Ghosn é acusado de não declarar salários e outros benefícios recebidos pela Nissan (bloo/Bloomberg)
Karin Salomão
Publicado em 5 de abril de 2019 às 07h00.
Última atualização em 5 de abril de 2019 às 07h00.
O ex-CEO da Renault e da Nissan, Carlos Ghosn, foi preso novamente, quase um mês depois de ter sido liberado por pagamento de fiança. A prisão ocorreu depois que a Renault entregou novos documentos à justiça francesa, referentes ao envio de milhões de dólares a uma comerciante de carros em Omã. A suspeita é que essa empresa seja controlada indiretamente por Ghosn.
A prisão foi feita na manhã de quinta-feira no Japão, noite de quarta no Brasil. O executivo classificou a prisão como "degradante e arbitrária". Ele foi detido pela primeira vez no dia 19 de novembro e estava em prisão domiciliar desde o dia 6 de março, depois de pagar fiança de 8,9 milhões de dólares.
Um porta-voz dos procuradores disse que Ghosn foi detido por receio de que ele pudesse destruir provas. Junichiro Hironaka, que chefia a equipe de advogados de Ghosn, afirmou que ficou provado que não existe risco de fuga do ex-executivo nem de destruição das provas.
Ainda que as informações que levaram a essa prisão sejam novas, a investigação não é. Esta é a quarta acusação de má conduta ligada à declaração de suas rendas contra Carlos Ghosn, que nega os crimes.
A Nissan estava investigando se Ghosn enviou milhões de dólares dos fundos da companhia para uma distribuidora de carros de Omã. A Renault entregou, há alguns dias, novas informações sobre esses pagamentos para a justiça francesa.
A suspeita é que a distribuidora seja controlada indiretamente pelo ex-executivo e que ele tenha usado o valor recebido pela companhia para pagar empréstimos pessoais e comprar um iate. A nova acusação pode atrasar o seu julgamento, que deveria começar em seis meses.
Ghosn é acusado de não declarar salários e outros benefícios recebidos pela Nissan. A montadora estimou em 9,2 bilhões de ienes (73,8 milhões de euros) os pagamentos supostamente estipulados ao ex-presidente da companhia.
Ele também é acusado de usar os fundos corporativos indevidamente. Os benefícios recebidos - e não declarados - por Ghosn enquanto comandou a Nissan e suas parceiras Renault e Mitsubishi são extravagantes. A lista de benefícios também inclui residências de luxo em quatro continentes e uma festa de casamento em um palácio na região de Versalhes, na França.
O segundo casamento do executivo foi realizado no Grand Trianon, palácio na região de Versailles que foi residência oficial de presidentes da França, e segundo a Renault, há evidências de que o evento tenha sido realizado com o uso indevido dos fundos da empresa.
A Nissan teria pago até as mensalidades dos quatro filhos de Ghosn quando eles estudaram Universidade de Stanford, entre 2004 e 2015, segundo pessoas a par do assunto.
Já para a defesa de Ghosn, o motivo para a prisão é outro. O advogado Hironaka acredita que a nova prisão visa manter Ghosn sob controle para impedi-lo de falar publicamente.
"Por que me prender se não for para tentar me quebrar? Não serei quebrado. Sou inocente das cobranças sem fundamento e das acusações contra mim", afirmou o ex-executivo em comunicado divulgado por um representante, depois da prisão.
O executivo quer contar a própria história. Nesta semana, ele criou uma conta no Twitter para anunciar que planeja realizar uma coletiva de imprensa no dia 11 de abril. "Estamos nos preparando para dizer a verdade sobre o que está acontecendo", tuitou em inglês e japonês.