Eike Batista, CEO da EBX: companhias do grupo enfrentam a escolha entre reduzir gastos de capital ou diminuir de tamanho para continuarem operando (Jonathan Alcorn/ Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2013 às 22h13.
Rio de Janeiro/São Paulo - O endividado magnata Eike Batista está acelerando o desmembramento de seu império de mineração, energia e portos, cedendo controle a novos investidores à medida que algumas das suas companhias lutam por capital novo.
Diante de fortes perdas no caixa e com grande parte da fortuna de Eike destinada a garantir a dívida do Grupo EBX estimada em 11 bilhões de dólares, as companhias do grupo enfrentam a escolha entre reduzir gastos de capital ou diminuir de tamanho para continuarem operando.
Nesta quinta-feira, um dia após Eike firmar acordo para ceder o controle da operadora de portos LLX ao grupo EIG, executivos da MMX Mineração e Metálicos, espinha dorsal do conglomerado EBX, disseram que a produtora de minério de ferro terá em breve um novo acionista controlador.
Com a venda de participações majoritárias na produtora de energia MPX à companhia elétrica alemã E.ON e na LLX para o grupo EIG, duas das seis companhias abertas do grupo EBX não estão mais sob controle de Eike.
A MMX, a terceira, provavelmente será a próxima, e espera-se que Eike passe a deter pouco mais do que fatias minoritárias nas peças de seu antigo império quando a reestruturação for concluída.
"Estamos revisando nossas opções e focando nas operações portuárias, de maneira que o novo acionista possa tomar as decisões necessárias para garantir o crescimento e a expansão da companhia", disse o presidente-executivo da mineradora, Carlos Gonzalez, a investidores em teleconferência.
No último trimestre, a MMX, a LLX e a petrolífera OGX anunciaram prejuízos maiores do que o esperado, na medida que gastaram mais capital do que a receita gerada por suas operações nascentes. Com o aumento dos gastos de capital, cresceu a dívida.
No caso da MMX, a posição de caixa de cerca de 450 milhões de reais pode não ser suficiente para cobrir 1,2 bilhão de reais em dívidas vincendas nos próximos 12 meses e os planos de investimento de cerca de 700 milhões de reais.
O investimento estimado no terminal de minério de ferro Minas-Rio da LLX, que a companhia está construindo em parceria com a Anglo American dentro do Porto de Açu, da LLX, disparou para 1,7 bilhão de reais ante 974 milhões de reais, anunciou a empresa.
O papel da MMX recuou 6,16 por cento para 1,98 real nesta quinta-feira após o anúncio, na quarta-feira, de um prejuízo de 441,5 milhões de reais no segundo trimestre. Foi a primeira queda da ação em seis sessões.
Já a ação da OGX desabou 7,4 por cento, a 0,63 real, após o prejuízo líquido da empresa crescer em mais de 12 vezes, o caixa despencar e a dívida disparar. A ação da LLX avançou 10,6 por cento para 1,67 real, maior alta em dois meses e meio.
"Embora os resultados operacionais não devam atrair a atenção de investidores, acreditamos que a fraca posição de caixa, diante do passivo e das necessidades de investimento da OGX, vão pesar sobre a performance da ação", escreveu a analista sênior do Itaú BBA Paula Kovarsky em nota a clientes.
Fora do Olhar Público
Ex-bilionário cujo conglomerado outrora simbolizou a ascensão do Brasil à proeminência global, Eike é agora um reflexo das recentes mazelas do país.
Eike, que por muito tempo teve grande exposição, afastou-se dos olhos do público em meio a uma queda de mais de 25 bilhões de dólares em sua fortuna, que o derrubou do topo da lista de brasileiros ricos neste ano.
As decisões da LLX e da MMX são os mais recentes passos nos esforços de Eike para recuperar a EBX, que já foi avaliada a 60 bilhões de dólares mas sofreu uma série de atrasos em projetos e queda na confiança de que suas jovens empresas poderiam entregar receita e lucro antes de afundarem em dívidas.
O valor dos ativos do EBX, que havia disparado devido a esperanças de continuidade do boom das commodities brasileiras liderado pela China, está hoje em menos de 5 bilhões de dólares, de acordo com estimativas da Thomson Reuters.
Quando acabar a reestruturação do EBX, Eike terá entre 1 bilhão de dólares e 2 bilhões de dólares em ativos e 1,7 bilhão de dólares em dívida de longo prazo, disseram fontes com conhecimento direto do assunto à Reuters. É uma lasca de sua antiga fortuna, que no ano passado atingiu cerca de 35 bilhões de dólares, de acordo com a revista Forbes.
Praticamente o único ativo que não está na berlinda é a empresa de construção naval OSX. Uma venda da OSX não está sendo considerada neste momento, porque poderia ativar cláusulas em contratos de títulos que forçariam a companhia a recomprar sua dívida se a holding de Eike e de sua família for substituída como acionista controladora, disse a OSX.
Eike já está buscando compradores para os direitos de mineração de carvão na Colômbia detidos por sua mineradora de carvão CCX. A OGX, após classificar como "não-comerciais" as perspectivas de vários de seus campos de petróleo, está buscando parceiros para assumir parte dos altos custos necessários para aumentar a produção em diversos campos marítimos.
A OGX vendeu uma fatia de 40 por cento em dois de seus blocos mais promissores à companhia estatal de petróleo da Malásia, a Petronas, por 850 milhões de dólares em maio.
MMX
Discussões com possíveis compradores da MMX, que controla vários projetos de minério de ferro na América Latina, incluindo o gigante Serra Azul em Minas Gerais e um porto de minério de ferro quase concluído próximo ao Rio de Janeiro, estão em estágio avançado. A MMX interrompeu quase toda a atividade que não seja construção de portos em deferência a possíveis compradores.
O porto de MMX, a oeste do Rio de Janeiro, não é relacionado ao Porto de Açu, da LLX, no norte do Rio.
Eike vai deixar o Conselho de Administração da LLX, mas manterá uma fatia "relevante" e o direito de escolher um representante no Conselho. Ele também pode manter uma participação na MMX, que já tem investimento da sul coreana SK Holdings e da chinesa Wuhan Iron and Steel Co.
Gonzalez, da MMX, também disse que a companhia colocou sua mina de Corumbá à venda junto com outros ativos na esperança de encontrar investidores que possam recuperar sua fraca posição de caixa.
Ele também disse que é improvável que a MMX venda seu porto separadamente, uma vez que o comprador corre o risco de não ter minério de ferro suficiente para transportar por meio do terminal sem o minério do projeto de Serra Azul da MMX, que é conectada ao porto por ferrovia.
Como parte da venda ao novo acionista controlador, é provável que a MMX ofereça mais ações ao público geral e atuais acionistas para levantar capital adicional, disse Gonzalez.