São Paulo – No processo que pediu o afastamento de Eduardo Cunha de seu posto como presidente da Câmara dos Deputados, diversas empresas são acusadas de envolvimento em esquemas de corrupção.
De acordo com o processo contra o político, Cunha “ vem atuando ilicitamente em favor das empresas, vendendo atos legislativos para beneficiá-las”.
Uma das companhias citadas na ação é o Grupo Mitsui, conglomerado japonês com participação em mais de 70 empresas, entre elas, a Vale.
Junto com o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, Eduardo Cunha teria recebido 40 milhões de dólares em propina pelo contrato de aquisição de navios-sonda da Petrobras.
Ele ainda teria recebido ao menos 5 milhões de dólares em propinas do estaleiro coreano Samsung Heavy Industries e do grupo japonês Mitsui, diz a ação.
Operação Lava Jato
O grupo japonês e a Samsung Heavy Industries são investigadas na Operação Lava Jato a respeito de aquisições de navios-sonda pela Petrobras em 2006 e 2007.
As aquisições estão na mira da investigação que menciona o ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró e o lobista Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema, de receber propina de 30 milhões pelo negócio.
O ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, afirmou na CPI da Petrobras, em 2015, que as vendas das duas empresas asiáticas para a estatal ocorreram de forma regular.
Estaleiro Atlântico Sul
A Mitsui também é parceira no Estaleiro Altântico Sul, em Pernambuco, ao lado da Queiroz Galvão e da Camargo Corrêa desde 2012, ano em que a Samsung vendeu sua participação de 6% no negócio.
O contrato foi assinado com a IHI Marine United Inc. (IHIMU) - Divisão de Construção Naval Offshore da Ishikawajima-Harima Heavy Industries, sediada no Japão e controlada pelo grupo Mitsui, que prestaria serviços de consultoria.
Porém ela já fornecia sondas à Petrobras desde 2006 por meio de uma joint venture com a estatal.
Era nesse estaleiro que a Sete Brasil estava construindo sondas para perfuração do pré-sal por pedido da Petrobras.
No entanto, com a Operação Lava Jato, a Petrobras diminuiu a encomenda e a Sete Brasil passou a enfrentar grandes dificuldades como falta de crédito em bancos e não recebimento de investimentos prometidos pelo BNDES. Assim, ela deixou de pagar às donas do Estaleiro Atlântico Sul, que querem cancelar o contrato.
Em 2011, o gabinete de Eduardo Cunha pediu uma investigação parlamentar contra a Mitsui. Segundo o doleiro Alberto Youssef, esse requerimento de investigação seria uma das formas de Cunha de pressionar a empresa a pagar propina por um contrato de aluguel de sondas celebrado pela Petrobras.
Em depoimento à CPI da Petrobras, o presidente da Mitsui, Shinji Tsuchiya, afirmou que a empresa não teve participação em "atividades ilícitas" envolvendo a estatal.
Ele relatou que trabalha na empresa desde 1981, que o Brasil é um dos mercados mais importantes para a Mitsui e disse que está disposto a colaborar com as investigações da CPI. "A Mitsui sempre respeitou as regras dos países. Nunca houve qualquer ato de corrupção de seus funcionários", declarou.
Gaspetro
A Mistui foi a compradora da participação da Petrobras na Gaspetro, distribuidora de gás natural. A operação de 1,9 bilhão de reais foi paralisada pela Justiça Federal do Rio, que questionou um conflito de interesses na transação e os valores do negócio.
"Há indícios de violação do princípio da impessoalidade, já que o presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Murilo Ferreira, aparece exercendo a função de diretor-presidente da Vale S/A, que também mantém negócios com a empresa japonesa Mitsui", diz a decisão.
Projetos diversificados
Com sede em Tóquio, a Mitsui & Co. tem 139 escritórios em 66 países, além de aproximadamente 420 subsidiárias e parceiras em todo o mundo. No Brasil, ela atua em 12 frentes, de serviços a transportes, passando por mineração e logística.
Desde 2003, ela é acionista com 15% de participação na Valepar S.A, controladora da Vale. Ela tem dois membros na diretoria executiva da Valepar e dois no conselho de administração da Vale.
A japonesa está em uma joint venture com a Vale para o desenvolvimento de minas no Peru e nos Estados Unidos e recentemente comprou uma subsidiária da brasileira em Moçambique.
