Thairo Arruda, CEO do SAF Botafogo: Botafogo começou a desenhar sua reestruturação em 2021 (Vitor Silva / Botafogo/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 15h36.
O Botafogo está com a missão de se reestruturar em 2024.
Nos campos, o desafio é se recuperar depois de uma temporada em que passou boa parte do Brasileirão em primeiro lugar na tabela, mas terminou na quinta posição, tendo que disputar a fase preliminar da Libertadores.
Fora do gramado, o desafio é econômico. O time carioca está em recuperação extrajudicial com uma dívida de 404 milhões de reais. Agora, protocolou na Justiça o plano de reestruturação, que prevê, entre outras coisas, a renegociação das dívidas cíveis em 15 anos.
“Esse processo de recuperação é determinante para solucionarmos de uma vez por todas a sufocante dívida do clube e recolocarmos o Botafogo na trilha do sucesso que tanto merece", pontua o CEO do SAF Botafogo, Thairo Arruda.
Centenário clube carioca, o Club de Regatas Botafogo nasceu em 1º de julho de 1894. O nome do time era uma homenagem à enseada do bairro onde competiam seus barcos.
Dez anos depois, em 1904, nascia na mesma região um clube de futebol, o Electro Club - primeiro nome dado ao Botafogo Football Club. Seis anos depois, ganhou o primeiro Campeonato Carioca e ficou conhecido como Glorioso, apelido que carrega até hoje.
Em 1942, nasceu o Botafogo Futebol e Regatas, da fusão dos dois clubes acima. De lá para cá, houve momentos de altas e baixas, com times estelares que contaram com craques como Garrincha e Nilton Santos.
Em 2002, houve a fundação da Companhia Botafogo, uma sociedade anônima por ações controlada pelo clube. Cinco anos depois, a holding venceu a licitação e se tornou concessionária do hoje chamado Estádio Nilton Santos, um dos principais do Rio de Janeiro.
Em 2021, o Botafogo ajudou a liderar no futebol brasileiro a discussão sobre a criação do marco legal do clube empresa - a conhecida Lei da SAF. Isso fez com que, em março de 2022, ações do clube fossem alienadas para a Eagle Holding, do empresário John Charles Textor. O grupo é sócio de cinco clubes de futebol em três continentes.
A recuperação extrajudicial é protocolada pelas duas frentes: o clube em si e a Companhia Botafogo. Somadas, as dívidas são de 404 milhões de reais.
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É verdade que os times de futebol têm dívidas altas. Somando os 20 principais clubes de futebol do Brasil, o montante da dívida passa dos 10 bilhões de reais. “Ainda que não seja exceção no cenário do esporte nacional, com o advento da Lei da SAF, o Botafogo passou a buscar incessantemente a equalização de seus passivos”, diz parte do plano de reestruturação da empresa.
As dívidas vêm de credores trabalhistas, cíveis e fiscais. Segundo o Botafogo, além da própria recessão no país, houve também
O Botafogo começou a desenhar sua reestruturação em 2021, quando pediu socorro no Regime Centralizado de Execuções, uma garantia prevista na Lei da SAF para renegociações de dívidas.
Em novembro deste ano, celebrou na Justiça a negociação dos credores trabalhistas via esse Regime Centralizado de Execuções. Segundo o clube carioca, no novo acordo, "as dívidas ficam equacionadas à realidade de fluxo de caixa e às receitas atuais do Botafogo". O clube ressalta ainda que houve cerca de 20% na redução da dívida trabalhista desde o início da gestão da SAF, e a previsão é que ela seja quitada em dez anos.
Entre outras estratégias estão:
Além disso, para a atual dívida, o plano de renegociação apresentado pelo Botafogo - que foi protocolado nesta quarta-feira (20) na Justiça do Rio de Janeiro estima que, para aqueles credores que aderirem à recuperação, haverá duas modalidades de pagamento:
Cerca de 35% dos credores já aderiram ao plano. Entre eles, a Odebrecht, empresários de atletas de futebol e ex-jogadores, como Rodrigo “Beckham”.
A recuperação extrajudicial e a recuperação judicial são mecanismos jurídicos para que empresas passem por reorganizações financeiras e consigam pagar suas dívidas.
A principal diferença entre as duas modalidades é que na recuperação judicial o autor da ação busca se socorrer do poder judiciário para, após aceito o processamento pelo juízo competente, negociar com seus credores um plano para pagamento das dívidas. Já a recuperação extrajudicial visa renegociar as dívidas fora das vias judiciais: a pessoa jurídica e os credores negociam diretamente as condições para o pagamento das dívidas e, apenas após a conclusão dessa negociação, um plano de pagamentos é levado à homologação do Juízo, que é o que acontece com o Botafogo agora.