, Berlusconi também prometeu trabalhar por mudanças.
No mesmo dia que o premiê italiano fez essas declarações, a polícia vasculhou os escritórios em Milão da Grant Thornton, empresa responsável pela auditoria das contas de 2002 da Parmalat nas Ilhas Cayman. Os auditores da Thornton defenderam a empresa cliente e afirmaram que não tinham mais em mãos nenhum documento relacionado ao serviço prestado à Parmalat. Também foram solicitados documentos à Deloitte & Touche, que desencadeou a crise ao indagar sobre a participação da Parmalat no fundo Epicurum, com sede nas Cayman. Tanto a Grant Thornton quanto a Deloitte informaram disposição em cooperar com as investigações das autoridades italianas.
O último capítulo da novela que envolve a Parmalat aconteceu na última sexta-feira (19/12), quando o Bank of America rejeitou a autenticidade de um documento em que afirmava a existência de 3,95 bilhões de euros em dinheiro na conta da Bonlat, uma subsidiária do grupo nas Ilhas Cayman. Esse mesmo documento foi usado pela Thornton em 2002 para certificar as contas da subsdiária da Parmalat nas Cayman em 2002. Com esse último incidente, as ações da Parmalat caíram a quase 5% do valor no dia 10 de dezembro Nesta segunda-feira (22/12), eram negociadas a 20% do valor de face.