A rapidez no anúncio do nome de Farias pela J&F Participações, que adquiriu a construtora Delta, está dentro da estratégia de dar um choque de credibilidade (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 11 de maio de 2012 às 21h47.
São Paulo - A escolha do executivo Humberto Junqueira de Farias para dirigir a Delta Construções, que está no epicentro do escândalo que envolve o contraventor goiano Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, não causou surpresa ao mercado. O executivo, de 44 anos, é conhecido pela habilidade de encarar desafios e cumprir metas.
Foi justamente este perfil, classificado como conciliador a razão de ter sido o escolhido pelo magnata indiano do açúcar Narendra Murkumbi, para dirigir aqui suas operações, na Renuka do Brasil, onde estava até então. Antes, conforme perfil do executivo distribuído à imprensa pela J&F, trabalhou por 15 anos na Camargo Corrêa, onde alcançou a posição de presidente da Divisão de Cimentos e, anteriormente, foi presidente da Cavo, empresa do ramo de gestão ambiental.
Farias, engenheiro civil de formação e especializado em gestão na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e no IMD, na Suíça, foi um dos principais responsáveis pela aclimatação dos indianos na produção de açúcar e etanol no Brasil. Na Renuka, com proprietários habituados a um mercado mais regulado pelo governo e a uma tecnologia aquém da existente no Brasil, Farias contribuiu para que o “choque cultural” entre a empresa indiana e governo e setor sucroalcooleiro brasileiros fosse minimizado.
Ao assumir a empresa, logo de cara o executivo enfrentou uma crise com os fornecedores de cana, que estavam sem pagamento desde a gestão anterior, conseguindo encontrar um equilíbrio entre os produtores e os indianos recém-chegados ao Brasil. Atualmente, o mercado posiciona as usinas da Renuka entre as melhores do País.
Além disso, em seu período como presidente da empresa indiana, Farias enfrentou duas safras com quebra na produção e direcionou já em 2011, os investimentos para a expansão do canavial, matéria-prima cada vez mais disputada no interior de São Paulo.
Mesmo com as quebras e sem acesso aos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para renovação do canavial, o executivo manteve a expansão do processamento das usinas da empresa, atualmente em torno de 12 milhões de toneladas por safra, o que alçou a Renuka ao ranking das principais empresas de açúcar e etanol do País.
De fala mansa e espírito conciliador, o executivo tem à frente mais um desafio, o de resgatar a credibilidade de uma empresa envolvida em um dos maiores escândalos políticos recentes do País.
A rapidez no anúncio do nome de Farias pela J&F Participações, que adquiriu a construtora Delta, está dentro da estratégia de dar um choque de credibilidade e governança corporativa à empreiteira.
Segundo fontes do mercado, a Delta Construções é vista pela holding como um ativo muito importante, que tem tudo para crescer e ser responsável por até 10% do faturamento bruto da J&F, que deve subir de R$ 65 bilhões em 2011 para R$ 80 bilhões em 2014, conforme previsões da empresa. A holding espera melhorar a imagem da Delta nos próximos dois anos, medida que poderá tornar viável a abertura de seu capital.
Farias terá autonomia para montar equipe e uma das primeiras tarefas será concentrar as diretorias da construtora, espalhadas em cinco unidades, o que, na avaliação de especialistas, colaborou para que o nome da empreiteira fosse envolvido no escândalo do contraventor Carlinhos Cachoeira. “O objetivo principal da Delta é ter uma governança corporativa rigorosa, com regras de compliance e transparência no relacionamento com o mercado”, disse uma fonte do setor.