Hyundai: a escassez de chips fabricados por empresas de semicondutores, devido à pandemia e problemas de produção em fábricas de chips, forçou montadoras a paralisar a produção (Germano Lüders/Exame)
A produção das montadoras recuou 15,8% em fevereiro contra igual mês do ano passado. Entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, 165,9 mil unidades foram produzidas no Brasil durante o mês passado, conforme balanço divulgado nesta terça-feira pela Anfavea, a associação que representa a indústria nacional de veículos.
Houve crescimento de 14,1% frente ao volume de janeiro, quando o resultado foi comprometido tanto pelas férias coletivas de diversas fábricas após a corrida de produção no fim de 2021 quanto pelo avanço do absenteísmo motivado por contaminações, ou suspeitas de contaminações, da variante Ômicron.
A reação não foi suficiente, porém, para evitar a queda de 21,7% da produção no acumulado dos dois primeiros meses de 2022. Os 311,4 mil veículos montados entre janeiro e fevereiro correspondem ao volume mais baixo no primeiro bimestre em seis anos.
Fora a persistente irregularidade no abastecimento de componentes eletrônicos, responsável ainda por paradas de produção, o setor sente agora a demanda perder força em meio ao contexto de aumento de preços, financiamentos mais caros e menor disponibilidade de renda dos consumidores.
As vendas de veículos em fevereiro, um total de 129,3 mil unidades, ficaram 22,8% abaixo do número apurado um ano antes. Frente a janeiro, subiram 2,2%. Mesmo assim, com 255,8 mil veículos licenciados, o menor volume entre períodos equivalentes desde 2005, o primeiro bimestre terminou com queda de 24,4%.
Por conta dos gargalos de produção, ainda persistem as listas de espera nas concessionárias, a depender dos modelos desejados pelos consumidores. Porém, o consumo dos últimos dois meses foi, em geral, inferior até mesmo à restrita oferta de veículos.
As montadoras já não encontram comprador para tudo o que produzem com a mesma facilidade do ano passado.
Do lado das exportações, que têm a Argentina como principal destino, o balanço segue positivo, com crescimento de 25,4% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado.
Frente a janeiro, os embarques, de 41,4 mil veículos, subiram 49 6%, o que leva o total no primeiro bimestre para 69,2 mil unidades, 17,3% acima dos dois primeiros meses de 2021.
O balanço da Anfavea mostra ainda que as montadoras de veículos terminaram fevereiro com estabilidade no emprego (fechamento de apenas cinco vagas), ocupando no fim do mês 101,3 mil pessoas.
Durante a coletiva de apresentação dos dados, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, também comentou sobre os efeitos da invasão da Ucrânia.
Segundo a entidade, a principal preocupação é o agravamento da crise dos semicondutores. Isso porque Rússia e Ucrânia são grandes produtores globais de paládio e gás neônio, matérias-primas para a produção de chips.
Outro temor é em relação a desafios logísticos por conta do conflito como congestionamento de portos, falta de contêineres, alteração de rotas áreas, contexto que pode pressionar o frete para as montadoras e encarecer ainda mais o preço para o consumidor final.
"Essas questões podem trazer um custo adicional para as empresas, além do atraso na entrega de peças e unidades, problemas que nós tivemos durante a pandemia, mas acreditávamos que seriam equacionados em 2022", declarou Moraes.