Phillip Klien: executivo irá liderar a Clickbus diante de expectativa de aumento de viagens nacionais (Clickbus/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 25 de agosto de 2021 às 07h00.
Última atualização em 27 de agosto de 2021 às 10h45.
A Clickbus, empresa especializada na venda de passagens de ônibus on-line, passou maus bocados em 2020. Com as restrições causadas pela covid-19 -- e o medo de viajar -- a receita da empresa chegou a ser reduzida em mais de 90% nos meses de março e abril. Em 2021, o cenário é outro: a vacinação avança no país e, somada à vontade de viajar, trouxe como resultado ganhos que já superam os patamares de 2019, considerada a comparação de junho a agosto. Na visão de Phillip Klien, CEO da Clickbus, esse é um patamar que deve ser mantido até o fim do ano, triplicando a receita obtida há dois anos.
Para o executivo, grande parte desse crescimento está associada à maior procura por compras no ambiente digital. No caso das viagens de ônibus, trata-se de um percentual ainda muito pequeno, na casa dos 20% atualmente. “Depois da queda expressiva em 2020 no número de viagens, o setor chegou a vender 40% das passagens on-line. Hoje, o que temos ainda é um crescimento em relação à participação de 12% que tínhamos em 2019, mas sem dúvida, há muito espaço para crescer”, afirma. Mesmo antes da pandemia, a Clickbus já crescia de forma significativa dentro do segmento. De 2013 a 2019, a empresa registrou uma taxa de crescimento anual composta de 146%.
Rumo a tomar o caminho do crescimento após a fase crítica de restrições causadas pela pandemia, a empresa permanece com o mesmo foco: tornar o processo de compra de bilhetes de ônibus totalmente digital. É um percurso com desafios, certamente: em uma pesquisa conduzida pela empresa no mês de junho, 33% a 34% dos passageiros que já usaram os serviços da Clickbus ainda vão ao guichê comprar a passagem.
Para vencer esse desafio, a empresa investe em educação digital, com foco em mostrar que o processo de compra on-line pode trazer benefícios como segurança. Em 2020, a Clickbus criou um selo de melhores práticas contra a covid-19, em que pelo menos 100 viações -- das 160 com as quais a empresa trabalha -- aderiram. O material funcionava como uma espécie de cartilha e, para o consumidor, era possível saber que se estava viajando em uma empresa que adotava práticas para evitar a disseminação da doença.
Além disso, a empresa investiu em mais ferramentas digitais, como a possibilidade de pagar passagens usando PIX e até mesmo de parcelar o valor do bilhete. Num país em que 74% dos consumidores brasileiros consideram o preço dos produtos como o principal critério de decisão de compra nos e-commerces, segundo pesquisa da Lett e Opinion Box, a empresa também vê a possibilidade de aumentar a quantidade de promoções. Dessa forma, acredita que será possível trazer um hábito parecido com o da compra de passagens aéreas: quem comprar mais cedo, tem direito a mais descontos.
Também de olho em aumentar o acesso às viagens, a empresa estuda criar uma parte de serviços financeiros dentro da Clickbus. O principal intuito é atingir audiências que veem a viagem de ônibus -- cujo custo varia, em média, de 80 a 200 reais -- como um investimento e poder ajudá-las nesse planejamento. Vale lembrar que o CEO acumula passagem pelo PicPay, uma das maiores fintechs do país -- ou seja, expertise para isso, a Clickbus tem.
Ao mesmo tempo, do lado das viações, o objetivo é o de usar a tecnologia para se tornar o principal parceiro comercial dessas empresas. “A legislação é estadual e, como pioneiros, enxergamos a Clickbus como protagonista ao trazer essas viações para o digital. É um relacionamento muito próximo com todas, inclusive com as maiores. Isso é um pilar crucial para o nosso serviço”, diz Phillip, à EXAME.
Com mais de 4,6 mil destinos sendo administrados, a Clickbus quer crescer ainda mais como parceiro dessas empresas -- e aproveitar o ‘boom’ das viagens nacionais. Para ter uma ideia, a busca por destinos nacionais aumentou 44% mês a mês em 2021, segundo uma pesquisa realizada pela Assist Card.
No setor em geral, as perspectivas também são positivas daqui para frente. A Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestres de Passageiros (Abrati) estima que o transporte rodoviário de passageiros terá alta de 40% no segundo semestre. Alto tíquete aéreo e opções de lazer ao ar livre no país são alguns dos fatores responsáveis pelas perspectivas otimistas da entidade.
Os “bons ventos” não foram notados só pela Clickbus. Em janeiro deste ano, a Buser — uma rival indireta — recebeu um aporte de R$ 700 milhões e quer crescer dez vezes nos próximos anos, por exemplo.
Em dezembro do ano passado, por exemplo, a empresa intermediou 300.000 viagens, o triplo do registrado em dezembro de 2019, como informou o EXAME IN.
Em resposta a como vê o aumento da concorrência, a Clickbus afirma que “quanto mais, melhor”, já que a experiência do usuário tende a se aperfeiçoar continuamente.
Nem mesmo a concorrência com outros modais afeta a empresa, hoje. “Enxergamos complementaridade entre os modais, tentando ver a melhor forma de fazer a migração de um canal pro outro. Não vemos com maus olhos o avanço da aviação que é permitir que mais pessoas tenham acesso ao que elas quiserem e aproveitarem o turismo”, diz Phillip.
Inclusive, a empresa não vê planos de passar a atender modais diferentes do ônibus para o futuro. No aniversário de oito anos, a Clickbus quer se tornar o principal marketplace de vendas relacionadas a esse universo -- e acredita no potencial de expansão digital como a principal conquista para os próximos anos.
De olho na mudança de hábitos dos consumidores e na carência de dados das empresas, a Clickbus quer mostrar que os guichês de compra de bilhetes estão com os dias contados. Oito anos já se passaram nessa missão -- agora, é observar o que os próximos oito podem trazer. Certo é que 2020 já serviu como um bom teste para o novo CEO. “O último ano pareceu uma década inteira”, afirma Phillip.
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