Siderúrgicas: após aumento dos preços, volume recorde de exportações da China pode cair, ampliando atratividade das vendas locais. (China Photos/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2016 às 21h41.
A ajuda pode estar à mão para as siderúrgicas internacionais atingidas pela concorrência da China.
O volume recorde de exportações do maior país produtor provavelmente cairá após o aumento dos preços, ampliando a atratividade das vendas locais para as usinas em relação aos embarques ao exterior, segundo o Noble Group.
“A principal razão pela qual teremos exportações menores de aço chinês, pelo menos nos próximos meses, é que de dezembro para cá os preços do aço chinês têm apresentado um desempenho muito melhor que os preços do aço de outras regiões”, disse Gueorgui Pirinski, analista de materiais de aço-carbono da trader de commodities, em uma conferência em Cingapura na quarta-feira. “Tivemos uma alta enorme, de 30 a 40 por cento”.
As exportações da China, país que responde por cerca de metade da produção global, atingiram uma alta histórica no ano passado em um momento em que as produtoras lidavam com a queda dos preços locais e com a abundância de material.
O excesso ampliou a concorrência na Ásia, na Europa e nos EUA, reduzindo os lucros das usinas de todo o mundo e gerando um aumento nas tensões comerciais em meio às acusações de que os volumes crescentes da China estavam sendo vendidos baratos demais.
Neste ano, os preços do aço da China se recuperaram, em uma mudança que, segundo Pirinski, foi impulsionada pela produção mais baixa.
“O principal motor dessa inversão de tendência foi o corte bastante agressivo da produção doméstica de aço da China”, disse Pirinski, que levantou a possibilidade de que a produção possa aumentar agora, colocando em perigo a recuperação dos preços do aço.
“Veremos uma aceleração material da produção doméstica de aço na China -- e isso colocará em dúvida a sustentabilidade do preço do aço”.
Os volumes mais baixos da China poderão diminuir a pressão sobre siderúrgicas como a ArcelorMittal, com sede em Luxemburgo, e a U.S. Steel Corp.
A produtora europeia registrou prejuízo anual em 2015, enquanto a segunda maior fabricante de aço dos EUA se colocou na vanguarda dos esforços para resistir às importações, descrevendo a situação como uma “grande guerra”.
Na China, as barras de reforço de aço, usadas na construção, deram um salto de cerca de 24 por cento em 2016 após cinco anos de prejuízos.
Na Bolsa de Futuros de Xangai, o contrato subiu para 2.240 yuans (US$ 345) a tonelada na quarta- feira, nível mais alto desde junho. O piso chegou a 1.618 yuans em dezembro.
As exportações de aço da China tiveram uma expansão de quase 20 por cento em 2015, para um recorde de 112,4 milhões de toneladas, segundo dados aduaneiros divulgados em janeiro.
Em fevereiro, as vendas de produtos de aço caíram 17 por cento, para 8,11 milhões de toneladas, nível mais baixo desde março do ano passado, mostram dados do governo.
A tendência sem precedentes de exportações baratas da China provocou uma reação negativa na Europa, na Índia e nos EUA, que se movimentaram para elevar as tarifas após queixas das siderúrgicas locais.
Contudo, não foi a propagação de regras comerciais protetoras o que forçou a queda das exportações, segundo Pirinski. O motivo pelo qual “as exportações de aço da China estão caindo não são as tarifas antidumping, não é por toda essa postura”.
As exportações da China poderão não aumentar neste ano, mas ainda assim as siderúrgicas do país tentarão vender o máximo que puderem, disse N. C. Mathur, presidente da Associação Indiana de Desenvolvimento do Aço Inoxidável, em entrevista, em Cingapura.
“A China é uma grande ameaça”, disse Mathur, que trabalha há mais de 40 anos no setor, inclusive na Jindal Stainless. “Mas ao mesmo tempo os traders estão interessados em comprar material chinês devido ao seu custo e para ganhar dinheiro”.