Negócios

 Por que uma gigante japonesa decidiu comprar parte de empresa de energia de SC

Conglomerado Mitsui fatura 105 bilhões de dólares - e mirou num negócio de 14 milhões de reais em Santa Catarina

Mercado livre de energia: Em setembro de 2022, o governo federal publicou uma portaria que permite a migração de todos os outros consumidores ligados em alta tensão

Mercado livre de energia: Em setembro de 2022, o governo federal publicou uma portaria que permite a migração de todos os outros consumidores ligados em alta tensão

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 29 de novembro de 2023 às 16h35.

Última atualização em 29 de novembro de 2023 às 16h59.

São 105 bilhões de dólares que entram anualmente como receita na Mitsui, uma gigante multinacional e multisetorial japonesa criada em 1947. A companhia trabalha com comércio de produtos e serviços de

  • ferro e aço
  • recursos minerais e metálicos
  • máquinas e infraestrutura
  • químicos
  • energia
  • estilo de vida
  • inovação
  • desenvolvimento corporativo

No Brasil, a japonesa tem investimentos desde os anos 1960. Por aqui, tem parcerias com empresas como Vale e Petrobras. Também tem participação, por exemplo, na hidrelétric  Jirau Energia, a quarta maior usina do Brasil. 

No meio de tantos números superlativos, a japonesa faz um movimento curioso agora: acaba de entrar como sócia minoritária da Camerge, um negócio de Santa Catarina criado em 2008 e que deve faturar 14 milhões de reais agora em 2023. 

Por quê? Principalmente para já estar na largada de um negócio cuja demanda deve crescer exponencialmente nos próximos anos. 

A Camerge trabalha ajudando empresas a migrarem e ficarem no mercado livre de energia. Nessa modalidade, o preço, a quantidade, o prazo de fornecimento e até a fonte da energia são negociados e definidos em contrato entre consumidores e geradores ou fornecedores de energia, sem passar, necessariamente, pela concessionária regulada na região. 

A empresa catarinense faz justamente a intermediação entre o consumidor e o fornecedor de energia. Ela ajuda na elaboração do contrato, na definição das necessidades do consumidor e na gestão de pagamentos.

Por que a demanda vai crescer?

A expectativa de aumento da demanda está atrelada a uma mudança nas regras de quem pode contratar essa modalidade de fornecimento de energia.

Até dezembro de 2023, a adesão ao mercado livre fica restrita a unidades consumidoras com demanda contratada igual ou superior a 500 kW, volume equivalente a uma conta mensal de 140.000 reais. 

A partir do ano que vem, qualquer negócio poderá negociar diretamente com o fornecedor de energia. Padarias, indústrias menores, lojas e restaurantes, por exemplo, que consomem menos de 500kW, também serão liberados para negociar quem será sua geradora de energia. 

“Calculamos que haverá a inserção de aproximadamente 200.000 consumidores no mercado”, diz Cristiano Tessaro, CEO da Camerge. “Queremos e estamos prontos para surfar essa onda também”. 

Qual a história da Camerge

A Camerge foi fundada em 2008. Tessaro era engenheiro elétrico e trabalhava com distribuição de energia na Celesc, uma das principais distribuidoras de energia do Estado. Ele saiu da empresa para criar a Camerge, ajudando companhias na gestão energética. 

O primeiro grande crescimento do negócio foi em 2011. Na época, a modalidade passava por uma transformação para atrair clientes de tensão entre 500 kW e 1.000 kW. Depois, em 2016, houve outro salto, quando teve uma redução no preço do mercado livre. 

“Nós fazemos gestão de energia”, afirma Tessaro. “Fazemos todo processo burocrático do cliente, para que no final ele tenha só que pagar a conta. E mostramos como ele teve vantagem econômica ao migrar para o mercado livre. Fazemos um relatório informando todos os savings”. 

E como a empresa fatura? Cobrando uma mensalidade para prestar o serviço ou uma taxa sobre o valor economizado. “No início, era sobre esse valor economizado, porque precisávamos dar confiança ao empresário que valia o investimento”, diz. “Hoje, o conceito de mercado livre de energia já está mais disseminado. Já é papo de boteco entre os CEOs”. 

Hoje, a empresa catarinense atua em 18 estados e planeja terminar o ano com receitas de 14 milhões de reais. 

Como acontece a sociedade com a Mitsui

Desde que a empresa escalou em 2016, Tessaro já era assediado por grandes companhias, que queriam adquirir ou fazer parte do negócio. Mas a conversa avançou mesmo com a Mitsui agora. “Outras empresas tinham vontade de explorar nossa carteira, mas sem melhorar ou trazer vantagens para nossos clientes”, afirma. “Mas com a Mitsui, temos princípios em comum, e eles já tem frentes de energia que podem ser clientes potenciais da Camarge”. 

“Há alguns anos, trabalhamos com energia, vendo oportunidades não só de geração, mas do setor de energia elétrica em geral, incluindo comercialização e gestão, que é o caso da Camerge”, diz Yusuke Koike, CEO da Mizha, 100% subsidiária da Mitsui, como executivo de negócios da multinacional. “Queremos desenvolver serviços de descarbonização”. 

Com a sociedade, a ideia é expandir e chegar a todos os estados da federação, triplicando o tamanho da empresa. Também querem incluir negócios da Mitsui de outras frentes (como infraestrutura) para virarem, também, clientes da Camerge. 

“Já há algumas empresas que estão passando a gestão de energia com a Camege”, afirma Tessaro. “Também abrimos uma filial em São Paulo para avançar em novas regiões do país. Queremos levar essa bandeira para todo Brasil”. 

Como o mercado livre de energia tem se movimentado 

O mercado livre existe no Brasil desde 1996, mas até agora as regras só permitiam a migração de grandes consumidores, com demanda acima de mil kW, ou 500 kW, no caso de fontes renováveis. Em setembro de 2022, o governo federal publicou uma portaria que permite a migração de todos os outros consumidores ligados em alta tensão. 

Esse movimento vem em época de avanços no mercado livre de energia. Só em setembro, 800 novos negócios viraram clientes nessa modalidade, o que elevou o total de unidades no segmento para 36.329.

Desde janeiro, 5.627 consumidores optaram por deixar o atendimento das distribuidoras. O ritmo de adesões deste ano é o maior já registrado e cresceu 68% na comparação com o mesmo período de 2022. O mercado livre já responde por mais de 37% do consumo total de eletricidade do país.

Acompanhe tudo sobre:Energia

Mais de Negócios

PilotIn: nova fintech de Ingrid Barth usa dados para ampliar acesso a crédito

Após sobreviver à pandemia, academia de Fortaleza cresce quatro vezes desde 2020

Hotel, parque e outlet: conheça a rede que vai investir R$ 500 mi em megacomplexo na Paraíba

Eles transformaram uma moto financiada num negócio milionário de logística