André Esteves, do BTG Pactual: para o executivo, a consolidação do ambiente de juro básico menor fará o BTG Pactual se sobressair em relação aos grandes bancos (Gustavo Kahil/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2012 às 19h45.
São Paulo - Os resultados trimestrais do BTG Pactual acima das expectativas do mercado estão desfazendo o "mito" de que o modelo de negócios do maior banco de investimentos independente da América Latina é essencialmente instável, disse o presidente-executivo do grupo, André Esteves, em entrevista à Reuters.
Segundo o executivo, o desempenho sólido de todas as linhas de negócio estão permitindo que o grupo supere os efeitos de um cenário de fraca atividade no mercado de capitais e nos empréstimos bancários para empresas. E isso se explica pelo modelo que estimula a meritocracia e que exige dos principais sócios um compromisso total com o negócio.
"A cada trimestre, o mito de que o modelo do BTG Pactual é intrinsecamente volátil está sendo derrubado", afirmou Esteves nesta terça-feira. "Esta é uma falsa percepção sobre nosso modelo de negócios".
Para o executivo, a consolidação do ambiente de juro básico menor fará o BTG Pactual se sobressair em relação aos grandes bancos comerciais do país. Por serem mais dependentes da atividade creditícia, os bancos comerciais devem experimentar uma queda nos níveis de rentabilidade, da faixa de 20 a 25 por cento dos últimos anos, para uma realidade permanente de 15 a 18 por cento.
Já o BTG deve ser até beneficiado pelo novo cenário, porque é mais ligado ao mercado de capitais, que tende a crescer muito no país, fortalecido justamente pelo cenário de taxa básica de juro menor. Isso deve, segundo ele, consolidar o BTG como o maior banco de investimentos independente do mundo.
"Vai acontecer uma revolução no mercado de capitais brasileiro nos próximos cinco anos", afirmou, salientando sua expectativa de forte expansão de segmentos nos quais o BTG tem forte presença, como private equity, assessoria financeira para emissões de dívida, ofertas de ações e gestão de recursos e de fortunas.
Um surpreendente salto nas receitas com assessoria financeira e o controle rígido de despesas ajudaram o BTG Pactual a mais que triplicar o lucro do terceiro trimestre na comparação anual, superando as expectativas do mercado.
O grupo, que fez sua estreia na Bovespa em abril, tem um braço de participações que tem fatias em empresas dos setores imobiliário, hoteleiro, automobilístico e redes varejistas, entre outros.
Cenário para investimentos
Para Esteves , a queda da taxa básica para o nível mais baixo da história do país, a 7,25 por cento ao ano, é "absolutamente sustentável", dado que o Brasil consolidou sua estabilidade econômica e tem situação fiscal mais confortável. Além disso, o juro praticado globalmente caiu dramaticamente, em razão da sucessão de crises internacionais e da atividade econômica frágil.
A Selic poderia cair ainda mais se o governo entender que a expansão monetária ainda não foi suficiente para estimular a economia mas, em condições normais, o juro nominal no país tenderia a se estabilizar na faixa "neutra" de 8 a 9 por cento ao ano, avaliou.
Para o empresário, o Brasil oferece oportunidades de investimento atrativas nos setores de óleo e gás, infraestrutura e em agronegócio --ele previu expansão da área de negociação de commodities do BTG--, entre outros, além de atividades relacionadas à expansão da classe média no país.
Nesse sentido, disse, o BTG Pactual tem um modelo de negócios muito útil para o Brasil, que carece de grandes investimentos para fortalecer o atual estágio do capitalismo.
"A sociedade em geral e o espectro político no Brasil adoram esse modelo, querem um banco de investimentos que realmente investe", disse. "É o contrário de Wall Street".
Pedras no caminho
Os principais empecilhos do país, segundo o empresário, são a infraestrutura deficiente, a carga de impostos muito superior à média de países em desenvolvimento e os baixos investimentos em educação.
Somados a esses, Esteves disse enxergar um quarto problema se formando: a sensação de intervencionismo estatal na economia. Segundo ele, essa preocupação é "exagerada", mas o governo tem que agir rápido para evitar que essa sensação implique queda dos investimentos no país.
"O governo tem que mitigar isso rapidamente."
Fora do Brasil, a companhia tem na América Latina seu principal destino para expansão, com destaque para Colômbia, Peru e Chile, e está fortalecendo os escritórios em Nova York e Londres, onde trabalham equipes de 100 pessoas, para atender o mercado latino-americano.
A instituição também prevê fortalecer suas atividades no México e entrar no continente africano, e pode anunciar em breve uma aquisição na Espanha.
O empresário disse ainda que não há nenhum negócio "transformacional", na forma de fusão ou aquisição, que possa alterar a atual estrutura do banco de investimentos no curto e médio prazos.