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Sem chips, indústria de carros adia recuperação

O setor deve perder a chance de recuperar mercado no período em que tradicionalmente se vendem mais carros, na segunda metade do ano

MONTADORAS: a reabertura da indústria é um desafio global  (Germano Lüders/Exame)

MONTADORAS: a reabertura da indústria é um desafio global (Germano Lüders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de junho de 2021 às 13h56.

Última atualização em 21 de junho de 2021 às 14h04.

O fechamento das fábricas da Volkswagen e da General Motors a partir desta segunda-feira, 21, e do corte de mais um turno de trabalho na Hyundai, dão o tom de um segundo semestre preocupante para a indústria automobilística brasileira, que segue com dificuldades em conseguir semicondutores para os veículos.

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O setor deve perder a chance de recuperar mercado no período em que tradicionalmente se vendem mais carros, na segunda metade do ano, e que vai coincidir com a retomada mais consistente da economia, melhora do produto interno bruto (PIB) e mais pessoas vacinadas contra a covid.

"É difícil afirmar, no momento, se vamos conseguir atender à demanda no segundo semestre", admite o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes.

Ele concorda que, a partir do próximo mês, as previsões são de PIB um pouco melhor apesar da inflação e dos juros mais altos , e de maior controle da pandemia, "mas não podemos carimbar que vai ter oferta [de produtos]".

Moraes e outros executivos da cadeia preveem que o equilíbrio entre oferta e demanda se dará ao longo de 2022. Hoje, a espera por modelos como as picapes Strada e Toro, da Fiat, pode passar de três meses.

"Se tudo der certo, o segundo semestre de fato será bom para a economia brasileira, o que deve aumentar a confiança do consumidor, reduzir o desemprego e melhorar a renda da população mas não vai ter carro para entregar por falta de semicondutores", avalia Ricardo Bacellar, da consultoria KPMG do Brasil. "Isso vai ser um problemão para a indústria."

Paradas

A Volkswagen suspendeu a produção por dez dias em São Bernardo do Campo e São Carlos (SP). A fábrica de São José dos Pinhais (PR), fechada desde o dia 7, voltaria hoje, mas teve a paralisação estendida até início de julho. A de Taubaté, que parou no mesmo dia, voltou na quinta-feira.

A GM suspendeu operações em São Caetano por seis semanas, mas aproveita e prepara a linha para a produção de uma nova picape. A planta de Gravataí (RS) está parada desde abril e volta só em meados de agosto.

A Hyundai passou a operar com apenas um turno de trabalho. O terceiro tinha sido suspenso no fim de maio, e agora o segundo turno também foi interrompido, até o fim do mês.

Prejuízos

Por causa da escassez de itens eletrônicos, em sistemas de segurança, aceleração, freios e iluminação, entre outros, a indústria global de veículos deve deixar de produzir entre 2,5 milhões e 4 milhões de veículos neste ano. Antes, a previsão para o total da produção era de 84 milhões de unidades.

No Brasil, seguindo percentuais globais, a perda pode passar de 120.000 veículos. Se confirmada, a produção será de 2,4 milhões de veículos, ante 2,52 milhões previstos.

Estudo recém-concluído pela KPMG indica que, globalmente, a indústria automobilística terá prejuízo de 100 bilhões de dólares neste ano por causa das paradas de produção. O valor equivale a 80% da perda total de 125 bilhões de dólares projetada para os principais setores que usam chips nos produtos.

Segundo Bacellar, embora fique com cerca de 10% da produção mundial de semicondutores, o setor automotivo perdeu a prioridade nas compras ao suspender encomendas no ano passado, quando fechou as fábricas para evitar contágios na pandemia. "A demanda por semicondutores já vinha crescendo porque os automóveis estão cada vez mais tecnológicos, mas o setor é muito dependente de poucos fornecedores", diz.

Segundo as empresas, a eletrônica embarcada representa 40% dos custos de produção de um veículo hoje, o dobro de 20 anos atrás. A projeção é de chegar a 50% em uma década. Um carro elétrico, por exemplo, usa o dobro de semicondutores do que um a combustão. O veículo totalmente autônomo usará de oito a dez vezes mais.

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