Negócios

Qual é a história do pager, fenômeno que revolucionou a comunicação e colocou a Motorola no topo

Explosões de pagers deixaram pelo menos 9 mortos e mais de 2.800 feridos no Líbano nesta terça-feira

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 17h17.

Última atualização em 17 de setembro de 2024 às 17h33.

Tudo sobrenostalgia
Saiba mais

Os pagers, pequenos dispositivos eletrônicos criados para receber alertas e mensagens curtas, mudaram a forma como o mundo se comunicava nos anos 1980 e 1990.

Com seu apito característico, eles se tornaram uma ferramenta essencial para médicos, trabalhadores de emergência e executivos, antes de evoluir para um símbolo de status entre adolescentes. No auge, foram utilizados por mais de 60 milhões de pessoas ao redor do globo, e a empresa Motorola, uma das principais fabricantes, capitalizou essa revolução para se tornar líder no mercado de telecomunicações.

Nesta terça-feira, os pagers voltaram às manchetes por uma razão incomum: foram alvo de explosões coordenadas no sul do Líbano, matando ao menos nove pessoas, chamando a atenção para um dispositivo que há muito foi superado pelos celulares, mas cujo impacto no mundo moderno ainda é sentido.

A origem do pager e o papel da Motorola

A história do pager começa bem antes de sua popularização. No final da década de 1940, o canadense Al Gross, inventor do walkie-talkie, criou o conceito de radiomensagem, o que viria a ser o embrião do pager. No entanto, foi apenas em 1958, nos Estados Unidos, que o uso dos pagers foi autorizado para o público geral. Até então, esses aparelhos eram utilizados apenas para comunicação em emergências, como entre socorristas, policiais e bombeiros.

O grande avanço veio nas mãos da Motorola. Na década de 1970, a empresa de Chicago apresentou o primeiro pager com capacidade para exibir mensagens de texto em uma pequena tela de LCD. Antes disso, os pagers só notificavam o usuário com um som, exigindo que ele retornasse a ligação para saber a razão do "bipe". Esse novo modelo da Motorola representava um salto tecnológico que impulsionaria o uso em larga escala dos pagers nos anos seguintes.

Com o tempo, novos recursos foram incorporados, como sons personalizados e mensagens curtas. Isso permitiu que os pagers fossem usados em diferentes contextos, indo além das comunicações de emergência e entrando no dia a dia das pessoas comuns.

O sucesso mundial e a explosão do mercado no Brasil

Nos anos 1980 e 1990, os pagers atingiram o auge de sua popularidade, com a Motorola liderando o mercado global. Modelos icônicos, como o Bravo e o StarTAC, tornaram-se símbolos dessa época, e a capacidade dos pagers de funcionar em locais com pouca ou nenhuma cobertura telefônica lhes deu uma grande vantagem.

No Brasil, os pagers chegaram ao mercado em 1992, com um custo médio de US$ 400, equivalente a cerca de 2.200 reais em valores atuais. Desde o início, houve uma demanda crescente: já no primeiro ano, mais de 10.000 pessoas aderiram ao serviço.

O sucesso foi rápido, e o número de assinantes explodiu. Em 1993, já eram 100.000 usuários, chegando a 800.000 em 1996.

Entre as principais operadoras que ofereciam o serviço no Brasil, destacavam-se a Teletrim e a PageNet, que dominaram o mercado durante a década.

A era de ouro e o declínio dos pagers

O auge dos pagers ocorreu durante os anos 1990, quando eles eram a principal ferramenta de comunicação portátil. A confiabilidade desses dispositivos era um grande diferencial. Como operavam com transmissões de rádio, os pagers conseguiam receber mensagens em áreas remotas onde os celulares não tinham cobertura. Profissionais de emergência, médicos e empresas confiavam nessa tecnologia para garantir a comunicação ininterrupta.

Além disso, os pagers também encontraram um nicho inesperado entre adolescentes, que os utilizavam como símbolo de status. Muitos jovens personalizavam seus pagers e desenvolviam códigos numéricos para transmitir mensagens secretas. Era comum que se enviassem números que, quando lidos de ponta cabeça ou de maneira criativa, formavam frases ou expressavam sentimentos. E

Contudo, a ascensão dos telefones celulares nos anos 2000, que ofereciam muito mais funcionalidades, como chamadas de voz e envio de mensagens de texto (SMS), levou ao rápido declínio dos pagers. Em 1998, a Motorola foi ultrapassada pela Nokia como a maior vendedora de telefones móveis, marcando o início do fim da era dos pagers.

O legado dos pagers e o impacto na comunicação moderna

Embora a popularidade dos pagers tenha diminuído com a chegada dos celulares, o impacto dessa tecnologia ainda pode ser sentido. Os pagers pavimentaram o caminho para as comunicações móveis, influenciando diretamente o desenvolvimento de tecnologias como o SMS, o envio de e-mails via celular e, de maneira mais criativa, a criação dos emojis.

No Japão, por exemplo, os pagers tiveram um papel crucial no nascimento dos emojis. Durante a década de 1990, estudantes japoneses, especialmente meninas do ensino médio, adotaram os pagers em massa. As limitações dos aparelhos, que só permitiam a troca de mensagens numéricas, estimularam a criatividade dos jovens, que começaram a usar combinações de números para transmitir sentimentos e frases inteiras.

Em 1995, uma pequena operadora japonesa introduziu um pager que permitia o envio de símbolos, como corações, diretamente nas mensagens. Esse simples recurso teve uma recepção tão positiva que a gigante NTT DoCoMo seguiu o exemplo, incorporando novos símbolos aos seus aparelhos.

O fim de uma era e o futuro

A Motorola, empresa que dominou o mercado de pagers, também sofreu as consequências da mudança no cenário tecnológico.

Após perder espaço no mercado de celulares para empresas como Nokia e, mais tarde, Apple e Samsung, a Motorola passou por uma série de reestruturações. Em 2011, a empresa foi dividida em duas: Motorola Mobility, responsável pelos celulares, e Motorola Solutions, focada em equipamentos de telecomunicações para empresas e governos. A divisão de celulares foi vendida para o Google em 2011, que por sua vez a revendeu à Lenovo em 2014.

Hoje, embora os pagers tenham desaparecido do uso cotidiano, eles ainda encontram aplicação em nichos específicos, como hospitais, onde sua confiabilidade e segurança continuam sendo valiosas.

Acompanhe tudo sobre:TecnologiaMotorola

Mais de Negócios

Isak Andic, fundador da Mango, morre em acidente na Espanha

Jumbo Eletro: o que aconteceu com o primeiro hipermercado do Brasil

Esta empresa fatura R$ 150 milhões combatendo a inflação médica no Brasil

Equity: a moeda da Nova Economia e o segredo do sucesso empresarial