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Racismo nos negócios mantém mulheres negras na base das empresas

Pesquisa Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho mostra as dificuldades de ascensão nos negócios

Pesquisa aponta cenário da mulher negra no trabalho  (UberImages/Thinkstock)

Pesquisa aponta cenário da mulher negra no trabalho (UberImages/Thinkstock)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 31 de outubro de 2020 às 10h30.

Última atualização em 13 de maio de 2022 às 09h22.

A consultoria Indique Uma Preta e a empresa de pesquisa Box1824 se uniram para o lançamento da pesquisa Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho.

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O estudo compila dados de pesquisas de análise da Box1824 e Indique uma Preta, e dados  quantitativos, coletados via pesquisa online realizada com mais de mil mulheres negras de todo o país pela plataforma MindMiners. A pesquisa foi desenvolvida entre os meses de março e setembro, já dentro do contexto da pandemia do novo coronavírus.

As mulheres negras representam 28% da população brasileira, compondo o maior grupo racial e também a maior força de trabalho do país. Juntos, negros e negras representam 54,9% da força de trabalho do Brasil e 57,7 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. No entanto, são também os representantes mais comuns entre os profissionais desocupados e subutilizados.

A falta de oportunidades de crescimento profissional é a principal causa de insatisfação entre mulheres negras. Questionadas, 51% das entrevistadas afirmaram que receber promoções foi difícil ou muito difícil nos últimos anos -- com aumento para 54% nas classes CDE; 37% se disseram insatisfeitas ou muito insatisfeitas com esse fator.

"Quando estabelecidas na carreira, ainda existe o desafio da transição entre empresas e a dificuldade de manter o nível hierárquico conquistado, uma vez que o mercado não promove essas mulheres a cargos mais qualificados com a mesma frequência com que outros perfis são", afirma Verônica Dudiman, sócia e co-fundadora da consultoria Indique uma Preta.

As entrevistadas passam também por há um esforço constante por entregar o trabalho acima das expectativas e, assim, transpor o preconceito. O auto-desenvolvimento é a estratégia que elas encontram para conseguir dar retorno aos investimentos feitos por elas mesmas ou pela família para ter destaque e reconhecimento no trabalho.

Com isso, 43% pretendem voltar ou continuar a estudar; 31% querem fazer cursos específicos de capacitação em sua área; e 33% desejam buscar melhores condições de trabalho. Já sob o ponto de vista dos líderes das empresas, existem barreiras como o desconhecimento da questão e uma visão enviesada dos avanços.

Questionadas sobre o impacto de experiências racistas no contexto profissional, 44% se sentem inseguras para acreditar no seu potencial e trabalho; 42% temem se posicionar ou falar em espaços coletivos; 41% têm a qualidade de vida alterada (sono, ansiedade, bem estar); e 32% fazem alterações compulsórias sobre a estéticas para se adequar à espaços de trabalho. Anteriormente, outra pesquisa apontou que mulheres negras com o cabelo natural são vistas como menos profissionais. Essa super performance as coloca em situação extrema de cobrança, bem como de fadiga física e mental.

Outra questão, segundo o estudo, que afeta líderes é o medo de errar. Apesar do tema racial e da diversidade estarem tendo visibilidade mais ampla nos últimos anos, há ainda muito desconhecimento sobre conceitos básicos e seu impacto na estrutura corporativa.

"Por não se aprofundarem na multiplicidade, o pouco que caminhamos em medidas afirmativas já é entendido como muito. Por isso acreditam na diversidade de forma mais superficial, sem entender suas múltiplas potencialidades e os benefícios para o negócio", avalia Malu Rodrigues, pesquisadora cultural e estrategista de conteúdo da Box1824.

Oportunidades

A pesquisa Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho identificou três perfis profissionais que podem movimentar a presença e potencialidades das mulheres negras dentro das empresas.

O primeiro deles é o Incentivador, que atua de forma mais básica, mas que pode ter funções importantes na empresa, como de sensibilizar e engajar as lideranças para criar espaços confortáveis para a inserção de mulheres negras no ambiente de trabalho.

Já o Catalisador pode selecionar, contratar e pensar em soluções dos perfis diversos já existentes. E o Transformador tem o poder de promover mudanças estruturais e pensar estrategicamente, promovendo investimentos e inovação.

Representação

Apesar do aumento de iniciativas para inclusão por algumas empresas, o caminho a ser percorrido é longo. Não só há poucas mulheres negras inseridas no mercado, como são raros os casos de líderes negras no Brasil.

Das trabalhadoras negras entrevistadas, 54% não exercem trabalho remunerado e 39% delas dizem estar procurando emprego no atual momento. Outro dado aponta que 72% das mulheres negras não foram lideradas por outras mulheres negras nos últimos cinco anos de trabalho, contra 28% que foram.

De todas as mulheres negras entrevistadas, nenhuma é CEO e apenas 2% é diretora no atual trabalho, contra 3% de gerentes, 3% de supervisoras/coordenadoras, 3% de sócias/proprietárias, 8% de analistas, 18% de administrativo/operacional, 23% de assistente/auxiliar e 5% de estagiários/trainees.

"Os primeiros beneficiados são aqueles que já estão na ‘frente’, como pessoas de outros grupos minorizados, mas ainda assim brancas. Ao olharmos as metas estabelecidas por grande parte das empresas brasileiras, a mulher negra fica para o final da fila", afirma Verônica Dudiman, da Indique uma Preta.

Outro ponto é o Sistema de Indicações privilegia a contratação de pessoas conhecidas ou próximas de profissionais que já estão nos quadros das companhias. Como esses espaços são majoritariamente ocupados por pessoas brancas, mais pessoas brancas são consequentemente contratadas.

"Mesmo que a pessoa tenha experiência, ela necessita percorrer um caminho de enfrentamentos para ocupar cargos maiores. Em grande parte, o trabalho de inserção não atinge as camadas mais vulneráveis, deixando-a na base da pirâmide, onde há apenas trabalhos informais ou oportunidades autoprojetadas", diz Malu Rodrigues, da Box1824.

 

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