Economia também pode chegar aos varejistas, com redução de devoluções de produtos, segundo a GfK (Emilija Manevska/Getty Images)
Karina Souza
Publicado em 29 de outubro de 2021 às 15h35.
Última atualização em 29 de outubro de 2021 às 17h04.
A Black Friday está chegando e, com ela, vem a mobilização de fabricantes e de lojas para atender à demanda do consumidor. No último ano, só no comércio eletrônico, a data movimentou 7,72 bilhões de reais, crescimento de 27,7% em relação a 2019, segundo dados da Neotrust|Compre&Confie. Segundo a GfK, que considera o varejo on e offline, a data movimentou cerca de R$ 23 bilhões. E previsões da consultoria multinacional apontam que 79% dos consumidores querem gastar na data neste ano -- o que pode repetir o sucesso. Mas, mesmo com motivos de sobra para comemorar, a consultoria acredita que há muita ineficiência em todo esse processo, especialmente na relação indústria-varejo. Não só na Black Friday, mas no ano todo. Para tentar corrigir esse problema, a empresa traz ao mercado uma nova plataforma, chamada gfknewron.
Em linhas gerais, trata-se de uma plataforma que funciona no modelo Software-as-a-service, que coleta dados de venda de varejistas e fornece essas informações à indústria. Até aí, nada de novo sob o sol. O “pulo do gato” da multinacional está em cruzar informações de diferentes lojas e fornecer aos fabricantes não só os dados das próprias vendas, mas a possibilidade de estimar o próprio impacto em relação aos concorrentes.
“Por exemplo: se uma fabricante de geladeiras quer aumentar preços do próprio produto, geralmente ela conseguiria ver apenas o impacto da própria linha de produtos no varejo. Com a nossa nova ferramenta, ela consegue perceber o impacto no setor como um todo, entendendo quanto de participação de mercado ela pode ganhar ou perder em relação à concorrência, em cada região do país”, diz Felipe Mendes, presidente da GfK América Latina, à EXAME.
Para garantir isso, a empresa se vale de três pilares: a confiança em atuar no varejo há mais de 50 anos de forma global, o fato de cobrir cerca de 90% das vendas realizadas no Brasil (compreendendo tanto on-line quanto offline) e o investimento em tecnologia para criar um algoritmo capaz de simular cenários para a indústria compreendendo pelo menos uma dezena de variáveis que podem ser customizadas de acordo com a necessidade de cada fabricante.
E, para ajudar a convencê-los do benefício que os dados podem trazer, a consultoria fez uma estimativa a partir dos dados coletados. “Hoje, 180 bilhões de reais são monitorados pela GfK, conseguimos monitorar todas as categorias de produtos vendidas no Brasil. A partir de uma análise de todo esse processo, concluímos que muitas partes podem ser aperfeiçoadas a partir dos dados. Por exemplo, se as fabricantes desperdiçassem 1% menos produtos, teriam uma economia de R$ 460 milhões ao longo de um ano”, diz Felipe. A conta também chega ao varejo: se as varejistas dessem 1% menos de desconto durante o ano, elas gerariam 1,8 bilhão de reais a mais em faturamento.
Por enquanto, a GfK tem quatro clientes utilizando a ferramenta no Brasil (entre os 59 que a companhia atende com análises de mercado). Para 2022, a meta é ter pelo menos um terço desse total presente na gfknewron. Além disso, a companhia projeta uma versão do software específica para atender às varejistas, contribuindo também para que consigam ter acesso aos mesmos algoritmos e conseguir prever precificação e de descarte com maior assertividade.
Em um mundo com uma necessidade cada vez maior de dados (e menos de uma análise de mercado clássica), a GfK quer mostrar ao setor que está pronta para fazer uma transição completa para o mundo digital. Fornecendo respostas como “quem comprou o que e a que preço?” e “por que esse produto foi comprado?” a ideia da companhia é crescer, cada vez mais, no meio digital.
Dá para dizer que é um passo a mais no compromisso firmado desde 2017, época em que o fundo KKR, conhecido pelo investimento em companhias de mídia, investiu na GfK para tornar a companhia uma líder de mercado com DNA forte em tecnologia. Indiretamente, também coloca a companhia em uma posição de maior competitividade contra a concorrência, como Nielsen, Kantar e Ipsos (ainda que cada uma tenha um nicho bastante definido de atuação -- e a GfK tenha certa distância competitiva na comparação entre países do mercado de bens duráveis). De todo modo, não dá para ficar parado -- e a consultoria entendeu isso.
"Queremos democratizar o acesso a dados relevantes e nosso principal intuito é o de que empresas de todos os portes possam adquirir esse serviço. Acreditamos muito nele e vamos continuar investindo cada vez mais em tecnologia. Nossa expectativa é a de que a ferramenta seja capaz de responder pelo crescimento de dois dígitos em 2022 e 2023 no Brasil", diz Felipe.