“Empreender para a mulher é um ato de liberdade”, diz Vivi Duarte, do Instituto Plano de Menina.
Repórter
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 17h06.
No Brasil, onde o desemprego ainda desafia milhões de jovens, a educação empreendedora surge como um caminho não apenas para geração de renda, mas também para a realização de sonhos e a construção de futuros mais promissores. Para as jovens, em especial, cultivar qualidades empreendedoras é mais do que uma estratégia para driblar as adversidades do mercado de trabalho — é uma forma de explorar suas potencialidades, assumir o protagonismo de seus projetos de vida e criar soluções inovadoras que transformem comunidades e setores.
“Estimular o desenvolvimento de um comportamento empreendedor em meninas é crucial, pois proporciona a elas a oportunidade de desenvolver competências valiosas, como liderança, resolução de problemas e inovação”, explica Ana Rodrigues, gerente da unidade de educação empreendedora do Sebrae. “Esse estímulo é um meio de empoderá-las, permitindo que tomem decisões sobre suas vidas e carreiras.”
Para Vivi Duarte, fundadora e CEO do Plano de Menina, um instituto que capacita e conecta meninas de periferias a oportunidades que as tornem protagonistas de suas histórias, estimular o empreendedorismo entre as meninas jovens é “ampliar sua visão de fazer acontecer, para além de crachás de empresas”. “Com as habilidades técnicas e emocionais que elas aprendem nos cursos elas podem atuar tanto como grandes executivas que não paralisam diante de desafios complexos, quanto como realizadoras de seus negócios, empreendendo e buscando soluções para realizar seus planos”, afirma. “Essa autonomia para além de cargos e crachás corporativos todas as pessoas deveriam exercitar e ter acesso, pois nos liberta para buscarmos nosso resultado, independente de ser ou não escolhida ou contratada por uma empresa.”
E abordar o tema do empreendedorismo feminino ainda na infância e juventude pode fazer toda a diferença na vida das meninas. “Queremos mostrar às meninas que elas têm as mesmas oportunidades e os mesmos direitos que os meninos”, afirma Mônica Sousa, diretora executiva do departamento comercial na Maurício de Souza Produções (MSP), que desenvolveu junto com o Sebrae o programa "Donas da Rua do Empreendedorismo". “Acreditamos que, desde cedo, é preciso incentivar essa igualdade, para que as meninas se sintam empoderadas a buscar os seus sonhos e conquistar o seu espaço, não apenas no mundo dos negócios, mas também em áreas como artes, ciências, esportes e literatura.”
Criado em 2021, o programa tem o objetivo de incentivar desde cedo habilidades empreendedoras importantes mesmo para quem não necessariamente se tornará empreendedor no futuro, como liderança, autoconfiança, persistência, comunicação e persuasão. “Em uma das fases do projeto mostramos também as mães da Turma [da Mônica] empreendendo, pois é importante que tanto meninas quanto meninos vejam as mulheres nessa posição, assim como é importante que as mulheres que hoje não se reconhecem como empreendedoras se apropriem de sua atividade”, explica Mônica Sousa.
Além disso, a iniciativa busca incentivar as famílias a conversarem sobre esses temas com as meninas, criando um ambiente de apoio e encorajamento para que elas possam acreditar em seu potencial e se preparar para os desafios do futuro. “A nossa missão é inspirar as meninas a perceberem que podem ser o que quiserem e que o empreendedorismo pode ser uma das muitas formas de conquistar a sua independência e autonomia”, afirma Mônica de Souza. “Queremos que elas vejam o mundo como um espaço aberto e cheio de possibilidades, e que saibam que têm o direito e a capacidade de ocupar qualquer lugar que escolham, que pode não necessariamente ser empreender.”
