Brumadinho (Adriano Machado/Agência Brasil)
Mariana Fonseca
Publicado em 9 de fevereiro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2019 às 08h00.
Muitas razões podem estar por trás do rompimento de barragens como as da mineradora Vale em Brumadinho (MG) ou as da mineradora Samarco em Mariana (MG).
De acordo com um estudo da consultoria ambiental canadense AMEC Earth & Environmental, porém, tais desastres poderiam ter sido previstos com anos de antecedência. Bastava olhar para o aumento nas cotações de commodities como cobre e ouro.
Michael Davies e Todd Martin, respectivamente vice-presidente e diretor da AMEC Earth & Environmental, fizeram uma pesquisa comparando os preços de tais minérios com 143 rompimentos de barragens por mais de 40 anos (de 1968 até 2009).
Na média, há entre seis e sete incidentes com barragens a cada dois anos. O número variou de duas a 17 falhas a cada biênio analisado. O estudo aponta que, ainda que o ouro não seja o metal mais minerado, barragens deste minério foram as que mais apresentaram falhas.
Ainda que os pesquisadores apontem que não há uma correlação perfeita entre tais tragédias com as condições econômicas durante a época que as barragens são desenhadas, construídas e operadoras, é possível perceber que os rompimentos acontecem pouco tempo depois de um boom nos preços das commodities associadas à mineração.
Na comparação com os preços do cobre, a frequência de incidentes aumenta cerca de 25 meses depois do aumento das cotações. Já na comparação com os preços de ouro, a alta nas tragédias é vista 29 meses depois de um boom dos valores do minério.
Ou seja, há uma demora entre dois anos e dois anos e meio entre o fim de um ciclo de alta das commodities e rompimentos de barragens. Se considerarmos desde o início da valorização dos minérios, os incidentes demorariam de quatro a cinco anos para crescerem.
O estudo da AMEC Earth & Environmental também analisou por que os 143 incidentes com barragens ocorreram. As principais causas indicadas são inspeções cada vez mais espaçadas; desenhos apressados e materiais de baixa qualidade apenas para obter licenças mais depressa; escoamentos de rejeitos mal avaliados; e desconsideração dos solos mais adequados.
A falta de análise, controle e processos e operações adequados fica mais acentuada justamente durante o ciclo de alta nas commodities porque o aumento da demanda estimula a construção acelerada de mais campos de mineração.
Algumas empresas não dimensionam os custos iniciais de um projeto e começam a cortar suas bordas no meio do caminho, comprometendo a qualidade das barragens. Quando o preço das commodities baixa, a necessidade de enxugar os custos só aumenta. É possível dizer, portanto, que países teriam de prestar mais atenção aos campos de mineração criados no meio de uma época de bonança econômica.
Como maneira de prevenir incidentes, o estudo sugere o fortalecimento das instituições imparciais de controle dos campos de mineração. Em uma nota positiva, afirma que há documentos, padrões corporativos e percepção pública mais afinadas quanto a essas tragédias. Rompimentos como os vistos em Mariana e Brumadinho, porém, mostram quanto o Brasil está longe desse quadro otimista de mudanças na mineração.