ID Logistics em Jaguariúna: uma das peculiaridades do Brasil é o modelo de armazém geral (Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 23 de setembro de 2014 às 10h44.
São Paulo – Quando alguém vai ao supermercado comprar algum produto da Danone ou Ambev, dificilmente pensa em quem foi o responsável por trazer os produtos até as gôndolas. Este é o trabalho da ID Logistics, empresa de logística há 12 anos no Brasil.
Esta companhia pode ser desconhecida dos consumidores, mas seu trabalho invisível é o que faz produtos da Carrefour, Ambev, Nivea, Privalia, Danone, Leroy Merlin, C&C, entre outros, chegarem até as prateleiras.
Da indústria para o centro de distribuição e daí para as lojas, é um longo e complexo processo.
A empresa foi criada em 2001 na França, com foco em logística contratual, ou seja, organizar logística, transporte e armazenamento para grandes clientes.
A estratégia sempre foi, desde o começo, ousada: expandir as operações internacionalmente e buscar clientes de peso.
Já em 2002, apenas 10 meses depois da criação da empresa, a primeira filial foi inaugurada em Taiwan. A partir de então, a ID Logistics começou a investir em países emergentes. Já são 14 países, como Brasil, Argentina, África do Sul, Rússia, China, Indonésia, Marrocos, além de países europeus, como Espanha, Polônia e Alemanha.
A empresa enxergou a oportunidade na dificuldade que outras empresas sentiam ao expandir para países emergentes. Mais e mais empresas partiam para explorar estes mercados, mas sempre esbarravam na questão logística, diz Eric Hemar, CEO da ID Logistics.
Ele cita Carrefour e Walmart como exemplos. “Por causa desse problema interno, vimos uma oportunidade nos emergentes”, diz Hemar.
A maior filial
Um ano depois da abertura da companhia, ela chegou ao Brasil. A segunda subsidiária a ser aberta é hoje a maior filial do grupo, sendo a segunda em faturamento depois da matriz francesa. Corresponde a 11,5% das atividades e faturamento do grupo, que foi de 735 milhões de euros em 2013.
No Brasil, o varejo é responsável por 63% do faturamento. O Carrefour corresponde a 27%, a Leroy Merlin a 22%, Ambev 6% e Danone 8%. A base brasileira também serve como apoio técnico para a filial Argentina, bem como base para o desenvolvimento de outras filiais na América Latina.
A operação brasileira é a que mais cresce, em uma taxa média aproximada a 30% nos últimos cinco anos.
Em 2003, fecharam o primeiro contrato em terras tupiniquins: um armazém para o Carrefour, no Rio de Janeiro. Logo depois, vieram para São Paulo e, em 2006, a Leroy Merlin entrou para o rol de clientes. Diversificaram as atividades: além da construção de centros de armazenamento, passaram a investir em gestão e transportes, buscando otimizar ao máximo o tempo de entrega dos produtos.
Expandiram para a indústria e a autoindústria e para o setor de alimentos, com a área láctea da Danone. Fora do eixo Rio-São Paulo, a ID Logistics instalou uma fábrica e centro de distribuição da Ambev em Minas Gerais, em 2009.
No ano seguinte, chegaram ao centro-oeste. Hoje, são 30 centros de distribuição e mais de 2.500 trabalhadores.
Uma das peculiaridades do Brasil é o modelo de armazém geral, criado em 2011. Este é um modelo fiscal específico da legislação brasileira, que permite que diversos clientes compartilhem um mesmo centro de distribuição. A combinação reduz custos e permite acesso a outros clientes.
Desafios emergentes
Criada na França, em um continente conhecido pela malha ferroviária e rodoviária eficiente e de qualidade, a empresa precisa se adaptar às realidades díspares dos países emergentes em que desembarca.
Mesmo assim, Eric Herman diz: “não superestime nosso país. O custo de transporte na Europa é muito alto”, por conta de motoristas e caminhões.
Em países emergentes, como é o caso do Brasil, o custo do transporte é mais baixo, mas a infraestrutura costuma ser mais precária. Como o transporte é baseado em rodovias e o país é grande, as distâncias e o tempo são maiores.
Porém, se um produto vai de Manaus a São Paulo, o mais importante não é se vai chegar um dia mais cedo ou mais tarde. O principal é garantir que ele chegue, e com qualidade. Por isso, os caminhões da frota podem ser rastreados em tempo real, para aumentar a segurança.
Outro grande obstáculo das operações no Brasil é a disponibilidade de mão de obra, diz Nicolas Derouin, diretor-geral da empresa no país. “O Brasil vive uma situação de pleno emprego. O público alvo para os nossos colaboradores são pessoas de classes sociais baixas e baixo nível de qualificação. Existe muita demanda para essa mão de obra”, diz ele.
Como a remuneração para esses trabalhadores costuma ser baixa, é difícil reter os funcionários. Por isso, a empresa oferece projetos de qualificação e crescimento para os trabalhadores, para mantê-los e melhorar a qualidade do serviço.
Um dos principais desafios da empresa, nos próximos anos, é aumentar sua participação no mercado de e-commerce. Ano passado, apenas 5% do faturamento da empresa veio deste setor. Entretanto, o número tende a crescer. A empresa também faz a gestão de e-commerce para vários de seus clientes.
Entrega real
Além disso, metade dos novos clientes da empresa do último mês era da área de comércio eletrônico. “E-commerce será uma grande parte do nosso trabalho”, diz Hemar. No ano passado, a companhia fechou parceria com a Privalia, no Brasil, outlet online.
Para o futuro, a prioridade é iniciar operações no Nordeste e, em segundo plano, expandir para o Sul. A empresa continuará investindo nos setores de varejo, bens de consumo, automobilístico e de cosméticos.
Agregar valor ao transporte também está entre os planos da ID Logistics. Para isso, irão investir distribuição em centros urbanos e em entregas door to door, direto ao consumidor.