Linhas de transmissão da Eletrobras: companhia teve prejuízo de R$ 6,287 bilhões no quarto trimestre de 2013 (Adriano Machado/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2014 às 20h09.
Rio - O prejuízo de R$ 6,287 bilhões da Eletrobras no ano passado surpreendeu até mesmo os representantes dos acionistas minoritários no conselho de administração da holding federal. Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o conselheiro Marcelo Gasparino revelou que a previsão anterior da direção da estatal era de um prejuízo de R$ 800 milhões no exercício de 2013. "Esta era a previsão até a reunião do conselho de fevereiro. Fomos surpreendidos quando foi nos apresentado que o prejuízo era de R$ 6,3 bilhões", afirmou.
O resultado da empresa no quarto trimestre de 2013 foi afetado negativamente por itens não recorrentes que somaram R$ 3,481 bilhões, em função de baixa de ativos e provisões. "Esses testes de impairment e as provisões nunca foram discutidos no conselho. Até fevereiro passado, a situação não era assim", disse Gasparino. Esse foi o segundo ano consecutivo de prejuízo da Eletrobras, já que a perda apurada no ano de 2012 foi de R 6,8 bilhões, revertendo o lucro líquido de R$ 3,73 bilhões registrados em 2011.
Diante dessa situação, Gasparino e o outro representante dos minoritários no conselho, João Antônio lian, votaram contra a aprovação das demonstrações financeiras de 2013, assim como os representantes dos minoritários do conselho fiscal. "As demonstrações foram aprovadas por maioria, mas sem a aprovação dos minoritários", afirmou. O conselho de administração da empresa é composto por nove membros, sendo seis ligados à União, controladora da Eletrobras, dois ligados aos minoritários e um representante dos empregados.
Para Gasparino, o novo prejuízo só reforça que a Eletrobras enfrenta uma crise financeira, tornando cada vez mais necessária a capitalização da empresa pelo governo. "Isso seria desastroso para os acionistas minoritários", disse. O conselheiro observou que a agenda política tem pautado tanto a administração da estatal federal quanto a discussão sobre a necessidade de o País reduzir o consumo de energia em meio ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas por conta das chuvas mais fracas no verão de 2014.
"O País já enfrenta um 'racionamento' e deveria reduzir o consumo de energia em 5% para evitar o efeito maior no futuro. Assim como o governo deveria avaliar o racionamento de energia, a agenda política não deveria pautar a administração da companhia", afirmou Gasparino. Outro negócio visto com ressalvas pelo mercado que não foi discutido pelo conselho de administração da Eletrobras foi a presença de Furnas no leilão de concessão da hidrelétrica Três Irmãos (SP), realizado nesta sexta-feira, 28, na capital paulista. A subsidiária se sagrou vencedora da disputa em parceria com o fundo de investimentos Constantinopla, sendo a única a apresentar uma oferta pelo ativo.
"O conselho de administração não discute os negócios que as controladas da Eletrobras realizam", disse o conselheiro, criticando o fato de que alguns negócios fechados pelas empresas recentemente não seriam tão atrativos. A Eletrobras foi uma das empresas que aderiram à Medida Provisória 579, o que reduziu significativamente a receita dos ativos de geração e transmissão que tiveram os seus contratos renovados.