Gabriela Schwan, da rede de hotéis Swan: de estagiária a CEO, ela quer levar conceito de experiência para a hotelaria do país (Swan/Divulgação)
A hotelaria brasileira carece de figuras femininas na liderança. Ainda que representem boa parte dos trabalhadores do setor de turismo no Brasil, a presença delas em cargos de influência ainda é minoritária. Dados da Receita Federal indicam que apenas 35% de todos os sócios de empresas de turismo no país são mulheres.
É um cenário que fica ainda mais evidente ao olhar as nove empresas do setor listadas na bolsa de valores. Nessas companhias, a participação feminina nos conselhos de administração é inferior a 11%, e as mulheres não são maioria em nenhum conselho, segundo um estudo elaborado pela Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo.
Gabriela Schwan é um dos poucos exemplos que fogem à curva. Presidente da rede gaúcha de hotéis Swan no Brasil e Portugal, ela é hoje uma das únicas duas mulheres CEOs de hotéis no Brasil — a outra é a fundadora e presidente da rede Blue Tree, Chieko Aoki. “É estranho pensar sobre o fato das mulheres serem a base da hotelaria no Brasil, mas poucas de fato chegam ao topo”, diz.
Na empresa — uma rede essencialmente familiar — há 22 anos, e em uma trajetória de ascensão que passou por posições de estágio e trainee até gerência e diretoria, ela assumiu em 2020 o comando para reestruturar uma empresa fortemente castigada pelas restrições causadas pela pandemia de covid-19.
Entre as motivações para a chegada da executiva à liderança estavam sua experiência com certificações e processos que atestam a qualidade dos hotéis, uma exigência inegociável para empresas que precisam prestar contas aos acionistas. “A Swan é uma rede familiar, mas que também tem parte dedicada aos investidores. É essencial ter essa transparência da capacidade de garantir a qualidade, independente do momento econômico”, diz a empresária.
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A segunda motivação está na paixão da executiva pela moda e design, dois pilares centrais para o futuro da rede em um momento em que o turismo aproveita o ânimo de viajantes para priorizar experiência e conforto ao invés da economia.
De olho nessa tendência, Schwan dividiu os hotéis em três categorias: clássicos, os hotéis tradicionais; os collabs, que misturam hotelaria, estadias de curta temporada e espaços de trabalho e convivência compartilhados e boutique, os hotéis dedicados ao lazer e luxo. “Adoro trazer um pouco da minha personalidade ao negócio. Sinto que isso revitaliza a operação”, diz.
O projeto Generation, inaugurado em Porto Alegre no final de 2021, é a principal aposta da rede e exemplifica o que é tido pela gaúcha como futuro da hotelaria. Um prédio moderno com cara da galeria de arte em que cada andar é assinado por um artista diferente, com obras exclusivas. Segundo Schwan, a expectativa é aumentar em 90% o faturamento da rede comparado ao período pré-pandemia, uma projeção que já considera as devolutivas positivas com o Generation.
Em boa medida, a aposta no design e na hospedagem de experiência é o que deve aproximar a rede dos resultados do pré-pandemia. Em 2019, a Swan faturou algo em torno de R$ 19 milhões. Para 2022, a ambição é chegar aos R$ 22 milhões.
O otimismo com os novos padrões e a retomada do setor também fizeram o Swan dobrar suas apostas quando o assunto é inaugurações. Recentemente, a rede abriu seu primeiro hotel na cidade de Canela, também no Rio Grande do Sul, uma região conhecida por receber turistas interessados em estadias e experiências em meio à serra gaúcha e suas florestas de araucárias.
Apenas para essa abertura, que aconteceu em maio deste ano, o investimento da rede foi de R$ 20 milhões — um valor que extrapola, inclusive, as receitas da empresa nos últimos anos.
O primeiro projeto do Swan começou ainda em 1993, na cidade de Novo Hamburgo. O hotel estreante nasceu da pungência da região sulista como pólo turístico e empresarial, mas que, na época, esbanjava opções de hospedagens apenas na capital. Hoje, a rede tem 11 unidades, sendo seis delas em Portugal. No Brasil, o foco está nas cidades de Porto Alegre, Caxias do Sul, Canela e Novo Hamburgo, todas no Rio Grande do Sul.
No médio prazo, a intenção é levar o Swan para outros estados, numa expansão que deve começar pelo Sudeste. “Já está na hora de irmos além do Sul. Queremos o Brasil inteiro”, diz. Em um segundo momento, a ambição de Schwan é levar a rede para a América do Norte. “Nova York é nosso grande sonho”, diz.
Além de comandar a rede de hotéis, Schwan também é vice-presidente do Transforma-RS, um conselho que reúne 30 lideranças, entre empresários, representantes de universidades, federações e governo do Rio Grande do Sul.
À frente do comitê de turismo do grupo, ela é responsável por articular ações de incentivo ao setor na região, promovendo a interação entre o setor público e privado. “Em um estudo que fizemos, o turismo ficou em terceiro lugar entre os setores com maior potencial para melhorar a competitividade do estado. Decidimos que era hora de agir”, diz.
Primeira mulher a integrar o grupo, Schwan afirma que a intenção do Transforma é construir um plano estratégico de longo prazo para ajudar setores chave para a economia do Rio Grande do Sul, além de trazer mais representatividade.