São Paulo – A Petrobras ganhou destaque nas eleições 2014 não só por conta dos últimos escândalos envolvendo o nome da estatal.
A petroleira, que já foi a maior empresa do país em valor de mercado, sofreu um revés em seus negócios nos últimos anos e, para especialistas consultados por EXAME.com, são várias as razões que podem explicar isso.
A maioria das estatais no país nunca foi exemplo de governança corporativa, principalmente por não conseguirem atender os interesses de investidores e do estado ao mesmo tempo e com a Petrobras não é diferente.
Veja, a seguir, os principais pontos que colocaram a Petrobras nos holofotes dessas eleições.
Dívida líquida
Nos últimos quatro anos, a dívida líquida da companhia cresceu quase 300%, de acordo com dados da Economatica. Passou de 61 bilhões de reais para 241 bilhões de reais até junho de 2014. O caixa, por sua vez, não avançou na mesma proporção e cresceu menos de 20% no mesmo período.
“No atual governo, o aumento da dívida da Petrobras foi brutal, principalmente por conta do acelerado plano de investimento, em virtude do pré-sal, e pelos reajustes nos preços que ficaram aquém na comparação com os preços praticados no mercado internacional”, afirma Flavio Conde, analista-chefe da Gradual Investimentos.
Pré-sal
Em 2006, a Petrobras anunciou a descoberta de Tupi, atual campo de Lula, na Bacia de Santos, que concentra grande quantidade de petróleo abaixo da camada de sal. No dia 1º de maio de 2009, a estatal deu início à produção do pré-sal de fato.
Não há dúvida de que a descoberta trouxe benefícios não só à empresa, mas ao país. Para Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus, no entanto, é preciso cautela na hora de fazer qualquer análise sobre o pré-sal.
“O marco regulatório do setor do petróleo não tem favorecido a Petrobras no que diz respeito às concessões do pré-sal. Isso porque a companhia é obrigada a investir em 30% de todos os blocos mesmo que não queira ou que o ativo não seja interessante para suas operações”, afirmou Miranda.
A Petrobras, por sua vez, se defende afirmando que a produção acumulada do pré-sal já ultrapassou a marca de 360 milhões de barris de óleo. De 2010 a 2014, a média de produção diária dos reservatórios cresceu dez vezes, avançando de uma média de 42.000 barris por dia, em 2010, para 411.000 barris por dia até maio deste ano.
A produção do pré-sal corresponde a cerca de 20% de toda a produção da Petrobras e, de acordo com estimativas da própria estatal, deve ultrapassar a marca de 50% em quatro anos, só não é possível prever a que custo.
Reajuste de preços
O reajuste nos preços da gasolina e do diesel é outro ponto de discórdia e que sempre está em evidência na Petrobras. Segundo Conde, o governo vem reajustando os preços todos os anos, mas sempre de 10% a 20% abaixo na comparação com os preços praticados no mercado internacional.
“A verdade é que todos os governos ao longo dos anos perceberam que tinham com a Petrobras um instrumento para o controle da inflação e é isso que estão fazendo. Não reajustam os preços da gasolina e do diesel como deveriam para manter a inflação estável”, diz Conde.
A política de reajuste gerou uma dívida de mais de 60 bilhões de reais para a Petrobras, nos últimos quatro anos, na área de abastecimento.
“A situação é ainda pior, porque o Brasil não é autossuficiente e precisa importar petróleo. Ele compra mais caro lá fora e vende aqui a um valor menor. Não dá para ser um negócio sustentável assim”, afirma Conde.
Valor de mercado
Com a dívida crescendo, a geração de caixa não avançando na mesma proporção e acionistas insatisfeitos, a Petrobras também perdeu valor de mercado nos últimos anos. A companhia que já figurou como maior do país, atualmente perdeu o posto para a Ambev com uma diferença de mais de 30 bilhões de reais.
No final de 2010, a Petrobras tinha valor de mercado de 380 bilhões de dólares. Nesta semana, após uma queda de mais de 15%, está avaliada em 212 bilhões de reais.
Nesta semana, a Moody's, agência de classificação de risco, cortou os ratings da dívida da Petrobras e manteve a perspectiva negativa para a nota da companhia. O corte foi justificado em decorrência da dívida alta e da dificuldade da empresa para reajustar os preços dos combustíveis.
Investigações
Além dos problemas operacionais e financeiros que a Petrobras tem de lidar, a companhia é alvo de investigações por diversas denúncias. Entre elas, a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que apura um esquema bilionário de lavagem de dinheiro dentro da empresa.
