Logo da Rhodia: fio absorve o calor do corpo e transmite raios infravermelhos de volta para a pele, promovendo uma estimulação que melhora o aspecto da pele, diz a Rhodia (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2013 às 16h17.
São Paulo - Depois dos alimentos, chegou a vez das roupas funcionais. Os praticantes de esportes já encontram ofertas no varejo de roupas tecnológicas, que melhoram a performance e aliviam a fadiga muscular. O novo desafio da indústria têxtil é levar a ciência para o dia a dia. A Rhodia deu um passo além nesta trajetória na semana passada.
A companhia se aliou ao estilista brasileiro Alexandre Herchcovitch para lançar um jeans que melhora a circulação e combate a celulite, feito com um fio desenvolvido pela Rhodia no Brasil.
O jeans contra celulite nasceu de uma nova aplicação do fio Emana, uma tecnologia que está em desenvolvimento na Rhodia no Brasil desde 2006 e já recebeu US$ 7 milhões em investimentos. O produto foi lançado globalmente em 2011, mas até então só estava disponível em roupas esportivas e lingeries.
"Queríamos levar a tecnologia para o dia a dia das pessoas. E a melhor solução é o jeans", disse o diretor global da unidade de negócios de fios têxteis da Rhodia, Renato Boaventura.
O futuro, segundo ele, passa por roupas que tragam bem-estar e talvez até prevenção e combate a doenças, como varizes e trombose. Temos uma equipe de 30 pessoas para pensar em como o tecido pode interagir com o corpo humano e trazer benefícios, diz o executivo da Rhodia, que tem um centro de pesquisa em Paulínia (SP).
A empresa entrou na corrida pela inovação no ramo têxtil nos anos 50, com a produção da poliamida, o nylon, na época considerada uma fibra nobre e recém-descoberta. A Rhodia é uma indústria química do grupo Solvay, que faturou 124 bilhões em 2012, e oferece matérias-primas para diversas indústrias, como alimentos, automóveis, cigarros, cosméticos e roupas.
A divisão têxtil só existe no Brasil. O grupo saiu do ramo no restante do mundo há cerca de dez anos e atende o mercado global a partir do Brasil. É uma tecnologia brasileira. Na Europa e na China os produtos são feitos em fábricas terceirizadas, disse Boaventura.
Depois do nylon, a bola da vez da indústria têxtil nos anos 90 foi microfibra de poliamida, com a promessa de dar mais conforto e respirabilidade aos têxteis. E, na sequência vieram fios com proteção UV e, agora, o fio contra celulite.
O Emana absorve o calor do corpo e transmite raios infravermelhos de volta para a pele, promovendo uma estimulação que melhora o aspecto da pele, diz a Rhodia. Para dar resultado, o produto precisa ser usado por 30 dias consecutivos e por seis horas diárias.
Com o lançamento do fio no segmento de moda, a Rhodia pretende dobrar as vendas do Emana em 2014. Neste ano, o fio deve somar US$ 10 milhões em vendas.
Os primeiros jeans com Emana -uma calça e uma jaqueta- foram apresentadas na semana passada por Alexandre Herchcovitch no evento Be Brasil, promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), em Nova York.
O lançamento no mercado brasileiro será no próximo Fashion Rio, em novembro, no desfile da coleção de Herchcovitch, que terá cerca de 10 peças com Emana.
A brasileira está disposta a comprar um jeans que melhora a celulite. Ele traz um benefício para um problema recorrente da mulher sem que ela precise fazer nada, diz o estilista. O executivo da Rhodia estima que o custo de um fio Emana é entre 30% e 40% maior do que uma matéria-prima comum.
Herchcovitch, no entanto, calcula que o produto custará no máximo 15% mais do que um jeans feito sem Emana -os preços não estão fechados ainda. "Eu quero que seja um produto democrático. (...) Celulite não tem classe social", diz Herchcovitch.
Para o diretor da consultoria Mixxer, Eugenio Foganholo, especialista em varejo e bens de consumo, os produtos com inovação tecnológica ainda são um nicho no varejo de moda brasileiro. Nem todo consumidor está disposto a pagar por isso.
O volume de vendas não é representativo, disse. Para as grifes e para as varejistas, a inclusão de produtos no portfólio vale para posicionar suas marcas como inovadoras no mercado, disse Foganholo.
As pesquisas da Rhodia, no entanto, apontam que não adianta levar o benefício tecnológico em um produto sem design de qualidade. É preciso aliar a ciência à moda, diz Boaventura. Depois do lançamento de Herchcovitch, a Rhodia começa a oferecer o fio Emana para outras grifes.
Competição
A inovação é essencial para a sobrevivência da indústria têxtil brasileira, explica o gerente de tecnologia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Sylvio Napoli. O produto nacional não tem isonomia nas condições de produção em relação ao importado, que chega ao País mais barato, disse Napoli.
A única saída da indústria é lançar produtos e com valor agregado para competir em nichos e não em commodities. Segundo ele, o Brasil já aplica nanotecnologia na indústria têxtil e existem diversas pesquisas em curso que devem resultar em produtos inovadores nas prateleiras nos próximos anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.