Marco Castro, da PwC Brasil: Pesquisa Global CEO Survey se tornou um termômetro importante para entender como o ambiente de negócios está mudando e como os líderes estão reagindo (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 15h29.
Os avanços tecnológicos e a agenda de sustentabilidade já começam a se traduzir em resultados concretos para as empresas. Um terço dos CEOs no Brasil e no mundo afirma que a inteligência artificial (IA) generativa contribuiu para o aumento de receita e lucratividade no último ano.
No Brasil, 51% dos líderes dizem confiar na integração da IA aos processos essenciais de suas empresas — quase o dobro da média global (33%). Paralelamente, cerca de 30% dos CEOs relatam que, nos últimos cinco anos, os investimentos com baixo impacto climático resultaram em aumento de receita, desmistificando o custo elevado que muitas vezes é associado a essas iniciativas.
Esses dados fazem parte da 28ª edição da Global CEO Survey, conduzida pela PwC. A pesquisa ouviu mais de 4.700 CEOs de mais de 100 países, incluindo o Brasil, entre outubro e dezembro de 2024. A PwC, que atua em 151 países e está há mais de 100 anos no Brasil, realiza a pesquisa anualmente para captar as perspectivas, preocupações e prioridades dos líderes empresariais ao redor do mundo.
O estudo será apresentado oficialmente nesta segunda-feira, 20 de janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. "Esses resultados mostram que tanto a IA quanto os investimentos climáticos já começam a gerar retorno. No entanto, ainda estamos longe do pleno aproveitamento dessas oportunidades", afirma Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil.
Essas dinâmicas de inovação e sustentabilidade, segundo a pesquisa, têm promovido eficiência e redução de custos. Dois terços dos CEOs disseram que iniciativas climáticas tiveram impacto irrelevante ou até ajudaram a diminuir despesas.
Em relação à IA generativa, 52% dos executivos brasileiros destacaram ganhos de eficiência no uso do tempo dos funcionários, o que libera recursos humanos para atividades mais estratégicas.
"Os avanços tecnológicos e a transição para uma economia de baixo carbono são grandes vetores de transformação. Mas, sem um movimento de reinvenção mais amplo, as empresas correm o risco de ficar para trás", diz Castro.
No Brasil, a PwC tem conquistado uma adesão crescente ao levantamento: o país é o segundo território com maior número de participantes na pesquisa global. Esse aumento permitiu à PwC Brasil realizar recortes específicos por setores, regiões e até pelo tamanho das empresas, o que reforça o caráter estratégico do levantamento.
"O estudo é usado como referência não só por CEOs, mas também por conselhos, investidores e até governos. Ele se tornou um termômetro importante para entender como o ambiente de negócios está mudando e como os líderes estão reagindo", diz Castro.
Apesar dos avanços, os CEOs enfrentam desafios críticos. No Brasil, 45% acreditam que suas empresas não serão viáveis nos próximos dez anos se não reinventarem seus modelos de negócio. O número é superior à média global de 42%.
Contudo, o ritmo de mudança ainda é considerado lento: apenas 8% da receita das empresas no Brasil — 7% no cenário global — veio de novos negócios nos últimos cinco anos. "As empresas precisam sair da inércia. A sobrevivência no longo prazo depende da capacidade de adaptação e de reinvenção", afirma Castro.A pesquisa aponta que os investimentos estratégicos não têm acompanhado a urgência que o cenário exige. Embora muitos CEOs reconheçam a necessidade de mudança, 45% dos líderes brasileiros ainda relatam dificuldades em alocar recursos de maneira significativa para novos negócios.
"Os obstáculos incluem a dificuldade em tomar decisões rápidas e assertivas, bem como o desalinhamento entre o tempo de mandato dos CEOs e a necessidade de transformações de longo prazo", afirma Castro.
A preocupação com a disponibilidade de talentos qualificados desponta como a maior ameaça para os CEOs brasileiros em 2025. Para 30% dos líderes, a escassez de mão de obra especializada é o principal fator de risco para os negócios. O problema é ainda mais crítico no Brasil do que no cenário global, onde 23% dos executivos apontam essa preocupação.
"A questão dos talentos qualificados é uma queixa recorrente, especialmente nas áreas de tecnologia, que exigem competências específicas e avançadas. Quando pensamos em expandir o uso de IA generativa, por exemplo, essa preocupação faz todo o sentido", afirma Castro. A pesquisa reforça que a falta de profissionais capacitados pode atrasar a integração de tecnologias-chave e limitar o alcance das estratégias de inovação das empresas.
Mesmo diante de um cenário global marcado por tensões geopolíticas e comerciais — intensificadas pela nova gestão de Donald Trump nos Estados Unidos —, os CEOs brasileiros estão entre os mais otimistas.
Cerca de 68% acreditam que o crescimento da economia global vai acelerar nos próximos 12 meses, em comparação aos 36% de 2024 e aos 17% de 2023. Na média global, 58% compartilham dessa perspectiva.
Esse otimismo também se reflete nas expectativas para a economia brasileira: 73% dos CEOs acreditam na aceleração do crescimento doméstico em 2025. "A resiliência do Brasil continua surpreendendo, mesmo em um contexto de incertezas externas. Nosso mercado tem desafios, mas também oportunidades significativas em setores como energia limpa e agronegócio", afirma Castro.
No entanto, o executivo ressalta que o contexto de crescimento exige cautela. "A retomada global não será uniforme, e os CEOs precisam estar atentos às dinâmicas comerciais e geopolíticas que podem impactar seus negócios", diz.
"O Brasil continua atraente, mas perdeu espaço para economias regionais ou de proximidade, como México e Argentina, que vêm ganhando destaque no radar dos CEOs", diz Castro. Para os executivos brasileiros, os Estados Unidos permanecem como o principal mercado estratégico, mesmo com uma queda de interesse de 44% em 2024 para 36% em 2025. Já a China, que ocupava o segundo lugar no ranking global em 2023, caiu para a quarta posição.
Entre os mercados mais interessados no Brasil, o México se destaca, seguido por Estados Unidos e Irlanda. “Embora o Brasil ainda tenha desafios estruturais, a sua relevância em setores como energia e agronegócio continua a atrair atenção internacional. Mas, para voltar ao topo do radar global, precisamos de reformas que aumentem a competitividade e destravem investimentos”, diz Castro.
Ano | Posição no Ranking | Percentual (%) |
---|---|---|
2015 | 5º | 10 |
2024 | 14º | 3 |
2025 | 13º | 4 |