Segundo reportagem da revista Veja desta semana, o doleiro Alberto Youssef, envolvido no escândalo, teria dito para a Polícia Federal que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff tinham conecimento sobre o esquema de corrupção da Petrobras.
Youssef foi preso em março deste ano por envolvimento em suspeitas de corrupção e desvio de recursos investigados pela Operação Lava Jato. A estimativa é que tenha sido movimentado um total de cerca de 10 bilhões de reais indevidamente na Petrobras.
Recentemente, Dilma Rousseff admitiu que "houve desvio" na Petrobras. A confirmação ocorreu durante entrevista a jornalistas, no Palácio da Alvorada. "Se houve desvio de dinheiro público queremos ele de volta. Se houve não, houve, viu?", afirmou Dilma.
Futuro
Independentemente do que fizer o vencedor das eleições de 2014, para especialistas consultados por EXAME.com, no curto e médio prazo o cenário para a Petrobras ainda será desafiador. "Principalmente se a gestão da companhia continuar no mesmo ritmo, ou seja, com investimentos agressivos e dívida que só cresce", diz Conde.
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1. Como tudo começou
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1/19 (Banco de Imagens da Petrobras)
A Petrobras foi fundada em 03 de outubro de 1953. A companhia foi estabelecida por meio da Lei nº 2004, sancionada pelo então presidente
Getúlio Vargas. No início de suas operações, a Petrobras era supervisionada pelo Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Na foto, Eugênio Antonelli (esq.), o primeiro empregado da Petrobras, o funcionário Yvan Paes Barreto e o presidente Getúlio Vargas.
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2. O primeiro logotipo da Petrobras
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2/19 (Banco de Imagens da Petrobras)
A Petrobras só ganhou sua primeira identidade visual cinco anos após a sua fundação. Em 1958, a companhia ganhou o primeiro logotipo desenvolvido por Luiz Pepe, um de seus funcionários. O logo era composto por um losango amarelo, de contorno verde e com a palavra Petrobrás, ainda com acento, em azul. Tanto a forma quanto as cores utilizadas faziam menção à bandeira brasileira.
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3. Primeira subsidiária
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3/19 (Banco de Imagens da Petrobras)
No final de 1971, a Petrobras criou a sua primeira subsidiária, batizada de Petrobras Distribuidora – para administrar os postos de combustíveis da companhia. Na época, a rede já contava com 804 postos e era a terceira desse mercado no país. Três anos após a criação da subsidiária, em 1974, Petrobras Distribuidora se tornou a maior companhia de distribuição de petróleo no mercado brasileiro.
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4. Diversificação de portfólio
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4/19 (Banco de Imagens da Petrobras)
Um ano depois de lançar o etanol, a Petrobras apresentou ao mercado sua primeira linha de óleos lubrificantes, batizada de Lubrax. As tecnologias utilizadas nos mais de cem produtos da linha Lubrax era, na época, uma das mais avançadas do mundo e atendia a área automotiva, de aviação, o setor ferroviário e marítimo.
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5. Nova regulamentação de petróleo
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5/19 (REUTERS/Sergio Moraes)
Em 1997, com a Lei 9.478/97, o Brasil ganhou uma nova regulamentação para o setor de petróleo. O setor passou a ser regulado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP). Com a mudança, a Petrobras passou a atuar em um cenário de competição direta com companhias estrangeiras. Isso porque, as áreas concedidas passaram a ser arrematadas em leilões públicos, abertos para empresas de petróleo de todo o mundo. Na primeira licitação para conceder blocos exploratórios promovida pela ANP, a Petrobras saiu vencedora em cinco das sete propostas apresentadas.
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6. Compra de termelétricas
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6/19 (Geraldo Falcão/Petrobras/Divulgação)
No ano 2000, a Petrobras iniciou o fornecimento de gás natural ao mercado termelétrico e também comprou diversas participações em centrais termelétricas movidas a gás natural. A Termoceará, que entrou em operação comercial em outubro de 2001 no município de Caucaia, no Ceará, foi a primeira usina com fornecimento de gás garantido pela Petrobras. Hoje, a Petrobras é a sétima maior geradora de energia do país com uma capacidade total instalada próxima a 6.900 megawatts.
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7. Gasolina Podium
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7/19 (J. Valpereiro/Petrobras)
Em 2001, a Petrobras lançou no mercado a Gasolina Podium, a mesma utilizada nas corridas de Fórmula 1. A tecnologia foi considerada a mais avançada do mundo pela alta capacidade de octanagem - processo químico responsável pela resistência à detonação do combustível que, neste caso, quanto maior, mais potência.
