Negócios

Arquipélago da Amazônia tem a produção de açaí mais sustentável do país

O fruto cultivado no Bailique, que acaba de conquistar sua primeira agroindústria comunitária, é o único com a certificação socioambiental mais reconhecida do mundo

Manejo sustentável dos açaizais: uma forma de preservar a cobertura florestal, a biodiversidade e os estoques de carbono  (JBS/Getty Images)

Manejo sustentável dos açaizais: uma forma de preservar a cobertura florestal, a biodiversidade e os estoques de carbono (JBS/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2022 às 09h00.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2022 às 15h46.

São 12 horas de barco de Macapá até o Arquipélago do Bailique, na foz do Rio Amazonas. Distante cerca de 200 quilômetros da capital amapaense e só acessível por água, o conjunto de oito ilhas tem aproximadamente dez mil habitantes, distribuídos em 51 comunidades, que vivem integradas à dinâmica da floresta de várzea ao seu redor.

É desse cantinho do Brasil que vem o único açaí nativo, comunitário, 100% vegano, sustentável e certificado FSC® do planeta. O Forest Stewardship Council é o selo socioambiental mais reconhecido globalmente, presente em mais de 75 países, e atesta que a cadeia produtiva preserva o meio ambiente, respeita a legislação do país e os direitos dos trabalhadores.

O fruto produzido pela Amazonbai, cooperativa dos pequenos produtores da região, possui os selos FSC® de Manejo Florestal (relacionado ao manejo responsável) e Cadeia de Custódia (rastreabilidade de toda a cadeia), com verificação de impactos positivos nos serviços ecossistêmicos de carbono e biodiversidade – certificação pioneira no mundo para a cultura do açaí.

Além disso, o fruto do arquipélago é cultivado da forma mais natural possível, sem o uso de agrotóxicos, máquinas e fertilizantes, sendo cuidadosamente manejado apenas pelos próprios produtores. É também pura polpa da fruta, sem adição de açúcares, xaropes, corantes, aromas ou conservantes.

O alto padrão de qualidade e a certificação são resultados do empenho das comunidades, que se juntaram ao Grupo de Trabalho Amazônico (Rede GTA), em 2013, para elaborar o Protocolo Comunitário do Bailique, um marco para a população.

Entre outros pontos, o documento tem como objetivos a proteção dos conhecimentos tradicionais e o desenvolvimento sustentável, em suas dimensões econômica, social e ambiental.

Nesse contexto, o açaí foi definido como a principal cadeia produtiva da região, prioritária para o desenvolvimento local, e teve início uma série de oficinas de capacitação e boas práticas em manejo sustentável do fruto, que levaram ao aprimoramento de todo o processo.

A trajetória da Amazonbai ajudou a disseminar os benefícios da certificação. Hoje, são 132 unidades certificadas dentro do grupo, abrangendo também produtores do Beira Amazonas, no leste do Amapá.

Valioso para as comunidades e a floresta

O açaizeiro é parte da identidade das áreas de várzea do estuário do rio Amazonas e a espécie arbórea de maior relevância socioeconômica para essas regiões.

Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o cultivo do fruto é o principal sistema de produção de base agrária do Amapá, atua como importante agente de valorização das populações tradicionais e contribui significativamente para a conservação da floresta.

Seu manejo sustentável garante a manutenção da cobertura florestal e, por consequência, os estoques de carbono e a diversidade de espécies, já que conserva os habitats e a alimentação dos animais que vivem nessas áreas.

De geração em geração

A decisão de certificar o açaí também integra a estratégia de promover uma educação de qualidade no arquipélago, que seja capaz de manter os jovens no território, trazendo relevância para a realidade local.

O modelo escolhido foi o Escola Família. Ele se baseia na pedagogia da alternância, que valoriza os conhecimentos tradicionais: o estudante fica um tempo na escola e outro na comunidade, para colocar em prática os aprendizados e aprender com os mais velhos sobre as tradições comunitárias.

