Negócios

Por que a Apple deve se preocupar com seus últimos números

Queda de vendas e de lucros mostra que a antes revolucionária Apple pode estar virando apenas uma “empresa normal”

Logo da Apple no exterior de uma Apple Store em São Francisco, nos Estados Unidos (Justin Sullivan/Getty Images)

Logo da Apple no exterior de uma Apple Store em São Francisco, nos Estados Unidos (Justin Sullivan/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 24 de julho de 2013 às 13h17.

São Paulo – Os analistas não se impressionaram com os 31,241 milhões de iPhones, 14,617 milhões de iPads, 4,569 milhões de iPods e 3,754 milhões de Macs vendidos pela Apple no trimestre que terminou em 29 de junho (a empresa usa como referência o ano fiscal que vai até o final de setembro). O motivo é que essa montanha de números está erodindo: as vendas estão em queda e os ganhos, também.

O lucro total caiu 22% e fechou em 6,9 bilhões de dólares – a segunda queda trimestral consecutiva. A maior queda de vendas foi a do iPod, de 32%, mas a mais preocupante é a do iPad, de 14%. No total, a receita permaneceu praticamente no mesmo patamar, em torno de 35 bilhões de dólares.

É primeira vez em muitos anos que a receita da Apple estaciona no período em questão. Apenas de 2010 para 2011, por exemplo, este número quase dobrou, de 15 para 28 bilhões de dólares. No mesmo trimestre de 2007, a empresa reportava meros 5 bilhões de dólares em receita.

Mercado

O maior responsável pelo sucesso desde então é o iPhone, por isso deve ser reconfortante para a empresa que suas vendas tenham crescido 20%, estabelecendo um novo recorde para o trimestre. Isso não diminui o desafio de um mercado de smartphones cada vez mais embaralhado pela competição de modelos mais baratos.

Há rumores de que a Apple vai enfrentar esse cenário com um movimento que não é do seu feitio: o lançamento de versões mais baratas e simples do seu smartphone. No mercado de PCs, a estimativa é de que as vendas caiam 7,8% esse ano e sejam superadas pela primeira vez pelos tablets – aí, a Apple chegou antes mas também enfrenta uma competição cada vez mais acirrada.


Pós-Jobs

Steve Jobs renunciou à presidência da Apple em agosto de 2011, pouco mais de um mês antes de sua morte, e deixou seu sucessor Tim Cook com um enorme desafio: manter a companhia como sinônimo de inovação e lucratividade, status conquistado na década anterior.

Por enquanto, ele tem falhado, segundo os analistas. Não que a Apple tenha começado a perder dinheiro – longe disso. Sua margem de lucro no trimestre ficou em torno de 36%, e a empresa está sentada sobre 68 bilhões de dólares só em ativos de curto prazo. Mas as ações caíram 40% desde seu pico em setembro de 2012, e em janeiro deste ano, a Apple perdeu o título de empresa mais valiosa do mundo para a Exxon, de petróleo e gás.

O problema pode ser a sensação generalizada de que a Apple perdeu o bonde da inovação e está resignada a ser apenas uma companhia “normal”. Mas uma olhada para a história mostra que os críticos podem estar sendo muito exigentes com Tim. Com o lançamento do iPod em 2001, do iPhone em 2007 e do iPad em 2010, a Apple criou novas categorias de produtos e estabeleceu um patamar de qualidade que suas competidoras passaram anos correndo para alcançar.

Se este ciclo é algum indicativo, a companhia está chegando ao limite do timing para sacudir o mercado com o lançamento de algo que “as pessoas não sabem que querem até que você mostre pra elas”, na famosa frase de Jobs. Rumores apontam que o salvador da pátria pode ser o iWatch ou a iTV, e novas versões do iPhone e do iPad são esperadas para esse ano. 

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