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Promoções, carnes e reformas: os desafios do Grupo Pão de Açúcar

Resultados do GPA concentram duas realidades: de um lado o crescimento do Assaí, formato de atacarejo, e do outro lado os desafios para o multivarejo

Grupo Pão de Açúcar: A varejista deve continuar dependendo das vendas no atacarejo para alavancar seus resultados (Germano Lüders/Exame)

Grupo Pão de Açúcar: A varejista deve continuar dependendo das vendas no atacarejo para alavancar seus resultados (Germano Lüders/Exame)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 20 de fevereiro de 2020 às 12h13.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2020 às 12h33.

O segmento de hiper e supermercados enfrenta desafios, principalmente para o Grupo Pão de Açúcar. Com a divulgação dos resultados do quarto trimestre e do ano fechado, o GPA mostrou que, embora sua marca de atacarejo, Assaí, continue com crescimento forte, a divisão de multivarejo conta outra história. 

A empresa apresentou lucro líquido consolidado de 98 milhões de reais no quarto trimestre, queda de 71,4% ante mesma etapa de 2018. O número veio abaixo da previsão média de analistas consultados pela Refinitiv, de 327,6 milhões de reais.  Pela manhã, depois que os resultados foram divulgados ontem à noite, as ações caíram 6,36%.

A receita bruta atingiu 18,9 bilhões de reais no trimestre, alta de 24,2%. No ano, a empresa atingiu faturamento de 61,5 bilhões de reais, alta de quase 15% em relação a 2018. O lucro bruto foi de 12,2 bilhões de reais no ano, alta de 9,5%.

Esses números concentram duas realidades distintas. Por um lado, "Assaí foi, mais uma vez, o destaque positivo, embora esteja desacelerando", diz o relatório do BTG sobre o formato que mistura atacado e varejo e foi o grande destaque entre as varejistas durante os anos de crise econômica. 

O Assaí, responsável por 49% das vendas, viu as receitas crescerem quase 22% no ano e 19,7% no trimestre. A empresa planeja continuar investindo no formato e prevê abrir 60 lojas nos próximos três anos. Outras 20 lojas Extra Hiper estão sob estudo para serem convertidas em lojas Assaí. O plano do grupo é alcançar 50 bilhões de reais em faturamento para a marca até 2022.

Do outro lado, está a divisão de multivarejo do Grupo Pão de Açúcar, que engloba supermercados, hipermercados e lojas de proximidade das marcas Pão de Açúcar, Extra e Compre Bem. As receitas caíram 2,4% no trimestre e cresceram apenas 0,1% no ano. A margem Ebitda, medida de eficiência, caiu 1 ponto, para 7,2% no ano. No quarto trimestre, a queda na margem foi maior, de 2,4 pontos, para 6,2%.

No trimestre, 51 lojas foram reformadas ou convertidas, o que levou a empresa a realizar mais promoções no período de reinauguração, diz o GPA.

A categoria de proteína animal, especialmente Carnes, Aves e Suínos, foi impactada em função de mudanças drásticas nas condições de mercado, com o aumento do preço em decorrência da gripe suína africana que dizimou rebanhos na China. 

"Os resultados do quarto trimestre foram decepcionantes, com vendas em mesmas lojas mornas", escreveu o Credit Suisse em relatório.

Planos de recuperação

Para melhorar os números da divisão de multivarejo, o grupo tem diversas iniciativas, como reforçar a experiência de compra em lojas conceito Pão de Açúcar. As lojas de proximidade continuam com crescimento de dois dígitos.

Um destaque é a loja Pão de Açúcar Adega, voltada para vendas de vinhos. A categoria de vinhos já era relevante para a marca Pão de Açúcar, mas o lançamento dessa loja impulsionou ainda mais as vendas. A loja física Adega, aberta em dezembro do ano anterior, já representa 20% das vendas de vinhos da divisão de proximidade e o site vendeu 61% de todos os vinhos no multivarejo. 

A empresa planeja aumentar as promoções no Extra Hiper e aumentar a participação das marcas exclusivas no carrinho do consumidor. Prevê inclusive mudar as políticas de preço nas lojas Extra Hiper, segmentando conforme o público de cada loja. 

"Do ponto de vista do multivarejo, a empresa apontou diversas iniciativas, que de certa forma indicam, na nossa visão, que o curto prazo continua desafiador", diz o Credit Suisse em relatório.

Melhoras graduais

As extensas reformas e conversões devem gerar resultados melhores nos próximos trimestres, mas o mercado não acredita em uma recuperação tão forte. "Embora vejamos uma tendência melhor para a empresa em 2020, se beneficiando da conversão de lojas de hipermercado para o formato de atacarejo, do fechamento de lojas não rentáveis, bem como da expansão e reforma de lojas Pão de Açúcar, a recuperação deve ser apenas gradual", diz o BTG.

A varejista deve continuar dependendo das vendas no atacarejo para alavancar seus resultados. "Nossa tese é que o Assaí deve continuar impulsionando a performance e retornos, enquanto devemos começar a ver resultados melhores no multivarejo, pois esperamos que a empresa colha os benefícios de seu plano extenso de renovação, com exposição reduzida aos hipermercados", escreveu o banco Safra em relatório.

O problema é que a concorrência nesse segmento está mais forte. No início desta semana, o Grupo Carrefour Brasil adquiriu de 30 lojas da rede Makro no país, como parte da estratégia de acelerar a expansão do Atacadão, sua marca de atacarejo. 

Foi a segunda maior aquisição do grupo Carrefour desde que chegou ao Brasil, há mais de 40 anos. Com tendências de crescimento mais suaves do que as vistas nos últimos anos, movimentos de fusões e aquisições devem se tornar mais frequentes, analisa o banco Itaú.  

Com grande dependência dos resultados do Assaí, o GPA pode encontrar ainda mais obstáculos pela frente.

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