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Por que o pacote do governo ajuda as montadoras, mas nem tanto

Especialistas não acreditam em um boom de vendas, como em 2008; além disso, carros populares são cada vez menos procurados

Carros 1.0 já não estão entre os mais procurados pelos brasileiros nas concessionárias (Wikimedia Commons)

Carros 1.0 já não estão entre os mais procurados pelos brasileiros nas concessionárias (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2012 às 18h43.

São Paulo - Com o intuito de esquentar o consumo, o governo anunciou nesta segunda-feira um pacote de medidas para incentivar o setor automotivo. Assentada sobre o apetite da classe média, a redução tributária será mais generosa para os veículos  populares - os com motor 1.0 terão o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) zerado. A alíquota anterior era de 7%.


Como contrapartida à redução da carga tributária, as empresas também deverão ajustar o preço dos automóveis. No caso dos veículos 1.0, a expectativa é que a junção de fatores faça o preço cair até 10%.

A priori, as mudanças beneficiaram, de pronto, as duas maiores montadoras - Volkswagen e Fiat - e as versões de entrada dos seus consagrados campeões de venda, Gol e Uno. Juntos, afinal, esses modelos responderam por nada menos que 62% de todos os 281.484 novos emplacamentos realizados no ano, como mostram os dados da Fenabrave referentes aos primeiros quinze dias de maio.

Mas a análise não é tão simples quanto parece. Em primeiro lugar, o interesse dos brasileiros por carros com 1.000 cilindradas vem caindo - e muito. Segundo dados da Anfavea, os veículos com motor 1.0 tinham uma participação de mercado superior a 50,9% apenas dois anos atrás. Hoje, o percentual é de 38,6%. Na dianteira do ranking atual, aparecem os carros que apresentam entre 1.000 e 2.000 cilindradas, com uma fatia de 60,3% dos licenciamentos.

Para Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de pesquisas Data Popular, a virada sinaliza uma evolução no perfil de consumo dos brasileiros. Com mais dinheiro no bolso, eles teriam passado a valorizar outros atributos. E os carros "pelados", com parcos itens de série, e aqueles com motor 1.0, notadamente mais baratos, teriam perdido espaço para veículos com mais conforto, espaço ou potência.


Na esteira desse movimento, acredita Meirelles, montadoras como a Hyundai conseguiram ganhar avançar no mercado brasileiro ao oferecer um custo-benefício razoável na venda de carros mais possantes. Com os incentivos, é provável que esses veículos ganhem ainda mais apelo: a alíquota de IPI entre 1.000 e 2.000 cilindradas cairá de 13% para 6,5%, no caso dos carros movidos a gasolina, e de 11% para 5,5% para os automóveis flex. No preço final, o impacto deverá ser de 7%.

Demanda satisfeita

Se de um lado a redução dos impostos abre brecha para as montadoras emplacarem modelos mais caros e desovarem seu estoque, hoje acumulado em mais de 360.000 veículos, de outro, apontam especialistas, o boom nas compras pode não ser tão grande quanto o observado em 2008 e 2009. Temendo os efeitos da crise, o governo deu cabo a uma série de ações para injetar ânimo à economia. Diminuir o IPI para a indústria automotiva foi uma delas.


Na visão de Milad Kalume Neto, gerente da consultoria automotiva Jato Dynamics, grande parte da nova classe média já teria financiado o carro próprio naquela época, aproveitando a melhoria nas condições de financiamento. Hoje, essas mesmas pessoas ainda precisariam quitar de 12 a 15 parcelas, se considerado um parcelamento feito em 60 meses.

"Obviamente, o barateamento vai impactar as vendas, mas em escala muito menor", acredita. Contra o aumento vultoso das vendas, pesa ainda a elevada inadimplência registrada na compra de veículos. Hoje, os atrasos de mais de 90 dias respondem por 5,6% do total financiado a pessoas físicas, o percentual mais alto registrado desde o início da série histórica compilada pelo Banco Central, em 2000.

No saldo final, contudo, as montadoras não deixam de ter o que celebrarc. Se antes passaram a comprometer suas margens para manter a competitividade dos veículos em meio a condições mais adversas - como aconteceu com as importadoras, atingidas por um aumento de 30 pontos no IPI - agora contarão com mais folga para dirigir os negócios. E com o governo a seu lado. 

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