Jorge Santos Carneiro, da IOB: “Investimos muito em pessoas e tecnologia. Uma boa parte desse valor foi para contratar desenvolvedores, modernizar os produtos existentes e criar novos" (IOB/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de outubro de 2024 às 12h02.
Última atualização em 18 de outubro de 2024 às 15h58.
Se fosse colocar toda a legislação tributária do Brasil num único livro, ele teria mais de 50.000 páginas. Manter-se atualizado em meio a essa montanha de informações é um desafio diário, especialmente para contadores. E, por décadas, uma das empresas que mais ajudavam os profissionais nessa tarefa era a IOB. Conhecida como a “queridinha dos contadores”, a IOB era famosa por ser aquele número de telefone que os contadores ligavam para tirar dúvidas fiscais e tributárias.
Porém, no final dos anos 2010, a empresa passou por uma fase turbulenta. Após um período de falta de investimentos, a confiança dos clientes ficou abalada. A IOB pertencia à Sage, uma empresa britânica focada em software, que decidiu dar um passo atrás em mercados mais complexos como o Brasil. A multinacional adotou uma estratégia global de produtos que não se adaptava tão bem às peculiaridades da legislação brasileira, deixando a IOB “à deriva”.
Foi nesse cenário que o empresário português Jorge Santos Carneiro viu uma oportunidade de ouro. Ele já atuava na Sage e, em 2020, decidiu comprar a operação brasileira quando a empresa britânica resolveu sair do país.
“Quando compramos a IOB, ela não estava no melhor momento", diz Carneiro. "A reputação da empresa estava fragilizada, e os investimentos em tecnologia haviam sido deixados de lado”
Só neste ano, o empresário já investiu 220 milhões de reais no negócio. Esse montante foi direcionado principalmente para tecnologia, desenvolvedores e novos produtos.
A ideia central era combinar a tradição da IOB com soluções modernas, focadas nas necessidades dos contadores e pequenas empresas brasileiras.
“Investimos muito em pessoas e tecnologia. Uma boa parte desse valor foi para contratar desenvolvedores, modernizar os produtos existentes e criar novos. Queremos que a IOB volte a ser aquela referência sólida para os contadores e empresas de pequeno porte”, diz Carneiro.
A IOB, que nasceu como uma fonte de conteúdo regulatório confiável, passou a expandir suas soluções para além das consultorias fiscais e trabalhistas. Hoje, a empresa oferece softwares contábeis, soluções para folha de pagamento e emissão de notas fiscais, tudo integrado em uma única plataforma, o IOB Online.
A plataforma IOB Online foi desenhada para atender contadores de maneira mais ampla e eficaz. Ela é capaz de auditar e automatizar o envio de declarações de várias empresas ao mesmo tempo, economizando até 30% do tempo dos profissionais.
Outra inovação é a capacidade de capturar notas fiscais e validar automaticamente as informações tributárias antes da escrituração — um processo que, até então, era manual e sujeito a erros.
“Um dos nossos principais diferenciais é a capacidade de simplificar tarefas complexas. Antes, emitir uma nota fiscal correta no Brasil era quase uma arte. Agora, com a nossa plataforma, conseguimos fazer essa validação de forma automática, economizando tempo e evitando erros tributários”, diz Carneiro.
A IOB agora não só oferece consultoria — com mais de 5.000 ligações diárias de suporte — mas também investe em inteligência artificial para agilizar respostas e automatizar processos.
“Nosso foco é manter o nível de confiança que os contadores depositam em nós, oferecendo as respostas certas no tempo certo”, diz o executivo.
Quando comprou a operação brasileira da Sage, Carneiro sabia que teria um longo caminho pela frente. A empresa vinha de anos de desinvestimento e com uma base de clientes insatisfeitos. A missão era clara: estabilizar o negócio, reconquistar a confiança dos antigos clientes e conquistar novos.
“Enfrentamos um NPS negativo (índice de satisfação) quando assumi a IOB. Estávamos com -30, o que era doloroso para uma empresa com tanto legado. Hoje, conseguimos reverter essa situação e fechamos agosto com um NPS de 37, o que nos enche de orgulho”, afirma Carneiro.
Além de investir em tecnologia e pessoas, a IOB também apostou na aquisição de startups para complementar seu portfólio. Nos últimos anos, foram compradas cinco pequenas empresas, incluindo a Emitte, uma solução de emissão de notas fiscais, e um aporte na Paketá, que oferece uma plataforma de crédito consignado.
A reforma tributária, que promete transformar as regras fiscais no Brasil, é uma das grandes preocupações dos contadores. E a IOB já está se preparando para esse novo cenário. “Sabemos que a reforma vai mudar muita coisa, desde os preços de produtos às obrigações fiscais das empresas. Por isso, estamos desenvolvendo ferramentas que vão ajudar nossos clientes a navegar por essas mudanças com mais tranquilidade”, diz Carneiro.
Entre as novidades que a IOB está preparando, está um simulador da reforma tributária, que ajudará as empresas a entenderem o impacto das mudanças em suas operações e a se adaptarem de forma antecipada.
Além disso, a empresa está investindo em inteligência artificial para automatizar parte das respostas às perguntas mais comuns que devem surgir quando as novas regras entrarem em vigor, a partir de 2026.
“Nossa expectativa é que, no início de 2026, quando o novo imposto entrar em vigor, a demanda pelos nossos serviços aumente muito. Estamos prontos para esse desafio e acreditamos que será uma grande oportunidade para a IOB se destacar no mercado”, afirma o presidente.
A empresa está crescendo a um ritmo acelerado. Só em 2024, a IOB cresceu 24% em novas vendas. Mas Carneiro afirma que a empresa não tem pressa em escalar de forma descontrolada:
“Nosso foco é crescer de maneira sustentável, sem perder a qualidade no atendimento. Não adianta atrair novos clientes e deixá-los sair pela porta da frente porque não conseguimos atendê-los.”
Para os próximos anos, a IOB tem grandes planos, com 2025 prometendo ser um ano ainda mais significativo.
“Queremos continuar sendo o braço direito dos contadores brasileiros. Sabemos que o mercado está cada vez mais competitivo, mas acreditamos que nossa combinação de tradição e inovação vai nos manter na liderança.”