Negócios

Por que uma rede de ursinho de pelúcia decidiu investir R$ 100 milhões num hotel temático em Gramado

Empreendedoras inauguram a operação em meio à reconstrução do Rio Grande do Sul, que se reergue após tragédia climática

Natiele Krassmann e Veronicah Sella, da Criamigos: "Quem inaugura um hotel no meio disso é muito otimista e corajosa" (Leandro Fonseca/Exame)

Natiele Krassmann e Veronicah Sella, da Criamigos: "Quem inaugura um hotel no meio disso é muito otimista e corajosa" (Leandro Fonseca/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 18 de julho de 2024 às 07h26.

Última atualização em 18 de setembro de 2024 às 18h06.

GRAMADO (RS) — Bem no centro de uma Gramado ainda vazia pela falta de turistas, que não conseguem chegar à turística cidade da serra gaúcha pela falta de voos para o Estado, um prédio de arquitetura bavaria chama a atenção. Em suas janelas, todas coloridas, luzinhas indicam que uma novidade vem por aí. 

A novidade é um hotel de 100 milhões de reais que acaba de ser inaugurado na cidade. Quem está por trás do negócio são as empreendedoras Natiele Krassmann e Veronicah Sella.

Elas são donas da Criamigos, uma rede de lojas de ursinhos de pelúcia personalizados que ganha, agora, um hotel temático infantil: o Mundo Criamigos. 

“Fomos muito resilientes em manter a inauguração para julho, mesmo com todos esses impactos do Rio Grande do Sul”, diz Veronicah. “Mas a nossa estratégia foi ativar todo o nosso banco de dados de clientes da Criamigos e convidar o povo para vir para cá. Tá tendo uma grande mobilização também para as pessoas viverem o turismo de Gramado, que tá lindo”.

As instalações ficam num prédio que recebeu por anos a fábrica da Ortopé. Por muito tempo, essa operação foi a maior empregadora da cidade. Agora, a Criamigos ganhou a concessão para usar o espaço por 40 anos. 

Como será o novo hotel da Criamigos

No Mundo Criamigos, a lógica será invertida: no centro das atenções e da estratégia estão as crianças.

“O que estamos vendo é que as crianças estão no centro da tomada de decisão dos pais e das mães”, afirma Natiele. “Os adultos escolhem restaurantes, passeios, viagens, tudo que encaixe para os filhos. E estaremos aqui para ser esse hotel”.

O espaço terá 32 suítes, cada uma com cerca de 40 metros quadrados. São três andares, além do térreo. Todos os quartos são temáticos. Alguns, maiores e mais caros, têm mais enfeites, espaço separado para os pais, jacuzzi e brincadeiras que podem ser feitas na própria suíte.

No corredor, projetores iluminam o passeio. No térreo, uma área aquática tem piscina infantil e jacuzzis para os pais. O bar é repleto de drinques sem álcool, pensando também na criança. Até na hora de fazer o check-in a criança participa: tem um espaço no lobby só para menores.

O hotel terá monitoria das 9h às 22h. Também haverá restaurante. O café da manhã, inclusive, estará disponível para venda mesmo para quem não esteja hospedado no hotel. Personagens infantis irão entreter a criançada nesse espaço durante as refeições. 

Qual é a história da Criamigos

As sócias Natiele Krassmann e Veronicah Sella se conheceram em Nova York. As duas estavam participando da NRF, uma das principais feiras de varejo do mundo e se encontraram quando procuravam um chope para beber. Dali, se aproximaram e visitaram um modelo de negócio que as inspiraram para criar a Criamigos, uma rede de lojas de ursinhos de pelúcia fundada em Gramado, na serra gaúcha.

A proposta da empresa é possibilitar que o cliente construa a pelúcia com o funcionário. Ele escolhe o animal, a cor, as roupas e até se quer gravar um recado em voz para ser ouvido quando o bichinho for apertado. Atualmente, são 74 lojas espalhadas pelo Brasil. Quase todas tocadas por franqueados. Até o fim do ano, querem ter 80 operações funcionando e 150 milhões de reais em receita. 

