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Quem é Joesley Batista, o empresário que entregou Temer

A saga do dono de um dos maiores conglomerados de carne do mundo, que ajudou a Procuradoria Geral da República a obter provas contra Temer

Joesley Batista: de bilionário discreto ao empresário que entregou o presidente

Joesley Batista: de bilionário discreto ao empresário que entregou o presidente

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 18 de maio de 2017 às 14h52.

Última atualização em 9 de junho de 2017 às 11h08.

São Paulo – Há alguns anos, a marca Friboi ganhou notoriedade pela quantidade maciça de anúncios em jornais e horários nobres da tevê. O empresário por trás do negócio, um dos maiores conglomerados do país, no entanto, era pouco conhecido. Agora, entra para a história como o responsável por um novo divisor de águas do país.

Joesley Batista gravou e entregou à Procuradoria Geral da República (PGR) uma fita em que o presidente Michel Temer aparece dando aval à compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha. As informações foram divulgadas pelo colunista Lauro Jardim do jornal O Globo na noite de ontem e caíram como uma bomba, com estilhaços no Congresso e em cada canto do Brasil.

Enquanto os brasileiros tentavam assimilar a notícia, Joesley e a família já estavam no apartamento que possuem em Nova York, numa iniciativa combinada com a Justiça, depois da alegação de ameaças de morte.

Na manhã desta quinta-feira, ao mesmo tempo em que as ações na bolsa derretiam e o dólar decolava, outra suspeita apareceu na imprensa: Temer teria antecipado de quanto seria o corte de juros ao empresário que, entre várias empresas, também é dono do Banco OriginalA informação não foi confirmada no áudio distribuído à imprensa.

Como outras companhias do país com ações em bolsa, a JBS apresenta queda atípica em seus ativos, de 18% até o momento, mas com uma bela diferença. Na noite de ontem, o maior frigorífico do país comprou uma razoável quantia em dólares – e, claro, protegeu-se do desastre iminente.

O poderoso Joesley

Assim como seus dois irmãos mais velhos, José Batista Júnior e Wesley (ele também tem três irmãs mais novas), Joesley ganhou a vida carregando enormes peças de carne nas costas e fazendo entregas em açougues de Brasília.

Desde muito jovem, cada um cuidava de um dos açougues do pai, na época em que ele decidiu vender carne para empreiteiras que trabalhavam na construção da futura capital nacional.

Era a primeira expansão da Casa de Carnes Mineira, fundada em 1953 em Anápolis, Goiás, pelo mineiro José Batista Sobrinho. Apelidado de Zé Mineiro, o pai dos irmãos Batista mudou o nome de seu modesto açougue para Friboi por sugestão de um cliente.

Nenhum dos filhos terminou o ensino médio. O amor por multiplicar dinheiro com o trabalho foi mais forte que a dedicação aos estudos. Nunca fizeram nenhum dos habituais cursos de gestão de negócios presentes em currículos da maioria dos executivos. Aprendiam nos frigoríficos de que cuidavam e faziam de tudo, do controle do caixa ao abate de animais.

“Eu perguntava tudo para o gerente, que era um homem muito mais velho do que eu”, contou Joesley em uma entrevista à Revista Piauí, em 2015. “Nunca tive vergonha de perguntar. É assim que se aprende”.

Juntos, Wesley e Joesley viram o negócio crescer. Em 1991, tinham uma rede de açougues com 70 funcionários. Ambiciosos, eles decidiram expandir mais, mas da maneira inversa à da fórmula comum das empresas. Em vez de abrir unidades próprias e depois comprar rivais, eles encorpavam o caixa e adquiriam as concorrentes grandes, que julgavam mal administradas.

De compra em compra, a estratégia deu tão certo que, no começo de 2000, eles já eram donos de alguns os maiores frigoríficos do Brasil, entre eles Anglo, Bordon e Swift Armour.

Friboi virou JBS só em 2007, com a abertura de capital da empresa na bolsa. Hoje a marca é uma das dezenas no portfólio da companhia, o maior frigorífico do país e um dos maiores do mundo, com faturamento de 170 bilhões de reais, operações em 20 países e 237 mil funcionários.

As negociações de compras de outros negócios do ramo nunca cessaram e ajudaram no crescimento de cerca de 30% da empresa ao ano, desde sua criação. A diferença estava na complexidade das aquisições e no mercado em que estavam as operações.

Em 2009, foi a vez da compra da americana Pilgrim’s Pride, passo que marcou o ingresso da JBS no segmento de frangos. No mesmo ano, a companhia incorporou a brasileira Bertin e entrou no ramo de lácteos, ração animal e biodiesel.

Três anos depois, com a compra de ativos da Doux Frangosul e Agrovêneto, a JBS ganhou o posto de maior produtora de frangos do mundo. Nisso, já era uma das maiores fornecedoras de carnes de grandes redes, como McDonald´s.

Na mesma toada, os irmãos Batista avançavam, por meio da holding J&F, por setores tão díspares quanto banco, papel e celulose e construção. Além da ousadia das aquisições, a J&F ficou marcada por ser um dos grupos empresariais mais beneficiados por aportes diretos do BNDES em participação no negócio, bem como empréstimos.

O banco anunciou, na última terça-feira, dia 16, a criação de uma Comissão de Apuração Interna para investigar se aportes irregulares foram concedidos ao frigorífico — iniciativa que faz parte da Operação Bullish, que investiga fraudes e irregularidades em aportes concedidos pelo BNDESPar.

Líder discreto

Alvo de investigações da Lava Jato e da operação Bullish, a J&F também é suspeita de participar de outros esquemas ilegais (confira todos aqui).

Os desdobramentos de algumas dessas operações resultaram na saída de Joesley da presidência do conselho de administração dos negócios do grupo, no final de março.

Em maio, ele e Wesley foram proibidos pela Justiça de fazer qualquer mudança estrutural nas empresas da J&F Investimentos. Até então, a intenção deles era repartir os negócios em duas operações distintas, sendo que uma seguiria concentrada no país e a outra teria foco no exterior.

Se não fosse pelos escândalos com a Justiça, pouco se saberia da vida do discreto empresário de 44 anos. Pai do pequeno Joesley Filho, de dois anos, fruto de seu casamento com a apresentadora Ticiana Villas Boas, ele costuma dizer em entrevistas que não gosta de livros, cinema ou teatro. Seus hobbies são trabalhar e estar com a família.

Entre os jatinhos, iates e imóveis de luxo comprados com a prosperidade das empresas está o apartamento na Quinta Avenida, endereço badalado de Nova York. Ainda não se sabe se é de lá que ele vai acompanhar as cenas dos próximos capítulos da novela trágica em que se transformou a política no Brasil.

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