União Química: empresa brasileira vai fabricar Sputnik V. (Anadolu Agency/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 15h49.
Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 17h28.
A farmacêutica União Química passou a ser mais falada após demonstrar interesse em produzir no Brasil a vacina contra a covid-19 Sputnik V desenvolvida na Rússia. Mas sua história é de longa data. A empresa que começou em 1936 com o nome de Laboratório Prata, foi em 1970 adquirida por João Marques de Paulo, que deu origem à União Química.
A companhia, que faturou cerca de 2,7 bilhões de reais em 2020 e contrata 6.349 pessoas, tem no mercado medicamentos conhecidos como o anticoncepcional Ciclo 21, que produz 5,5 milhões de caixas por mês, ou ainda a solução de lágrima artificial Lacrifilm.
Está estruturada em cinco unidades de negócios: agener (animais de companhia, de produção e reprodução), farmacêutico (genéricos, similares e OTC), genom (prescrição médica), hospitalar e terceirização, e desde da década de 1980 é presidida por Fernando de Castro Marques, que falou à EXAME os detalhes sobre o interesse na Sputnik V.
"Nos aproximamos do governo chinês e russo antes da covid-19 por conta da nossa divisão animal, mas estreitamos laços para frear a pandemia", afirma Marques.
Aproximação com os russos
Depois de diversas aquisições de unidades fabris, como da Novartis em 2014, da Zoetis em 2017, e da Elanco na Geórgia, nos Estados Unidos, em 2018, Marques viu a oportunidade de se aproximar dos governos chinês e russo para ofertar a somatotropina bovina, indicada para a maior lactação das vacas, uma vez que a empresa estava focada no desenvolvimento também da divisão animal e estes países são grandes consumidores de leite -- a China, por exemplo, importa 17% de todo o leite produzido no mundo.
A partir dessa aproximação, quando surgiu a covid-19, foi possível estreitar o relacionamento com o governo russo para entender o desenvolvimento da Sputnik V e continuar o desenvolvimento na frente de biotecnologia da União Química.
"Estivemos na Rússia diversas vezes e fechamos um contrato com o Fundo Soberano da Federação da Rússia para o desenvolvimento em outubro do ano passado. Assim podemos vender a vacina para outros mercados independente da aprovação da Anvisa, uma vez que ela já está sendo aplicada em outros países e se mostrou segura", diz Marques.
Segundo ele, na semana passada sete executivos estiveram novamente na Rússia para esclarecer dúvidas regulatórias que serão repassadas para a Anvisa.
Doses
Marques afirma que, caso a Anvisa aprove o uso emergencial da vacina, o Brasil deve receber 10 milhões de doses neste trimestre. Já a produção por aqui deve começar em março em uma fábrica em Guarulhos, São Paulo, de 178 mil metros quadrados, e em outras unidades fabris.
"A partir de abril a projeção é fazer oito milhões de doses mensais, que no prazo de um ano é 96 milhões de doses. Estamos correndo contra o tempo e esperamos que essa mudança fortaleça a saúde do país, mas também uma política de incentivo à indústria", afirma.
A expectativa é que até amanhã, dia 22, ou sábado os técnicos da Anvisa se reúnam para analisar a solicitação de uso emergencial da vacina com base em novas informações apresentadas. A taxa de eficácia da Sputinik V é de 91,4%, segundo o governo russo. Desenvolvida no Centro de Pesquisas Gamaleya, de Moscou, a vacina chamou a atenção de alguns estados brasileiros no ano passado.