No setor químico, a empresa japonesa tem parcerias com Vale, Dow, Braskem e Petrobras.
Também é dela uma conhecida marca de café: o Café Brasileiro. O produto é feito pela subsidiária Mistui Alimentos, que chegou ao Brasil em 1979 com a compra de uma empresa de imigrantes japoneses.
No setor bancário, a empresa fez uma parceria com o banco BTG Pactual em 2011.
Transportes
Desde 1958, a japonesa também atua no setor de transportes no Brasil. Ela já foi fornecedora da Fepasa, ferrovia paulista, CPTM, empresa de transporte ferroviário de São Paulo e para a Central do Rio de Janeiro.
Hoje, é sócia da ViaQuatro e parceira da Odebrecht na Supervia, concessão pública do sistema de trens urbanos do Rio de Janeiro, VLT do Rio de Janeiro e VLT Eixo Anhanguera, em Goiânia.
A Mitsui esteve envolvida nas investigações a respeito do cartel de licitações de trens, que incluiu empresas como a alemã Siemens, a francesa Alstom, a canadense Bombardier, a espanhola CAF, entre outras.
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1. Ilícitas
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1/10 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Paulo – Nesta manhã,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi afastado do comando da Câmara dos Deputados por decisão do ministro Teori Zavascki, relator da
Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão de Teori
será analisada no plenário do Supremo e inclui inúmeras denúncias contra o deputado, muitas com a citações de grandes empresas (acompanhe a decisão ao vivo por
aqui). A liminar é uma resposta da denúncia formalizada pelo procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, em agosto do ano passado. “Verifica-se que, reiteradamente no mínimo desde 2012, Eduardo Cunha vem atuando ilicitamente em favor das empresas, vendendo atos legislativos para beneficiá-las. Isto demonstra que Eduardo Cunha não pode permanecer no cargo de Deputado Federal”, diz o texto da ação cautelar. Veja, a seguir, as principais companhias citadas na acusação contra Cunha.
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2. Samsung e Mitsui
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2/10 (Wikimedia Commons)
Junto com o ex-diretor da área internacional da
Petrobras, Nestor Cerveró, Eduardo Cunha teria recebido 40 milhões de dólares em propina pelo contrato de aquisição de navios-sonda da estatal. Ele ainda teria recebido ao menos 5 milhões de dólares em propinas do estaleiro coreano
Samsung e do grupo japonês
Mitsui. No entanto, por atraso no pagamento das parcelas, Cunha pressionou as companhias. “Já demonstrando que não tem limites para garantir o sucesso de suas ações criminosas, como forma de pressionar o retorno do pagamento das propinas, Eduardo Cunha valeu-se, inicialmente, de dois requerimentos perante a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados (CFFC), solicitando informações sobre Júlio Camargo e o grupo Mitsui”, afirma o processo contra o político. As sondas estavam sendo construídas no Estaleiro Atlântico Sul, que pertence às empreiteiras Queiroz Galvão e da Camargo Corrêa– o estaleiro
Samsung vendeu sua participação de 6% no negócio em 2012. A Mitsui é parceira do empreendimento e prestava serviços de consultoria. A construção era feita pela
Sete Brasil, empresa criada para fornecer sondas para perfuração do pré-sal por pedido da Petrobras.
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3. Kroll
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3/10 (Thinkstock)
A contratação da empresa de espionagem norte-americana Kroll por R$ 1 milhão para ajudar na investigação dos trabalhos da CPI da Petrobras é outra que está sendo questionada. Primeiro, porque a contratação foi feita com dinheiro público sem necessidade, já que “os integrantes da CPI possuem autonomia no exercício de suas funções parlamentares”. Além disso, a contratação teria sido feita, na verdade, para tentar descobrir provas que pudessem comprometer os acordos de colaboração premiada “revelando, assim, total desvio de finalidade pública, salvo beneficiar os criminosos envolvidos nos fatos, especialmente Eduardo Cunha”. O procurador geral sustentou que Cunha estaria “utilizando do cargo de Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos Deputados em interesse próprio e ilícito, qual seja, evitar que as investigações contra si tenham curso e cheguem a bom termo, bem como reiterar as práticas delitivas, com o intuito de obter vantagens indevidas”.