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8. 2006 e a descoberta do pré-sal
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8/19 (Agência Petrobras)
Em 2006, a Petrobras anunciou a descoberta de Tupi, atual campo de Lula, na Bacia de Santos, que concentra grande quantidade de petróleo abaixo da camada de sal. Os volumes recuperáveis estimados e a comprovada qualidade do óleo fazem do pré-sal uma das mais importantes descobertas da história recente da indústria de energia mundial. A Petrobras tem 45 instalações em águas profundas e ultras profundas.
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9. Primeiro navio
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9/19 (Agência Petrobras)
Em 2011, a Transpetro recebeu o navio de produtos, primeiro do Programa de Modernização e Expansão da Frota da companhia. Batizado de Celso Furtado, a embarcação é usada para o transporte de derivados de petróleo entre os estados brasileiros.
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10. Diesel S-10
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10/19 (André Valentim/Petrobras)
Neste ano, a Petrobras disponibilizou para todo o Brasil o Diesel S-10, com baixo teor de enxofre. O combustível substituiu o S-50 nas bombas dos postos em todo o país. Entre 2005 e 2012, a companhia investiu 27 bilhões de reais para produção e movimentação do diesel com baixo teor de enxofre. A Petrobras, até 2017, investirá mais 13,4 bilhões de reais para elevar a qualidade do diesel.
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11. Brasil autossuficiente em petróleo só em 2020
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11/19 (Dida Sampaio/Agência Estado)
Em abril de 2006, a Petrobras, com o apoio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, declarou a autossuficiência do Brasil na produção de petróleo. Segundo a companhia, na época, o marco só foi conseguido com a entrada em operação da plataforma P-50. A autossuficiência, no entanto, não perdurou por muito tempo e o Brasil começou novamente a importar petróleo de outros países.
Recentemente, a estatal voltou a afirmar que o Brasil deve se tornar autossuficiente em petróleo somente em 2020.
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12. Projeto Tamar
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12/19 (Agência Petrobras)
Um projeto importante voltado ao meio ambiente e que teve a participação da Petrobras é o Projeto Tamar. Criado no início da década de 80, a iniciativa mudou os rumos das tartarugas-marinhas no Brasil. Em 2013, o Tamar registrou recorde no país de tartarugas marinhas gigantes fêmeas.
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13. Tragédias
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13/19 (Petrobras/Divulgação)
Nem só bons acontecimentos marcaram os 60 anos de história da Petrobras. Durante esse período, alguns acidentes também fizeram parte da trajetória da companhia. Em 2001, duas explosões em uma das colunas da plataforma P-36 mataram 11 funcionários da Petrobras. Depois das explosões, a plataforma tombou em 16 graus, devido ao bombeio de água do mar para o seu interior, o suficiente para permitir alagamento que levou ao seu afundamento.
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14. Mais uma morte
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14/19 (Fernando Gabeira/Divulgação)
Em 2009, outro acidente em um navio-plataforma P-34 da Petrobras matou um prestador de serviço da companhia. O acidente foi provocado por falha de uma válvula de bloqueio na plataforma.
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15. 34 presidentes
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15/19 (Carlos Namba/VEJA)
Durante seus 60 anos de história, a Petrobras teve 34 presidentes. Na foto, Ernesto Geisel, que comandou a petroleira de novembro de 1969 a julho de 1973.
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16. Futuro ministro
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16/19 (Orlando Brito/Veja)
O engenheiro aeronáutico Ozires da Silva comandou a Petrobras entre maio de 1986 e junho de 1988. Depois de sair do comando da estatal, Silva se tornou Ministro da Infraestrutura do Brasil Na foto, o então presidente da Petrobras visita a plataforma de Enchova, na Bacio de Campos, em setembro de 1987.
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17. Antecessor de Gabrielli
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17/19 (Fábio Motta/Agência Estado)
José Eduardo Dutra foi presidente da Petrobras de janeiro de 2003 a julho de 2005. Na foto, o executivo concedia sua primeira entrevista coletiva como presidente, na sede da empresa.
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18. Etanol de segunda geração
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18/19 (Divulgação/Petrobras)
A Petrobras investirá até 2016 3,8 bilhões de dólares no segmento de biocombustíveis. No país, a empresa é líder na produção de biodiesel e terceira maior em etanol. O desenvolvimento do etanol de segunda geração, o etanol celulósico, é uma das prioridades da companhia visando a produção em escala comercial em 2015.
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19. Agora, veja as 30 maiores petrolíferas do mundo, segundo a Platts
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19/19 (AFP)