Sede da Petrobras: "os bancos não estão diretamente implicados na investigação, mas eles emprestam à Petrobras e às empresas envolvidas nas acusações de corrupção", diz analista (Sérgio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2015 às 13h43.
Nova York - A investigação de corrupção que provocou uma queda dos bonds da Petrobras e de construtoras brasileiras está atingindo também as dívidas dos bancos do país.
Os US$ 2,5 bilhões em notas do Banco do Brasil SA despencaram desde novembro, quando a Petrobras atrasou pela primeira vez a divulgação de resultados após a ampliação de uma investigação sobre supostos subornos recebidos pela empresa petrolífera em troca de contratos.
Os yields subiram 1 ponto porcentual, o triplo do aumento dos bonds financeiros de mercados emergentes. Os yields da Caixa Econômica Federal também deram um salto.
A investigação na Petrobras, que desencadeou o pior início de ano para os bonds brasileiros desde 2002 e interrompeu novas ofertas, pode resultar em provisões de perdas mais elevadas para os bancos do país, disse a Fitch Ratings em um relatório do dia 8 de janeiro.
Os procuradores se reunirão com os maiores bancos do país, que poderão ser multados se for evidenciado que eles foram negligentes, informou o Valor Econômico na semana passada, citando um procurador.
“Estamos vendo cada vez mais notícias ligadas aos bancos e isso cria uma volatilidade para os bonds”, disse Natalia Corfield, analista do JPMorgan Chase Co., por telefone, de Nova York.
“Os bancos não estão diretamente implicados na investigação, mas eles emprestam à Petrobras e às empresas envolvidas nas acusações de corrupção”.
Recomendação neutra
Ela tem um rating “neutro” para os bonds dos bancos brasileiros em meio à desaceleração econômica do país e às oscilações de preço ligadas à investigação na Petrobras.
A assessoria de imprensa do Banco do Brasil preferiu não comentar um e-mail pedindo informações sobre o impacto da investigação de corrupção na Petrobras sobre os bonds e os empréstimos do banco.
A assessoria de imprensa da Petrobras preferiu não comentar a respeito do risco dos empréstimos bancários em meio à investigação de corrupção.
O Banco do Brasil tem a maior exposição à Petrobras e às empresas construtoras, com os empréstimos respondendo por 11,4 por cento do total de empréstimos diretos do banco, segundo estimativas do JPMorgan. A fatia contrasta com a de 9,5 por cento do BNDES e com a de 6,2 por cento da Caixa, mostram as estimativas.
A assessoria de imprensa da Caixa disse em um e-mail que a exposição decorrente dos empréstimos diretos à Petrobras e às construtoras acusadas de envolvimento no esquema é de cerca de 3 por cento de sua carteira de crédito.
O banco disse que não prevê mudanças imediatas nas provisões para perdas e atribuiu a queda dos bonds da Caixa a uma maior volatilidade do mercado.
A carteira de empréstimos do BNDES é “sólida” e o banco entrega consistentemente informações aos investidores e às agências de classificação de risco, segundo um e-mail da assessoria de imprensa.
Qualidade de ativo
Os bancos estatais do Brasil podem estar mais propensos ao deterioramento da qualidade dos ativos relacionados aos setores de construção e petróleo devido ao crescimento “agressivo” dos empréstimos nos últimos anos, escreveram analistas da Fitch liderados por Claudio Gallina em um relatório do dia 8 de janeiro.
O Banco do Brasil, que tem sede em Brasília, aumentou os empréstimos a um ritmo anual médio de 19 por cento desde 2011, contra 13 por cento do Itaú Unibanco Holding SA, que não é estatal, segundo suas demonstrações de resultados.
A Caixa expandiu sua carteira de crédito mais de duas vezes mais rapidamente que seus pares brasileiros no período, segundo seus resultados financeiros.
Os empréstimos bancários aumentaram ao mesmo tempo em que o crescimento da maior economia da América Latina desacelerou, com a inflação excedendo o centro da meta do governo.
À medida que o crescimento se recupera, a perspectiva para os bancos irá melhorar, segundo Paolo Valle, codiretor de dívidas de mercados emergentes da John Hancock Asset Management.
Aguardando claridade
O desempenho dos bancos brasileiros é mais ligado à economia do que à Petrobras, disse Valle, cuja firma gerencia US$ 276 bilhões em ativos, em entrevista em Nova York. Embora a atual volatilidade possa ser alta, “no longo prazo estamos positivos em relação ao Brasil e aos bancos”.
Embora o Brasil tenha emergido de uma recessão na qual entrou no primeiro semestre de 2014, o crescimento deverá ficar abaixo da média latino-americana pelo quinto ano seguido em 2015, segundo estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg.
Os escândalos de corrupção podem reduzir o apetite por ativos brasileiros, adicionando ao ambiente macroeconômico “desafiador”, disse a Fitch.
Os investidores provavelmente aguardarão novos desdobramentos na investigação de lavagem de dinheiro antes de adquirirem mais bonds dos bancos, segundo Leonardo Kestelman, gestor da Dinosaur Securities.
“Nós não compraremos até entendermos completamente o que está acontecendo”, disse Kestelman, por telefone, de São Paulo.