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4. BTG Pactual
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4/10 (Nacho Doce/REUTERS)
Sobre o banco, o processo cita a apreensão de documento “que aponta para o recebimento de vantagens indevidas por parte de Eduardo Cunha para aprovar medida provisória de interesse do
BTG”. Ele teria recebido 45 milhões de reais do banco em troca da aprovação de emendas que favoreciam bancos em liquidação “protegendo os interesses ilícitos destes em detrimento do interesse público, visando, assim, receber vantagens indevidas”.
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5. OAS
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5/10 (Dado Galdieri/Bloomberg)
O processo ainda indica que “projetos de lei de interesse das
empreiteiras eram redigidos pelas próprias empreiteiras, que os elaboravam, por óbvio, em atenção aos seus interesses espúrios, muitas vezes após a consultoria de Eduardo Cunha”. Depois de redigido, o projeto era apresentado pelo deputado no Congresso Nacional, de forma direta ou por meio de seus aliados, mediante o pagamento de
suborno. Essa atuação parlamentar, aponta o documento, pode ser comprovada por centenas de trocas de mensagens de celular entre Cunha e Léo Pinheiro, um dos principais dirigentes da
OAS. A construtora é uma das processadas criminalmente por participação de desvios em contratações da Petrobras.
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6. Andrade Gutierrez
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6/10 (Divulgação)
“O mesmo
modus operandi teria ocorrido em relação à empreiteira
Andrade Gutierrez”, aponta o processo, que cita mensagens existentes no celular de Otávio Marques de Azevedo, então presidente da empresa. Cunha estaria ainda envolvido em supostos crimes para a liberação de recursos oriundos do FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
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7. Caixa Econômica Federal
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7/10 (Lia Lubambo/Exame)
As construtoras Carioca Engenharia, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez venceram a licitação para a concessão das intervenções no Porto Maravilho, uma parceria público privada para revitalização da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro. Na mesma época, de acordo com o processo, uma segunda licitação foi feita para compras de CEPAC´s, Certificado de Potencial de Área Construtiva. Dela teria participado apenas a
Caixa Econômica Federal, por meio do FI-FGTS, que adquiriu a totalidade das CEPAC's no leilão, no valor de 3,5 bilhões de reais. Para liberar os certificados às construtoras, então responsáveis pelo Porto, Cunha teria negociado uma porcentagem do valor de cada terreno – ao todo, em torno de 52 milhões de reais. Consta no processo que “embora não conheça a fundo como funciona o FIFGTS, o depoente tem a percepção que Eduardo Cunha era uma pessoa muito forte na CEF, do contrário, inclusive, as empresas OAS e Odebrecht não aceitariam pagar tais valores”.
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8. Schahin
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8/10 (Divulgação/Schahin)
O Procurador-Geral da República aponta que Cunha teria promovido requerimentos para pressionar empresários do Grupo Schahin para obtenção de vantagens espúrias, depois da companhia ter se negado a pagar propinas. Ele ainda teria supostamente atuado em favor do empresário Lúcio Bolonha Funaro na disputa judicial com o Schain sobre a responsabilidade no rompimento da barragem da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de Apertadinho, em Rondônia.
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9. Furnas
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9/10 (Paulo Whitaker/Reuters)
Ainda que seja apenas mencionada no documento do ministro Teori Zavascki que pede o afastamento de Cunha, a
Furnas, uma das maiores subsidiárias da Eletrobras na produção de energia elétrica, é outra empresa envolvida nas denúncias sobre corrupção contra o político. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou há dois dias um pedido de inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF) afirmando que Cunha era um dos líderes de uma organização criminosa que atuava em Furnas. A investigação é embasada na delação do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS). Para beneficiar seu amigo e doleiro Lúcio Funaro, que era ligado a uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) sócia de Furnas, Cunha alterou a legislação energética em 2007 e 2008, com as Medidas Provisórias n. 396/ 2007 e 450/ 2008. Em 2007, a Furnas renunciou ao direito de comprar ações da Oliveira Trust Servicer por 6,96 milhões de reais. Quem acabou comprando essas ações foi a Serra da Carioca II, que pertencia ao grupo Gallway e do qual fazia parte Lutero de Castro Cardoso e Funaro. Oito meses depois de ter recusado a compra dos papéis, a Furnas pagou quase 80 milhões de reais por eles, causando prejuízos gigantescos. Na época, o presidente da empresa era Luiz Paulo Conde, indicado por Eduardo Cunha.
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10. Confira também
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10/10 (Germano Lüders/EXAME.com)