Futebol: Os dados apontam que o crescimento de faturamento ocorreu principalmente pelo recebimento tardio dos direitos de TV em 2021 de valores referentes às competições de 2020 (Alexandre Loureiro/Getty Images)
André Martins
Publicado em 3 de maio de 2022 às 08h53.
Última atualização em 3 de maio de 2022 às 19h37.
Após um 2020 cheio de dificuldades por conta da pandemia de covid-19, os clubes do futebol brasileiro tiveram um 2021 com avanço histórico nas finanças.
Segundo levantamento da consultoria especializada em marketing esportivo Sports Value, obtido com exclusividade pela EXAME, 20 clubes atingiram em 2021 um faturamento conjunto de R$ 6,9 bilhões ante R$ 5,1 bilhões de 2020. O resultado representa um crescimento de 37% na comparação anual. Quando desconsideramos o impacto da inflação, o aumento real foi de 18%. "Esses números são os melhores possíveis sem estádio", afirma Amir Somoggi, da Sports Value.
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Após apresentaram déficit de mais de R$ 1 bilhão em 2020, os 20 clubes tiveram superávits somados de mais de R$ 430 milhões, uma alta de 141%. Apenas Athletico-PR, Botafogo e Vasco tiveram redução nas receitas de 2020 para 2021.
Em comparação com o período pré-pandemia, o balanço de 2021 também é positivo em 13%. Em 2019, os 20 clubes geraram R$ 6,1 bilhões em valores atualizados pelo IPCA no período (R$ 5,1 bilhões em valores nominais).
Os dados apontam que o crescimento de faturamento ocorreu principalmente pelo recebimento tardio dos direitos de TV em 2021 de valores referentes às competições de 2020. Esse descasamento de fluxo prejudicou as finanças dos times em 2020, porém, resultou em superávits em 2021.
O sucesso esportivo de clubes brasileiros em competições continentais também explica os resultados. Na última temporada, as duas competições sul-americanas tiveram 4 times brasileiros nas finais. Na Copa Libertadores com Flamengo e Palmeiras, e na Copa Sul-Americana com Athletico-PR e Red Bull Bragantino. A premiação em dólar ajudou a turbinar as receitas.
Nos últimos anos dois times tem se destacado em campo -- e fora dele. Com elencos recheados de grandes jogadores, Palmeiras e Flamengo foram campeões brasileiros por duas vezes nos últimos seis anos. O clube carioca venceu a Libertadores em 2019 e o Palmeiras é o atual bicampeão da competição.
O domínio dos clubes no futebol brasileiro e sul-americano tem como explicação os modelos de gestão do clube carioca e paulista. E esse modelo resultou em números expressivos nos balanços de 2021, bem a frente dos demais clubes.
Flamengo com R$ 1,08 bilhão, um recorde para um time brasileiro, e Palmeiras com R$ 910 milhões dominaram o cenário econômico do futebol no Brasil. Eles faturaram cerca de duas vezes mais que os clubes do pelotão de baixo, composto por Corinthians, Atlético-MG, Grêmio, São Paulo e Santos.
O Palmeiras, campeão da Libertadores, teve o maior avanço na receita: R$ 379 milhões de reais a mais que em 2020. Ganhou o equivalente a “um Internacional” no balanço – o clube gaúcho faturou R$ 382 milhões em 2021. O Flamengo, por sua vez, ampliou em R$ 347 milhões o balanço – ficou “um Fluminense” maior no ano.
O sucesso cria um ciclo virtuoso para a dupla, com premiações fomentando investimentos que levam a mais premiações. É o “modelo espanhol”, como explica Somoggi, relembrando o sucesso concentrado, por lá, em Real Madrid e Barcelona.
Ao olhar no detalhe nos números, foi possível identificar que os clubes souberam se reinventar em um ano que as receitas de bilheteria ainda foram prejudicadas, já que a liberação de público nos estádios ocorreu apenas nos últimos meses de 2021. O Flamengo, por exemplo, projetou perda acima de R$ 100 milhões em receitas de bilheteria.
Os patrocínios foram as receitas que mais cresceram em 2021 depois dos direitos de transmissão. Foram gerados mais de R$ 830 milhões para os clubes. "Os números mostram que a pandemia trouxe novas receitas de patrocínio, como tokens. Isso é muito positivo", explica Amir.
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Segundo Amir Somoggi, outro ponto positivo dos balanços de 2021 foi a redução do endividamento dos clubes, após atingirem valores recordes em 2020, no auge da pandemia.
Em 2020 as dívidas passaram dos R$ 10,3 bi pela primeira vez. Em valores atualizados pelo IPCA equivalem a R$ 11,8 bi atualmente. Em 2021 as dívidas dos 20 times somados foram e R$ 9,8 bi, redução de 5% na comparação com os valores nominais de 2020 e 17% quando considerada a inflação.
Para 2022, o desafio está posto: replicar o bom resultado do ano passado sem a receita “turbinada” da televisão – mas com os estádios a plena capacidade.
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