CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DA NETSHOES: loja online de calçados e materiais esportivos se tornará uma subsidiária da Magazine Luiza (Germano Lüders/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 4 de junho de 2019 às 14h37.
Magazine Luiza e Centauro estão há semanas disputando o controle da Netshoes, varejista online focada em artigos esportivos. No entanto, apesar da corrida para dar o maior lance, a companhia deve optar pela oferta menor.
A primeira oferta, enviada no dia 29 de abril, foi do Magazine Luiza de 2 dólares por ação. Logo o grupo SBF, dono da varejista de artigos esportivos Centauro, entrou na briga, com um novo plano. O Magalu revidou em 26 de maio, com uma nova oferta de 3 dólares por ação, firmando o valor da empresa em 93 milhões de dólares. Dois dias depois, a Centauro atualizou sua proposta, para 3,50 dólares por ação, avaliando a empresa em 108 milhões de dólares.
Era muito menos do que os 558 milhões de dólares em que a Netshoes foi avaliada quando abriu capital em Nova York, há dois anos. Mas era um dinheirão para uma empresa que lutava pela sobrevivência e com cada vez menos liquidez na bolsa. Abandonada pelos investidores, a Netshoes estava para ser salva pelos concorrentes.
Mas a companhia preferiu recusar a oferta da Centauro.
Na noite desta segunda-feira, o conselho da Netshoes anunciou que marcou uma assembleia de acionistas para 14 de junho, para deliberar sobre a aprovação da proposta de aquisição da companhia pelo Magazine Luiza. Ou seja, deve abrir mão de 15 milhões de dólares.
A varejista está à beira de uma recuperação judicial, sofre para pagar fornecedores. A dívida, na casa dos 330 milhões de reais, já foi renegociada diversas vezes. Em dificuldades, por que pode optar pela menor oferta? A resposta está na pressa. Sem capital de giro, a companhia precisa fechar o negócio o mais rapidamente possível. Para se manter funcionado, precisa de pelo menos 150 milhões de reais.
“Depois de um exame minucioso da proposta da Centauro, o conselho de diretores da Netshoes, depois de consulta com seus assessores financeiros e legais, concluiu que a proposta da Centauro, na presente data, não oferece garantias suficientes em relação à situação financeira da Companhia nem trata adequadamente das preocupações de liquidez de curto prazo”, disse a companhia em comunicado enviado ao mercado.
Neste contexto, a aquisição pelo Magalu tem uma vantagem competitiva imbatível: já recebeu o aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O negócio foi considerado mais simples pelo fato de o Magazine Luiza vender principalmente móveis e eletroeletrônicos, e não equipamentos esportivos. A Netshoes espera que a fusão com o Magazine Luiza seja completada em cinco dias úteis após a reunião de acionistas.
Qualquer possível transação entre a empresa e a Centauro significaria a convocação de uma nova reunião de conselho e precisaria passar novamente pela avaliação do Cade. Como as duas atuam nos mesmos segmentos, esse procedimento poderia tomar tempo, cerca de dois a quatro meses.
“Os desafios de liquidez de curto prazo da Companhia constituem uma preocupação significativa em relação à proposta da Centauro”, escreve o conselho da Netshoes. Nem o preço adicional oferecido seria o suficiente para compensar os riscos da demora.
A Netshoes enfrenta dificuldades desde que abriu capital na bolsa de Nova York, em 2017. O papel da varejista chegou a valer 24 dólares em maio de 2017. Hoje, a companhia negocia suas ações a 3,2 dólares e acumula prejuízos.
Para se manter de pé, vendeu parte de seus ativos. No ano passado, vendeu seus negócios no México e descontinuou seu negócio B2B, de transações entre clientes corporativos. A empresa também anunciou, em abril, a venda de sua operação na Argentina para o grupo de investimentos BT8.
Agora, busca uma solução externa. Ela precisa de um parceiro financeiro forte, capaz de fazer os aportes para recuperar a operação. Enquanto a Centauro não tem caixa para isso e precisaria fazer um financiamento, o Magazine Luiza pode dispor de 2 bilhões de reais.
Teria cacife, portanto, para cobrir a oferta da Centauro. Mas por que gastar mais quando o que está em jogo, mais do que dinheiro, é tempo?