Como são os bichinhos de pelúcia hoje

Bem diferente dos ursinhos antigos, há até bastante tecnologia nas pelúcias vendidas hoje pela Criamigos. Primeiro, porque é tudo customizado. O cliente tem a experiência de "fazer" o ursinho de pelúcia do zero. Ele escolhe o animal que quer e na própria loja grava uma mensagem de voz para ser ouvida depois. Depois, enche o ursinho para ele ficar fofinho, e ainda escolhe a roupa para o bichinho usar.

Outro detalhe é que vai muito além de ursinho. No caso da Criamigos, há unicórnios, gatos, cachorros, pandas e vacas, por exemplo. Até personagens da Disney estão na lista de personagens.

Dos produtos que a Criamigos usa para fazer os ursinhos, quase todos são brasileiros. Eles vêm de fábricas terceirizadas que recebem homologação para produzir os itens para a rede. A maioria dos homologados ficam no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em São Paulo.

Qual foi a estratégia para expansão

Quando começaram a Criamigos com uma loja própria em Gramado em 2016, as empresárias não raro ouviam perguntas como “quem são essas duas doidas querendo vender ursinhos de pelúcia em plena era digital?”. Mas a operação vingou e já no ano seguinte abriram a seguinte, em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Em 2018, foram mais cinco, em cidades como Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo.

“No início, fizemos um cálculo que para ficarmos sem prejuízo, tínhamos que vender 16 ursinhos de pelúcia por dia. Um urso a cada meia hora”, diz Sella. “Agora no início de outubro, vamos completar 1 milhão de ursos vendidos”.

A estratégia da Criamigos foi expandir por meio das capitais dos Estados. Foi assim que chegaram a 72 unidades abertas em sete anos. “Fomos uma marca muito capilarizada, tínhamos a preocupação de levar o produto para o maior número de pessoas distantes da matriz, que nasceu em Gramado”, afirma Krassmann.

Por que um hotel agora

Depois de se consolidar com lojinhas de ursinhos de pelúcia, as empresárias quiseram dar um novo passo. A aposta no hotel é ter uma operação que consiga criar uma memória afetiva de longo prazo nos clientes e hóspedes. 

“E nesse espaço, a criança terá entretenimento o tempo inteiro. Terá um espaço recreativo, área com piscina, e a partir de novembro, um parque indoor que terá até montanha-russa”.

Esse novo parque já está em construção, mas atrasou por causa das chuvas, que impossibilitaram a chegada de matéria-prima e que atrasaram o serviço, já que parte dele seria feito a céu aberto.

A chuva, aliás, criou apreensão nas empresárias. Deveriam elas abrir mesmo agora, com o turismo em baixa e com as pessoas segurando suas reservas com medo de como será a economia gaúcha nos próximos meses?

“Entendemos que a melhor decisão era abrir, mesmo com uma ocupação um pouco mais baixa. Ajustamos a tarifa e bora pra frente”, diz Natiele. “Estamos bem otimistas, acho que esse é o mal do empreendedor. E quem inaugura um hotel no meio disso é muito otimista e corajosa”. 

Qual foi o impacto das enchentes

Apesar de criada no Rio Grande do Sul, a Criamigos tem grande parte das suas lojas fora do Estado. O próprio centro de distribuição fica em outra região, no Espírito Santo.

Assim, quando a chuva caiu, os impactos na empresa não foram tão significativos. O maior problema mesmo está em Gramado. A loja que a empresa tem na cidade fatura o equivalente a 10 operações normais. Em maio, com praticamente nenhum turista na cidade, o faturamento da unidade caiu 70% em relação ao ano seguinte. 

“Tivemos um pacote de medidas para as lojas do Rio Grande do Sul para passar por isso, mas nacionalmente a marca seguiu sendo abastecida”, diz Veronicah. “Temos fornecedores do Rio Grande do Sul afetados, mas nos mobilizamos para colocar a operação de pé o mais rápido possível”. 

Acompanhe tudo sobre:Rio Grande do SulHotéisNegócios em Luta RSConstruindo futuros

Mais de Negócios

Isak Andic, fundador da Mango, morre em acidente na Espanha

Jumbo Eletro: o que aconteceu com o primeiro hipermercado do Brasil

Esta empresa fatura R$ 150 milhões combatendo a inflação médica no Brasil

Equity: a moeda da Nova Economia e o segredo do sucesso empresarial