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Por que a Amazon desistiu de Nova York

Após um longo processo seletivo com dezenas de cidades candidatas, a gigante do ecommerce foi criticada por fazer exigências de mais, e oferecer de menos

PROTESTO CONTRA A AMAZON EM NOVA YORK:   “Você tem que ser durão para vencer em Nova York”, escreveu no Twitter o prefeito da cidade  / REUTERS/Nandita Bose/File Photo

PROTESTO CONTRA A AMAZON EM NOVA YORK: “Você tem que ser durão para vencer em Nova York”, escreveu no Twitter o prefeito da cidade / REUTERS/Nandita Bose/File Photo

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2019 às 12h03.

Se você conseguir vencer em Nova York, conseguirá em qualquer lugar, diz a famosa música New York, New York, escrita por Michael John Montgomery e popularizada por Frank Sinatra. Pois bem, a Amazon não conseguiu. Justo ela, esse gigante que engole mercados inteiros, que tem 27 milhões de metros quadrados de lojas, escritórios e centros de distribuição (mais de cem vezes o estádio do Maracanã), que faturou 233 bilhões de dólares no ano passado. Apesar desse poder todo – ou antes por causa dele – a Amazon encontrou uma resistência que não esperava e cancelou os planos de abrir uma nova sede em Long Island City, no Queens, em Nova York.

É um recuo e tanto. A Amazon levou mais de um ano no processo de escolha de sua segunda sede. Dezenas de cidades se candidataram, oferecendo incentivos fiscais de olho nos empregos e nos investimentos que viriam junto com a gigante. A disputa foi tão acirrada que a Amazon acabou escolhendo não uma, mas duas sedes, no final do ano passado: Nova York e Arlington, um subúrbio da capital, Washington, no estado de Virgínia.

Só que, se os governos do estado e do município ofereceram quase 3 bilhões de dólares de incentivos, esperando a criação de 25.000 empregos diretos, os sindicatos e alguns ativistas levantaram uma oposição ferrenha. De um lado, às relações ríspidas que a empresa costuma ter com seus empregados, de outro ao impacto geográfico, social e econômico que um corpo desse tamanho provocaria.

A Amazon tinha apoio de cerca de 70% dos moradores, de acordo com pesquisas, mas não foi suficiente. Quando o senador Michael Gianaris, um dos maiores oponentes do projeto, foi eleito na semana passada para um assento no conselho estadual, onde teria poder de veto para a instalação da empresa, a Amazon achou que o esforço não valia a pena. Reuniões com representantes dos sindicatos já haviam sido infrutíferas, com pouquíssimas concessões de parte a parte.

“Como uma criança petulante, a Amazon insiste que as coisas sejam do seu jeito, ou ela pega a bola e vai para casa”, disse Gianaris. “Para a Amazon, o compromisso de construir uma nova sede requer relacionamentos colaborativos e positivos com representantes estaduais e municipais que nos apoiarão no longo prazo”, disse a empresa.

A analogia da criança petulante não está muito longe da verdade. Embora a busca de subsídios para investir um estado ou cidade seja prática comum entre grandes empresas, a Amazon levou a prática a um nível inédito, promovendo um leilão reverso, em que as cidades candidatas tinham de se preparar do mesmo modo como os países elaboram propostas para sediar as Olimpíadas ou a Copa do Mundo. A empresa esperava tapete vermelho e agradecimentos, mas aí vale o estereótipo do nova-iorquino, que a recebeu com dúvidas e questionamentos.

Trata-se de uma derrota política para o governador Andrew Cuomo e para o prefeito Bill de Blasio, que tanto se esforçaram para vencer a gincana da Amazon. De Blasio, no entanto, soube responder à altura, alinhando-se com os vitoriosos: “Você tem que ser durão para vencer em Nova York”, escreveu no Twitter. “Nós demos à Amazon a oportunidade de ser uma boa vizinha e fazer negócios na maior cidade do mundo. Em vez de trabalhar com a comunidade, a Amazon jogou essa oportunidade fora.”

A Amazon declarou que não pretende reabrir a concorrência para substituir Nova York. Ela vai manter os planos de se instalar em Washington e aumentar cada um dos seus 17 centros corporativos nos Estados Unidos e no Canadá. Disse que espera ter “novas chances de colaboração” à medida que continua a investir em aumentar sua presença em Nova York.

Não chega a ser um segundo divórcio para Jeff Bezos, que anunciou sua separação de MacKenzie Bezos no começo de janeiro, após 25 anos de casamento. O episódio parece mais o abandono de uma noiva no altar. Com um bilhete afirmando que pretende continuar o namoro.

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