Para manter as duas instituições criadas nesse modelo, os cooperados da Amazonbai destinam 5% do valor da venda de cada lata de açaí ao fundo financeiro de apoio à Escola Família Agroextrativistas do Bailique (EFAB).

Um grande passo

A mais nova conquista do grupo é a inauguração, em dezembro, de uma agroindústria comunitária para o processamento e beneficiamento do açaí, uma clara necessidade da Amazonbai, que dependia de atravessadores para escoar o produto.

Agora, com a fábrica própria recém-inaugurada, os produtores do açaí mais sustentável do país poderão ter acesso direto ao mercado consumidor e vender o produto a um preço justo, que traga retorno financeiro para as comunidades envolvidas.

“Nossa intenção é levar a polpa de açaí, produzida com o nosso próprio esforço e cuidados especiais de manejo, aos consumidores de outras regiões e estados. Não vamos mais vender apenas o fruto de açaí, mas o produto, de valor agregado. Isso vai ser transformador para todos os cooperados”, ressalta Amiraldo Picanço, presidente da cooperativa.

Apoio para crescer

A construção da fábrica faz parte dos objetivos do Programa Economias Comunitárias Inclusivas, uma ação conjunta da Amazonbai com instituições parceiras, que visa o fortalecimento da bioeconomia do açaí, a conservação da floresta, a promoção da saúde e educação nas comunidades e o aumento da renda das famílias locais.

O projeto tem o apoio do Fundo JBS pela Amazônia, associação sem fins lucrativos dedicada a fomentar e financiar iniciativas que focam o desenvolvimento sustentável do bioma Amazônia.

Para a operação da agroindústria, o Fundo entrará com um total de R$ 7 milhões nos próximos três anos, assegurando as bases necessárias para que os cooperados amadureçam seus processos produtivos e faça disso algo duradouro.

Com esse impulso, a estimativa de produção para 2022 é de 377 mil litros de polpa de açaí. E o planejamento é que a Amazonbai amplie suas atividades, alcançando em torno de 240 cooperados.

“Oportunidades como essas, que ajudam a transformar verdadeiramente a vida de pequenos produtores da região amazônica, são justamente o que buscamos no Fundo”, destaca Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia.

“Nosso papel é oferecer condições para o crescimento sustentável e o desenvolvimento socioeconômico da região. Por isso, estamos muito satisfeitos pela conquista da Amazonbai”, completa.

No total, as iniciativas vinculadas ao Projeto Economias Comunitárias Inclusivas terão um aporte do Fundo de cerca de 15,9 milhões de reais nos próximos anos.

As ações abrangem ainda oficinas de capacitação profissional, instalação de estruturas para tratamento de água na região e o incentivo para o aumento da participação de mulheres e jovens nas atividades relacionadas à cadeia do açaí.

O apoio para a operação das duas Escolas Família também está entre as frentes desse aporte. “Com a escola, será oferecido ensino de qualidade aos filhos dos produtores que hoje não têm acesso ou que precisam se locomover por quilômetros de barco para poder estudar. Isso nos enche de orgulho”, diz Rosana Blasio, gerente-executiva do Fundo JBS.

Como contribuir

Empresas ou instituições brasileiras e internacionais de qualquer segmento e setor, além de pessoas físicas, podem colaborar com o Fundo JBS pela Amazônia. Para ser parceiro de implantação e/ou investimento financeiro dos projetos apoiados pela organização, clique aqui.

Acompanhe tudo sobre:EXAME-no-InstagramNetZero

Mais de Negócios

Esta marca brasileira faturou R$ 40 milhões com produtos para fumantes

Esse bilionário limpava carpetes e ganhava 3 dólares por dia – hoje sua empresa vale US$ 2,7bi

Os 90 bilionários que formaram a 1ª lista da Forbes — três eram brasileiros

Eles estudaram juntos e começaram o negócio com R$ 700. Agora faturam R$ 12 milhões