O ex-chefe do RBS vai perder seu título de nobreza (Carl Court/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2013 às 13h55.
Londres - A decisão de retirar do ex-chefe do RBS o título de cavaleiro abre um novo precedente na "surra dos banqueiros" provocada pela crise financeira, e deixou muitos críticos se perguntando nesta quarta-feira se a punição foi longe demais.
Fred Goodwin, apelidado de "Fred the Shred", por seu estilo de gestão brutal, tornou-se o bicho-papão da crise depois que o governo precisou resgatar o Royal Bank of Scotland, em 2008, a um custo de £ 45,5 bilhões (71,5 bilhões de dólares, 54,8 bilhões de euros).
Com a Grã-Bretanha à beira da recessão mais uma vez, a atenção se voltou para o comportamento de banqueiros culpados pela crise financeira, principalmente no RBS, cujos 82% ainda são de propriedade dos contribuintes.
Em meio aos crescentes pedidos para que Goodwin fosse punido ainda mais, o governo anunciou na terça-feira que ele deveria ser despojado do título de cavaleiro, concedido pela Rainha Elizabeth II por seus serviços bancários em 2004.
"Fred Goodwin levou o sistema de honras ao descrédito", disse um comunicado. "A escala e a gravidade do impacto de suas ações como CEO do RBS fizeram deste um caso excepcional".
A decisão coloca Goodwin em um seleto clube que também inclui o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, o espião soviético Anthony Blunt, e o ditador comunista romeno Nicolae Ceausescu, que perdeu sua honra um dia antes de ser executado.
O primeiro-ministro David Cameron saudou a ação - que retira o título de "Sir" de Goodwin - como a "decisão certa". O líder da oposição trabalhista Ed Miliband disse que era "apenas o começo da mudança que precisamos" em salas de reuniões.
Mas muitos comentaristas condenaram a decisão, que veio no final de uma semana na qual a pressão política também forçou o atual chefe do RBS, Stephen Hester, a renunciar ao seu bônus anual de £ 936 mil (1,5 milhão de dólares, 1,15 milhão de euros).
"Há algo vergonhoso sobre o governo direcionar seu fogo a Fred Goodwin sozinho", afirmou o ex-ministro das Finanças trabalhista Alistair Darling no The Times, questionando as honras concedidas a outros banqueiros.
"Se a política não é baseada em princípios, mas em indivíduos, o governo vai continuar sendo soprado pelo vento", escreveu.
O principal grupo de lobby da Grã-Bretanha, o CBI, ressaltou que a anulação foi "excepcional, mas não surpreende, diante de todas as circunstâncias".
Mas o ex-chefe do CBI Digby Jones disse que "Fred Goodwin não foi acusado, nem teve nada examinado em tribunal, nem foi considerado culpado de nada".
Até mesmo o maior sindicato da Grã-Bretanha, Unite, estava em dúvidas.
Um porta-voz disse que a decisão foi um "gesto simbólico" que seria bem recebido por todos aqueles que perderam seus empregos durante a gestão de Goodwin, mas também "não faria nada para levar a segurança trabalhista aos funcionários do setor bancário, que continuam a trabalhar em uma cultura de excesso e cobiça".
Já o jornal The Times, que publicou uma charge com a rainha cortando a cabeça de Goodwin com a espada cerimonial utilizada para conceder o título de cavaleiro, disse que a decisão suscitou algumas perguntas incômodas sobre o que a Grã-Bretanha se tornou.
"É a seleção de um indivíduo para a humilhação pública, e a mudança das regras apenas para ele com o objetivo de ter certeza de que ele será devidamente humilhado", ressaltou.