Tripulação trabalha em uma plataforma da Petrobras: com a produção dos campos mais antigos em queda, atrasos com novos campos poderiam trazer risco a meta da estatal (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2014 às 18h55.
Rio de Janeiro - A Petrobras sofreu outro revés em seu esforço para aumentar a produção de petróleo no mês passado quando a companhia italiana Saipem, contratada pela estatal, deixou cair um tubo de aço de 2,3 quilômetros no Oceano Atlântico.
Em 16 de março, o equipamento utilizado para juntar o tubo à plataforma de petróleo flutuante falhou, e os tubos de liga de metal, de alta qualidade, despencaram cerca de 1.800 metros para o fundo do mar, ficando destruídos, com perda total.
O tubo em si valia cerca de 2 milhões de dólares, mas o custo do acidente será muito maior, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento direto da situação.
Por retardar os esforços para expandir Roncador, o segundo maior campo de petróleo do Brasil, em pelo menos um mês, a Petrobras vai perder dezenas de milhões de dólares em produção de petróleo, salários e locações de equipamentos quando menos pode se permitir um gasto como esse.
"A série de problemas de gestão e de engenharia que a empresa enfrenta é espantosa", disse o professor e pesquisador do Instituto Brasileiro do Petróleo na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Cleveland Jones.
"Esse pode ter sido um acidente infeliz, mas ocorre quando os problemas organizacionais da empresa estão se tornando mais evidentes." A produção de petróleo e gás da Petrobras em fevereiro voltou a cair em relação ao ano anterior --há mais de cinco anos a extração da estatal está estagnada.
Essa situação está consumindo a receita da Petrobras e contribuindo para elevar sua dívida. Apesar de ter um plano de investimento de 221 bilhões de dólares em cinco anos, a empresa tem tido pouco sucesso em fazer com que as novas descobertas marítimas gigantes resultem em aumento de produção.
A Petrobras informou em fevereiro que planeja aumentar a produção no Brasil entre 6,5 e 8,5 por cento, para até 2,07 milhões de barris por dia (bpd), em 2014. Isso seria o seu primeiro ganho anual desde 2011.
Com a produção dos campos mais antigos em queda, os atrasos com novos campos poderiam trazer risco a essa meta. Entre as grandes petroleiras, a empresa já é a mais endividada e menos rentável do mundo.
A Petrobras vai ter mais dificuldade para financiar seus planos de investimento e pagar os retornos aos investidores, sem um aumento da produção.
O governo brasileiro, principal acionista da empresa, também precisa da produção para ajudar a custear um grande aumento de investimento em programas de educação e de saúde.
O acidente no poço de Roncador vai retardar os trabalho até o final deste mês, no mínimo, enquanto a Petrobras e a Saipem elaboram um plano para remediar a situação, disseram as fontes sob condição de anonimato.
A Petrobras, em resposta a perguntas da Reuters, disse que o acidente não vai afetar os esforços para aumentar a produção no campo de Roncador.
A nova tubulação, do estoque atual da Petrobras, será entregue à Saipem, acrescentou a empresa. A Saipem não quis comentar.
De outro modo, levaria cerca de seis meses para a encomenda e fabricação de uma peça substituta. O tubo perdido era para ligar a plataforma a um oleoduto no fundo do mar.
Águas Turbulentas
A operação da plataforma P-55 "semi-submersível" em Roncador, projetada para produzir 180 mil bpd em um campo que produziu 255 mil barris por dia em fevereiro, já registrava atrasos de meses quando o tubo foi perdido.
A Petrobras esperava originalmente começar a produção no ano passado.
Se fosse Roncador um caso isolado, a Petrobras provavelmente seria capaz de lidar mais facilmente com a situação. Mas as plataformas P-58 e P-61 nos campos de Parque das Baleias e Papa Terra também estão atrasadas.
No total, dois dos sete sistemas de produção previstos para começar no ano passado ainda estão desligados.
A P-58 começou a produção em 17 de março. A P-62, que chegou a Roncador em janeiro, sofreu um incêndio em um gerador de eletricidade. O Ministério do Trabalho tem barrado a unidade de produção de petróleo até que as questões de segurança sejam resolvidas.
O gerador fornecia energia enquanto os trabalhadores instalavam sistemas elétricos, âncora e outros itens essenciais no mar.
Esses sistemas não estavam completos quando a unidade foi lançada com grande alarde em estaleiro brasileiro em 17 de dezembro pela presidente Dilma Rousseff, que está ansiosa para mostrar as proezas de engenharia da Petrobras em um ano eleitoral.
"Todas as grandes empresas têm seus problemas, mas a Petrobras tornou-se uma criatura de políticos", disse John Forman, por muito tempo um executivo da indústria brasileira de petróleo e mineração e geólogo da consultoria J. Forman.
Enquanto a Petrobras conseguiu completar um número recorde de embarcações de produção nos últimos meses, vários têm ido ao mar sem os sistemas "submarinos" que controlam o fluxo do poço e canalizam o óleo para as plataformas, um problema sério em um setor no qual o custo de locação de plataformas pode custar meio milhão de dólares por dia ou mais.
"A ironia é que esses custosos erros são o resultado de tentar reduzir os custos", disse um alto funcionário da indústria com conhecimento direto dos contratos da Petrobras. "Eles forçaram todos a licitar seus serviços a preços mais baixos, e quando os navios finalmente chegaram eles não tinham nada para conectá-los." (Reportagem adicional de Stephen Jewkes em Milão)