A Rappi parou de cobrar empréstimos concedidos a restaurantes que construíram cozinhas especiais (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2020 às 15h00.
Última atualização em 7 de abril de 2020 às 15h00.
São tempos difíceis para os exércitos de entregadores na América Latina. Na região de 650 milhões de habitantes, as pessoas estão escondidas em casa, e com fome.
Mas as tropas crescem rapidamente com a propagação da pandemia de coronavírus, que afeta a economia e elimina empregos. Parece que qualquer pessoa com uma bicicleta ou moto tenta transportar pizzas e pedidos de supermercado, o que a aumenta a disputa entre startups como Rappi e iFood, gigantes globais como Uber Eats e pequenas empresas de entrega.
Italo Barbosa, que trabalhou para a Rappi, Uber Eats e para a startup espanhola Glovo em São Paulo, disse que o principal problema agora são as novatas. Ele estava em uma esquina, cercado por 20 homens, sendo que cerca da metade havia começado a trabalhar como entregadores na última semana depois de perderem emprego, a maioria na construção civil. “Temos mais entregas do que nunca, mas agora temos muito mais entregadores.”
Com as quarentenas na América Latina, o número de downloads de aplicativos de entrega aumentou em mais de 250 mil em março em relação a fevereiro, de acordo com a empresa de dados Sensor Tower. As estimativas são de que agora mais de meio milhão de motoristas - muitos deles refugiados da Venezuela - competem por pedidos dos restaurantes ainda em operação, de mercados e farmácias, transportando todo tipo de item. As empresas usam a receita para equipá-los com máscaras, luvas e álcool gel.
“Tem sido uma loucura”, disse Simon Borrero , diretor-presidente e cofundador da Rappi, com sede em Bogotá.
As vendas de entregas na América Latina quadruplicaram entre 2014 e 2019, e agora é a região que mais cresce no setor depois da Ásia-Pacífico, de acordo com a Euromonitor International. Investidores apostaram bilhões de dólares no segmento. Os aplicativos atraíram clientes com acordos de exclusividade, como taxas de entrega com desconto, e ajudaram restaurantes a expandirem suas cozinhas.
As ruas da Cidade do México a Buenos Aires agora estão inundadas com entregadores. A economia informal emprega cerca da metade da força de trabalho na América Latina, que não contribui para programas de proteção social. Na maioria dos países, os benefícios de seguro-desemprego podem ser irregulares, mesmo para os que se qualificam. Com isso, o número de entregadores deu um salto na pandemia.
A base de clientes está crescendo, como também os custos. A Rappi - fundada há cinco anos e que recebeu investimento de US$ 1 bilhão do conglomerado japonês SoftBank no ano passado, o maior para uma startup latino-americana - parou de cobrar empréstimos concedidos a restaurantes que construíram cozinhas especiais. A empresa reduziu taxas cobradas de alguns estabelecimentos e está importando centenas de milhares de máscaras e álcool gel.
As perdas da Rappi aumentarão mais do que o esperado em março e abril, disse Borrero. Em menos de um mês, a empresa dobrou o número de entregadores para 300 mil. Mas “para nós, serão meses difíceis”, disse.
Despesas relacionadas ao coronavírus continuam aumentando. O iFood, uma das maiores empresas de entrega do Brasil, começou a acelerar os pagamentos para os quase 147 mil restaurantes com os quais trabalha e criou um fundo de R$ 50 milhões para ajudá-los a sobreviver à pandemia, disse o diretor financeiro Diego Barreto. A empresa está reduzindo despesas de marketing e administrativas para ajudar a absorver custos adicionais.
Barreto diz que vê dois grandes desafios para o negócio: um é garantir o funcionamento da cadeia de entregas O outro é “ajudar os restaurantes a sobreviver”.