Quarto no hotel Selina em San Jose, na Costa Rica (Selina/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 25 de julho de 2018 às 07h00.
Última atualização em 25 de julho de 2018 às 07h00.
São Paulo – Uma mistura de hotel com espaço de coworking, lojas, restaurantes e espaços culturais. É assim que se define o modelo de negócio do Selina, grupo panamenho que chega ao Brasil esse ano com planos ambiciosos e milionários). “Nosso modelo de misturar tudo é bem diferente. É um conceito holístico”, define Steven O´hayon, vice-presidente de expansão global da rede.
A expectativa é investir 60 milhões de dólares por aqui nos próximos cinco anos, com possibilidade de abrir até 40 hotéis. Os primeiros, que saem ainda em 2018, ficarão em Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo. Sendo que os dois primeiros já têm local definido: Praia Mole, em Floripa, e Copacabana, no Rio.
Diferente das redes de hotéis tradicionais, o Grupo Selina baseia seu negócio no aluguel de estruturas já prontas, o que barateia a operação. Para abrir uma unidade, o investimento médio gira em torno de 4 milhões de dólares.
“Procuramos espaços físicos, em geral hotéis antigos, e alugamos por 20 ou 30 anos. Há muita oferta de espaços. E com muito pouco fazemos a remodelação do lugar, com móveis e decoração. Nosso consumidor quer algo simples”, afirma O´hayon.
Outra diferença está no tipo de hotel que o Selina pretende ser. “Não nos atemos à classificação de estrelas como conceito de hotel”, afirma o executivo. A ideia é que cada unidade tenha quartos com custo de 12 a 300 dólares, e com isso possa receber pessoas de diversas classes sociais.
O público alvo também é mais amplo que o de turistas em busca de uma hospedagem temporária para descanso. O Selina baseia seu negócio nos nômades digitais: pessoas que trabalham de forma remota e por isso podem estar em qualquer lugar, inclusive morar por alguns meses num Selina.
É por isso que cada hotel tem também um bom espaço de coworking, que pode ser usado tanto pelos hóspedes quanto pela comunidade local. Além disso, uma unidade Selina pode ser equipada com lojas, restaurantes, bares ou espaços culturais, de acordo com a demanda de cada região.
“Funcionamos como uma plataforma. Pegamos o espaço físico e perguntamos às pessoas dali o que elas querem. Aulas de espanhol? Restaurante? Loja de surf? Nosso produto é procurar um espaço físico e dar para a comunidade local operar”, afirma O´hayon.
Também é na comunidade que o grupo procura artistas e designers para deixarem o Selina com uma cara moderna e local ao mesmo tempo, através de murais e outras obras para decorar o espaço.
O modelo diferentão tem dado resultado. No mercado desde 2014, o Selina cresce rápido tem hoje 24 unidades em países da América Latina como Costa Rica, Panamá e México. Para se ter uma ideia do ritmo de crescimento, em 2016 eram apenas três hotéis.
A expectativa é terminar 2018 com até 40 propriedades e um faturamento de 120 milhões de dólares (algo em torno de 450 milhões de reais na cotação atual). O modelo de aluguel permite essa expansão rápida. Além do Brasil, o grupo pretende expandir para Europa e Estados Unidos em breve.
Desde seu início, o negócio já investiu cerca de 50 milhões de dólares em equipe, infraestrutura e tecnologia. Recentemente, recebeu um aporte série B de 95 milhões de dólares, liderado pelo Grupo Abraaj (de Dubai) e participação de outros investidores, dentre eles Adam Neumann, fundador do WeWork. Agora, o grupo busca um parceiro investidor no Brasil.
Atualmente, o público do Selina é formado por pessoas na faixa dos 30 anos, em geral solteiros e sem filhos. Mas essas pessoas um dia vão envelhecer. Fica a dúvida: será que elas vão preferir um resort quando tiverem filhos?
O´hayon afirma que esse não é um problema. “A gente fala a língua de uma geração inteira. Idade é importante, mas o movimento que acontece no mundo é global. É um tipo de pensamento. Se eu quero viver minha vida assim, mesmo que eu tenha filhos, quero um lugar que tenha a ver com os meus valores”, defende o executivo.
A estimativa do executivo é de que nos próximos anos o número de nômades digitais no mundo chegue a 1 bilhão. “O mundo do trabalho está mudando, o mundo da educação também tende a mudar”, prevê. Nada mais justo que o mundo dos hotéis mudar também. O duro vai ser quando todas essas pessoas sentirem saudades de casa.