Vendo a educação empreendedora como uma abordagem educacional que visa o desenvolvimento de habilidades e atitudes para construir projetos de vida e preparo para o mundo do trabalho, o Sebrae desenvolveu um programa voltado para estudantes em educação empreendedora. A iniciativa oferece formação de professores através de soluções para o desenvolvimento de meninas e meninos da rede pública de ensino, com objetivo de desenvolver nos estudantes as competências empreendedoras previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Até agora, cerca de 5 milhões de estudantes foram capacitados em educação empreendedora por meio dessa iniciativa do Sebrae.
“O objetivo é que os alunos possam explorar suas potencialidades e se tornarem protagonistas de seus projetos de vida”, explica Ana Rodrigues, do Sebrae. “Estimular jovens nesse caminho é crucial para obter pensamento crítico, criatividade, cidadania e capacidade de escolha. Jovens preparadas para seu protagonismo serão mais seguras para trilhar um caminho de independência financeira, autorrespeito, autorresponsabilidade e visão crítica de mundo.”
No Plano de Menina, fundado em 2016, já passaram mais de 2 milhões de meninas online pelos cursos e mais de 5 mil em workshops presenciais. “Nosso objetivo é ajudar mulheres a reconhecerem suas potências e valor, para além de comparações, e escrever suas histórias e plano de ação”, diz Vivi Duarte.
O foco do instituto está em meninas periféricas, para que possam “realizar seus planos, independente do CEP que nasceram”. “Temos uma série de pesquisas que mostram o quanto os padrões e a falta de oportunidades por questões de desigualdades sociais fazem com que as mulheres e meninas fiquem estagnadas e paralisem seus sonhos”, afirma Duarte.
Assim, a proposta dos módulos dos cursos de empreendedorismo feminino e intraempreendedorismo do Plano de Menina é permitir que as participantes entendam o valor de negócios criados por elas mesmas. Isso passa por conteúdos como educação financeira, planejamento, negócios, vendas, descoberta de habilidades e paixões, autoconfiança, liderança, networking e outras habilidades importantes que podem ajudá-las a acreditarem em si mesmas. “Empreender para a mulher é um ato de liberdade”, ressalta Duarte.
Pensamento alinhado a esse tem Karine Oliveira, fundadora da Wakanda Educação Empreendedora. Ela diz que o empreendorismo dá maior liberdade e oportunidade para jovens criarem seus próprios espaços. “Eu nunca me imaginei sendo dona de escola, até ter a ousadia de criar a minha primeira metodologia”, afirma.
Fundada em 2018, a Wakanda nasceu porque Oliveira enxergava distante seu sonho de se tornar professora, mesmo terminando a faculdade. “Decidi então imaginar como seria uma sala de aula comigo, e como eu iria ensinar”, conta. Foi aí que ela começou a organizar aulas de empreendedorismo, “para ajudar minha galera de periferia”. Oliveira escreveu as três primeiras aulas da Wakanda, se apaixonou e levou a ideia adiante.
As mulheres negras foram o público que se identificou com a metodologia logo de início. “Direcionei a metodologia para mulheres negras e negócios criados por necessidades e, a partir, daí tive grande aderência do público.”
Em seis anos, 7.200 pessoas foram impactadas pelos programas da Wakanda, 67% delas da Bahia. “Ensinar empreendedorismo para os jovens é apresentar mais uma saída”, diz Oliveira. “Mas por mais que a gente invista em empreendedorismo, sem educação de qualidade e direitos básicos de sobrevivência, como saúde, a gente não vai chegar a lugar nenhum.”
Os 3 caminhos da
Educação Empreendedora
Educar sobre empreendedorismo: fazer o estudante/professor/gestor entrar em contato com o campo de conhecimento do empreendedorismo, entendendo do que trata – e como ele se desenvolve.
Educar para o empreendedorismo: sensibilizar estudantes/professores/gestores para atividades empreendedoras, preparando-os para identificar oportunidades, planejar ações e empreender.
Educar por meio do empreendedorismo: levar o estudante/professor/gestor a adotar uma abordagem empreendedora e encarar sua aprendizagem como “empreendizagem”, considerando-a como um empreendimento a ser desenvolvido de maneira proativa e autônoma.
Fonte: Sebrae