Iraniano radicado nos Estados Unidos desde os 9 anos, Joe Kiani fundou a empresa quando tinha 24 anos (Divulgação/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 27 de dezembro de 2023 às 10h37.
Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 11h34.
O mercado de smartwatches nunca esteve tão agitado como neste fim de ano. Por trás, está a disputa entre a Apple e a Masimo, uma empresa de dispositivos médicos dos Estados Unidos.
A empresa de Joe Kiani, iraniano radicado nos Estados Unidos desde os 9 anos, move um processo em que acusa a gigante de tecnologia de violação de patentes e roubo de segredos comerciais por causa da tecnologia que mede a saturação de oxigênio no sangue.
Nos últimos dias, o International Trade Commission (ITC), agência americana para questões comerciais, deu razão à Masimo. A decisão ratificada pela administração do governo Biden ao decidir não vetar a proibição imposta à venda dos modelos Apple Watch Series 9 e Watch Ultra 2 no país.
A proibição surgiu após a constatação de que a Apple infringiu a tecnologia de saturação de oxigênio no sangue patenteada pela Masimo. Além disso, a Apple foi orientada a interromper a venda de qualquer dispositivo importado anteriormente que contenha a tecnologia.
Engenheiro eletricista, o iraniano criou a Masimo em 1989, aos 24 anos, usando o dinheiro de sua segunda hipoteca no valor de US$ 40.000. Atualmente, é dono de uma fortuna estimada em US$ 1 bilhão, de acordo com a Forbes.
A empresa chegou ao mercado oferecendo oxímetros de pulso, sensores colocados na ponta dos dedos que os hospitais utilizam para medir a saturação de oxigênio no sangue dos pacientes.
A ideia surgiu em um trabalho paralelo que fazia para projetar oxímetros de baixo custo para uma startup. Ele descobriu que os dispositivos geralmente emitiam alarmes falsos quando os pacientes moviam o dedo e disse à empresa que poderia reduzir esses incidentes.
A companhia não se interessou, e assim Kiani começou a sua própria jornada empreendedora, ao mesmo tempo em que mantinha o seu emprego diurno na Anthem Electronics, uma distribuidora de semicondutores.
Ao longo de dois anos, trabalhou noites e fins de semana em sua garagem no sul da Califórnia para desenvolver um protótipo que mantivesse o oxímetro. Tinha dois objetivos: fazer dispositivos que funcionassem mesmo com os movimentos dos pacientes e que atendessem também a unidades de terapia neonatal, uma das complexidades no setor médico.
Patenteada a solução, não obteve êxito com empresas americanas. Os negócios vieram com companhias no Japão e Europa. O motivo da recusa nos Estados Unidos era a concentração de mercado.
“O fato de que nosso principal concorrente [Nellcor], que detém mais de 90% do mercado de oximetria de pulso, pode pagar às organizações de compras coletivas para excluir a Masimo está totalmente errado”, testemunhou Kiani no subcomitê antitruste do Comitê Judiciário do Senado em 2002.
Em 1999, já tinha processado a Nellcor (então propriedade da Tyco) por violação de patente. Tempos depois, registrou queixa semelhante contra a Royal Philips.
Os processos levaram a indenizações e royalties que totalizaram quase US$ 800 milhões pagos por parte da Nellcor e US$ 300 milhões pela Royal Philips. A Masimo também recebeu US$ 45 milhões como fruto de um processo antitruste contra a Nellcor.
As denúncias contra a Apple são resultado de um encontro com duras consequências para a Masimo, há uma década.
Em 2013, após a Masimo lançar o primeiro oxímetro de pulso que se integrava a smartphones, a companhia fundada por Steve Jobs o convidou para uma reunião em sua sede. O movimento foi seguido por total silêncio pela big tech.
No mesmo ano, o diretor médico da Masimo migrou para a Apple, assim como o diretor de tecnologia de uma divisão da companhia. Logo depois, a Apple registrou patentes que a Masimo alega serem baseadas em suas tecnologias.
Com um valor de mercado de US$ 6,7 bilhões, a Masimo tem começado a mirar os smartwatches, um mercado de mais de US$ 25 bilhões e bastante fragmentado.
No começo do ano passado, a companhia anunciou a aquisição da Sound United, uma empresa de áudio, alto-falante e fones de ouvido focada no consumidor final, por pouco mais de US$ 1 bilhão.
A transação faz parte de uma visão de Kiani de que os dispositivos médicos se fundirão cada vez mais com os eletrônicos de consumo. Com a compra, planeja levar o Sound United para além dos fones de ouvido, investindo em aparelhos auditivos e também na medição de sinais vitais.
A movimentação fará com que a empresa tenha que bater de frente com nomes consolidados no mercado, como Garmin, Polar, Samsung e Apple. A vitória atual nos Estados Unidos é parte deste novo contexto.
Atualmente, a Masimo tem um único modelo de smartwatch, com preço de US$499,00 e um estilo mais esportivo. Um segundo está previsto para 2024, com foco em cuidados médicos.