Renault: entre os dois novos carros elétricos prometidos para o Brasil, o primeiro será o novo Zoe, que chega no segundo semestre deste ano (Renault/Divulgação)
Reuters
Publicado em 1 de março de 2021 às 13h19.
Última atualização em 3 de março de 2021 às 10h21.
A Renault anunciou nesta segunda-feira um investimento de curto prazo no Brasil de 1,1 bilhão de reais até o primeiro semestre de 2022. Os recurso serão usados no complexo fabril da montadora no Paraná.
O anúncio foi feito na segunda-feira, 1, pelo presidente da Renault do Brasil, Ricardo Gondo, ao governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Jr.
O investimento da marca francesa no Brasil vem na contramão das saídas da Ford e Audi no inicio desse ano. Os recursos, mesmo em curto prazo, sinalizam que a Renault quer aproveitar o espaço deixado pelas montadores que saíram do país para crescer.
Os recursos serão aplicados em renovação de produtos e no lançamento de um novo motor turbo no mercado brasileiro, que será importado da Espanha. A companhia afirmou que vai fazer cinco lançamentos de produtos até meados de 2022, incluindo dois veículos elétricos no país.
Entre os dois novos carros elétricos prometidos, o primeiro será o novo Zoe, que chega no segundo semestre deste ano. O segundo ainda não foi revelado.
"O mercado brasileiro continua sendo estratégico para o Grupo Renault", afirmou em comunicado à imprensa Luiz Fernando Pedrucci, vice-presidente sênior da Renault para a América Latina.
O investimento foi anunciado após acordo coletivo de trabalho com sindicato de metalúrgicos de Curitiba válido até 2024, "que trouxe previsibilidade e flexibilidade, fundamentais para a aprovação deste ciclo de investimentos", afirmou a companhia.
Entre os vários pontos do acordo estão a substituição de reajustes salariais por abonos fixos e o encerramento do terceiro turno de produção na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná, com o desligamento de 747 funcionários – a maior parte já saiu por meio da adesão ao plano de demissão voluntária e outra parte permanece com suspensão temporária dos contratos de trabalho que deve ser encerrado em breve.
O complexo do grupo em São José dos Pinhais (PR), que abriga fábricas de automóveis e de motores, tem 6,4 mil funcionários diretos operando em dois turnos e, no momento, não precisa da mão de obra que está afastada.
A montadora informou que continuará negociando com a matriz aportes para os anos seguintes, mas que um novo ciclo de investimentos dependerá da melhoria da competitividade do país.
Fatores como a alta e complexa carga tributária, custos logísticos, de fabricação e trabalhista colocam o Brasil na linha de espera das grandes montadoras. "Dentro do contexto global, essas questões comprometem a viabilização e a competitividade para se fabricar no Brasil", afirmou Gondo.
Segundo a Fenabrave, a montadora que também fornece componentes para a Nissan, teve como modelo mais vendido no Brasil em 2020 o Renault Kwid, com 49.475 unidades vendidas.
A cautela da fabricante francesa que faz parte da aliança Renault/Nissan/Mitsubishi está em linha com o plano global anunciado pela empresa no início do ano, de focar suas operações em produtos mais rentáveis, deixando de lado carros mais básicos sem se preocupar com eventual queda em participação de mercado.
Gondo afirma que a empresa já seguiu essa direção no ano passado o que a levou a cair de uma participação de 9% do mercado brasileiro em 2019, após dez anos de crescimento contínuo, para 6,7%. A empresa também deixou de atuar em canais menos rentáveis como a venda direta para pessoas com deficiência física (PCD), que estabelece limite de R$ 70 mil aos veículos para isenção de impostos. Ao adaptar modelos a esse preços, diz Gondo, a rentabilidade do produto é reduzida.
Em 2020 a marca vendeu 132 mil veículos, ficando em sétimo lugar no ranking nacional de marcas. No ano anterior, ela ocupou a quarta posição, como 239 mil unidades comercializadas.
Gondo informa que a fábrica do Paraná teve a produção paralisada por alguns dias no mês passado em razão de dificuldades de logística para a chegada de componentes. Segundo ele, tem ocorrido atrasos de navios e, quando chegam ao porto já perderam o local para atracar e ficam esperando dias para o desembarque.
A falta de semicondutores é global e o presidente mundial da Renault, Luca De Meo, acredita que o problema deve ser reduzido no segundo semestre mas, afirmou que há riscos de 100 mil veículos da marca deixarem de ser produzidos em todos os países onde tem fábricas.
No Brasil, a fábrica continua funcionando sem problemas, informa Gondo, "mas claramente uma hora teremos problemas", sem citar prazos. Aço é outro produto que preocupa o setor.
Ele prevê um mercado total brasileiro de 2,3 milhões de veículos 15% acima do ano passado. Em razão do aumento de custos de matéria-prima e dólar, os preços do modelos da Renault subiram em média 16,5% no ano passado, um pouco acima da média total do mercado, que foi de 16% a 16,2%. Neste ano, já ocorreram reajustes de 4%.