Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) (Adriano Machado/Rodolfo Buhrer/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de outubro de 2018 às 14h09.
São Paulo - Propostas vagas, sem explicações de como as medidas serão adotadas e falta de clareza nos programas econômicos dos candidatos à Presidência, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), têm gerado incertezas nos setores produtivo e financeiro e podem afetar o desempenho já pífio da economia brasileira em 2018 e em 2019.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reviu ontem sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 1,6% para 1,3%. Há setores, como o de calçados, que estão ainda mais pessimistas. "Acho que será uma façanha se chegar a 1,0%", diz Heitor Klein, presidente da associação dos fabricantes de calçados, a Abicalçados.
Segundo o Informe Conjuntural da CNI, que tem por base pesquisas com as empresas, as incertezas em relação ao programa econômico do futuro governo, em especial no que se refere ao ajuste fiscal, frearam também decisões de ampliação da produção, do emprego e do investimento. A CNI cortou de 3,5% para 2,2% a previsão de crescimento dos investimentos públicos e privados neste ano.
"A propensão ao investimento tem caído desde março. Após o abandono da reforma da Previdência e, à medida que a eleição foi se aproximando, a incerteza com a economia ficou mais latente. O debate entre candidatos não focou na agenda econômica, mas em segurança e corrupção", diz Flávio Castelo Branco, gerente executivo da CNI.
Na opinião de Klein, os investimentos só virão quando o setor reduzir sua capacidade ociosa, de até 35%. Para isso, são necessárias medidas para diminuir o custo Brasil, que tira a competitividade da indústria nacional. Ele ressalta, porém que, hoje, as propostas dos dois candidatos "não são suficientemente claras e detalhadas a ponto de dar confiança".
Para Abram Szajman, presidente da Fecomércio-SP, "enquanto não houver detalhamento de propostas não dá para falar em investir. O dinheiro é medroso e covarde".
José Velloso, presidente executivo da Abimaq (representa os fabricantes de máquinas e equipamentos), avalia que as empresas precisam ter maior convicção de como o próximo presidente vai enfrentar a crise fiscal, assim como simplificar o sistema tributário e reduzir o custo do crédito com uma reforma bancária.
"A definição do segundo turno não vai fazer o empresário comprar máquina. Nosso mundo é diferente do mercado financeiro. A indústria leva tempo para tomar decisões sobre ampliar produção", diz Velloso.
Congresso. Além das incertezas em relação aos programas dos presidenciáveis, a renovação no Congresso também é vista como um fator pouco favorável à retomada econômica, segundo o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. A leitura é que os parlamentares sem experiência terão dificuldade para fazer as articulações políticas necessárias para viabilizar projetos mais ousados. "O encaminhamento das reformas acabará mais lento. As incertezas tendem a cair (com o resultado do segundo turno), mas não será de uma forma expressiva", diz Borges, que reviu a projeção de crescimento do PIB do próximo ano de 3% para 2,2%.
No mercado financeiro, que começou a semana em euforia com a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad no primeiro turno, o clima já esfriou diante das incoerências do discurso do candidato de direita.
A pesquisa do Datafolha que indicou Bolsonaro com 58% das intenções de votos válidos não foi suficiente para fazer as ações subirem ontem - o Ibovespa, principal índice da Bolsa, caiu 0,91% e o dólar avançou 0,35%, a R$ 3,7763. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.