Pela primeira vez em 13 anos, a Petrobras registrou prejuízo no segundo trimestre de 2012 (Sergio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2012 às 18h17.
A decisão na segunda-feira da agência de risco Moody's de colocar a Petrobras sob perspectiva de um possível rebaixamento da dívida é o mais recente sinal de que os problemas na estatal de petróleo do Brasil estão indo de mal a pior.
É também evidência de que a presidente da empresa, Maria das Graças Foster, nomeada há quase um ano, tem tido pouco sucesso em seu esforço para uma abordagem de maior eficiência e lucratividade em uma empresa dominada politicamente e com um plano financeiro indisciplinado de se tornar uma das quatro maiores produtoras de petróleo em 2020.
Em vez de cortar gastos, Graça Foster aumentou o plano da empresa de investimento nos próximos cinco anos, que já é o maior do mundo, em 5,3 por cento ante o anterior, para 237 milhões dólares. No segundo trimestre, a Petrobras registrou seu primeiro prejuízo em 13 anos.
A resposta de Graça Foster a essa perda foi um plano de controle de custos para cortar cerca de 15 bilhões de reais, sem dar detalhes.
Desde que atingiram o seu pico de alta de 11 meses em fevereiro, depois que Graça Foster assumiu o cargo, as ações da empresa perderam 14 por cento ao longo do ano.
Outros esforços também estão vacilando. Foram feitas algumas ofertas para os campos de petróleo e refinarias fora do Brasil, que a Petrobras quer vender, banqueiros disseram à Reuters no início deste mês. Mas não há muita chance de que com a venda de ativos a empresa conseguirá levantar no curto prazo os 14 bilhões de dólares de que precisa.
"As vendas de ativos e o corte de custos estão lentos e difíceis", disse Oswaldo Telles, analista de petróleo e gás do Banco Espírito Santo, em São Paulo. "Com a situação financeira da Petrobras ficando pior, a única coisa que vai proporcionar certo alívio é um aumento de preços de combustível."
Impedida de elevar os preços dos combustíveis pelo seu acionista controlador, o governo federal, que tenta manter a inflação sob controle, a área de Abastecimento da Petrobras já acumula mais de 8 bilhões de dólares em prejuízos neste ano. A receita foi afetada ainda com a queda da produção de petróleo ao longo do ano, com o declínio da produção em campos antigos, e a nova produção com cronogramas atrasados ou acima do orçamento.
GRAU DE INVESTIMENTO EM RISCO
Como resultado, pela primeira vez em mais de uma década, a Petrobras enfrenta problemas com sua dívida, única alternativa para o seu caixa até o aumento que sua produção e receita aumentarem em 2015 ou 2016.
Este ano, a Petrobras vai captar 25 bilhões de dólares, valor 56 por cento acima da sua média anual prevista, de 16 bilhões de dólares, disse a empresa. A dívida está agora acima do limite auto-imposto pela empresa de 2,5 vezes o Ebitda (lucro antes da juros, depreciação a amortização).
"A dívida já atingiu o teto e está em 2,6 vezes o Ebitda," disse uma fonte com conhecimento direto das finanças da empresa, à Reuters. "No próximo ano a dívida pode ir a três vezes o Ebitda e a Petrobras poderia perder sua classificação de grau de investimento." "Toda vez que há um pedido da Graça (Foster) por um aumento de preço dos combustíveis em uma reunião do conselho, Mantega sempre descarta o aumento dizendo que este não é o fórum adequado para isso", disse a fonte, referindo-se ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também é presidente do conselho de administração da Petrobras.
O Ministério da Fazenda não respondeu imediatamente aos pedidos para comentar o assunto.
A perda do grau de investimento ao 'rating' de crédito da Petrobras forçaria muitos investidores a vender as ações da companhia e elevaria seus custos de empréstimos, tornando pior a já difícil situação. Desde que atingiu um mínimo histórico de 4,83 por cento em 19 de outubro, o rendimento dos títulos em dólar da Petrobras com vencimento em 2040 saltaram 38 pontos-base, para 5,21 por cento.
"Esperamos que a decisão de reduzir a perspectiva sobre a dívida da Petrobras (da Moody's) irá alertar a sociedade e o governo para o risco de um rebaixamento da classificação atual e o impacto sobre os custos de empréstimos da empresa", disse o time de analistas de petróleo da Planner Corretora em um relatório nesta terça-feira.
REAJUSTE DOS COMBUSTÍVEIS
Em outras palavras, um aumento do preço do combustível é essencial para a Petrobras se recobrar financeiramente.
"As refinarias estão a 98 por cento de capacidade, a demanda de combustível está subindo e temos que importar gasolina mais e mais para atender a demanda", disse a fonte da Petrobras, que pediu anonimato por causa de seu acesso a dados confidenciais da empresa. "Nós não podemos fazer isso e continuar a financiar nosso plano de expansão".
O governo, porém, já está indo adiante com planos para fazer a Petrobras investir. O governo detém a maioria do capital votante da empresa, cujos títulos são negociados nas bolsas de São Paulo e de Nova York.
O governo considera petróleo e gás fatores essenciais que levarão o Brasil para o status de nação desenvolvida. Depois que a Petrobras encontrou grandes reservas de petróleo em 2007, na chamada camada pré-sal, o governo mudou a lei de petróleo do país em 2010, para dar mais controle à Petrobras e limitar a influência estrangeira.
Depois de quase cinco anos, o país aguarda para 2013 os primeiros leilões de novas áreas para exploração de petróleo. É esperada para maio a 11a rodada, ainda pelo modelo antigo, de concessão. O primeiro leilão do pré-sal, áreas sob os novos contratos de partilha de produção, é esperado para novembro.
De acordo com as regras de partilha de produção do pré-sal, a Petrobras terá de possuir pelo menos 30 por cento da área e operar toda a perfuração e produção. Outros podem ser parceiros financeiros apenas.
CAPITALIZAÇÃO
A área do pré-sal pode ter até 100 bilhões de barris de petróleo, o suficiente para suprir todas as necessidades dos Estados Unidos por mais de 14 anos, de acordo com o Instituro Nacional do Petróleo e Gás da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
"O Brasil amarrou o desenvolvimento de suas principais reservas de petróleo a uma única empresa, que já está no limite financeiro", disse Christopher Garman, diretor do Eurasia Group, em Washington. "Esse problema não vai desaparecer, e nós estamos provavelmente em um período de redução da produção." Com a dívida já além dos limites, restrições sobre as atividades de empresas estrangeiras de petróleo, e o improvável aumento do preço do combustível no futuro próximo, a Petrobras e o governo brasileiro terão poucas opções, disse Telles.
"Se eles não recebem um aumento, a Petrobras provavelmente terá que fazer o que os investidores mais temem, uma capitalização", disse ele. "O governo vai ter que comprar o estoque e diluir os investidores minoritários."