Laboratório de fórmulas da Natura (Natura/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 22 de julho de 2019 às 06h00.
Última atualização em 22 de julho de 2019 às 06h00.
Mais de 300 produtos saem dos laboratórios da Natura todos os anos, com novas cores, aromas, texturas e princípios ativos. No entanto, para chegar aos itens finais, há milhares de testes. A companhia de cosméticos acaba de reformar o laboratório de criação de fórmulas e pode reduzir o tempo de prototipagem em até 20%. Há uma pequena planta piloto que permite a criação de até 1kg de produto para testes, entre outras novidades. EXAME visitou o laboratório, em Cajamar, SP, para conferir as mudanças nos processos de produção e testes de cosméticos.
O centro de inovação da Natura, com mais de 800 metros quadrados e 80 colaboradores, cerca de 25% do time de inovação da Natura, fica em seu escritório em Cajamar, São Paulo. O prédio de quatro andares concentra um espaço para pesquisas com novos ingredientes e princípios ativos e outro andar apenas para os testes de qualidade, segurança e eficácia dos produtos, além do laboratório de criação de fórmulas.
Construído em 2001, o laboratório era feito de alvenaria e as estruturas não permitiam que a companhia criasse produtos com tanta rapidez quanto desejava e por isso foi necessário reformá-lo.
A companhia ainda tem outro laboratório em Benevides, no Pará. As outras marcas da Natura &Co, holding dona da Natura, têm centros de inovação próprios. The Body Shop e Aesop têm centros de inovação na Inglaterra e na Austrália. A Avon, companhia adquirida em maio, também possui estruturas próprias. A operação ainda não foi concluída e depende de aprovações de órgãos reguladores.
O grupo investe, em média, 2% da receita líquida em inovação. No ano passado, foram R$ 188 milhões, o equivalente a 2,2% da receita líquida.
Milhares de testes
Mais de 2.000 produtos são testados ao mesmo tempo no laboratório e cada um deles pode ter de cinco a dez variações diferentes. Os pesquisadores avaliam desde mudanças simples, como novos formatos de embalagens, a diferentes aromas, cores e sensoriais (se o produto é seco ou úmido ao toque, se é gelado ou esquenta, se o creme é mais ou menos denso, por exemplo). Há também testes de novos princípios ativos e ingredientes e de como eles reagem entre si.
Há ainda projetos que envolvem a criação de linhas completamente novas. É o caso da Lumina, linha de cabelo que levou três anos para ser desenvolvida e conta com uma patente de princípio ativo.
Mais de 1.400 matérias primas ficam guardados em armários, organizados por um sistema digital. Para retirar um item, é necessário escanear o código do funcionário. O sistema já debita a quantidade retirada automaticamente para fazer a gestão do estoque. Os itens mais controlados são os aromas, já que cada frasco pode chegar a custar milhares de dólares. Cerca de 80% de todos os ingredientes que a Natura usa são naturais e a tendência é aumentar essa participação.
Flexibilidade
"Se o antigo lugar de testes era todo feito de alvenaria, o novo laboratório foi construído para ser flexível", diz Daniel Gonzaga, diretor de inovação e desenvolvimento da Natura. Todas as bancadas têm rodízios e podem ser movidas livremente pelo laboratório. Espalhadas pelo piso ficam torres para ligar equipamentos, como agitadores e aquecedores e saída para ar condicionado. Até a água e o esgoto chegam e saem por meio dessas torres e pelo teto, ao invés de canos fixos.
Ainda que todas as bancadas possam ser movidas livremente de acordo com a necessidade, as bancadas usadas para pesar as matérias primas em balanças são específicas para isso. Há sistemas de estabilização que impedem que movimentos bruscos - ou até os passos de alguém próximo - interfiram na medição precisa.
Os os funcionários são especializados nas diferentes categorias, como pele, maquiagem ou cabelo, por exemplo, mas há momentos em que precisam ser deslocados para pesquisas em linhas específicas, como em momentos de lançamentos ou de renovação de coleções. Por isso, gerentes incentivam que os funcionários troquem de categoria depois de alguns anos, para aprenderem mais e serem mais flexíveis.
A maior equipe é a especializada em maquiagem, que produz de sombras a batons e máscaras para cílios. Essa divisão fica separada por um vidro das outras bancadas, já que manipula muitos pós coloridos.
Protótipo
Dentro do laboratório, há uma miniatura de fábrica, que simula todos os processos reais em escala muito menor. A Natura já tem uma fábrica piloto em que faz os últimos testes de produtos antes de enviá-los a todas as lojas e consultoras, mas mesmo essa produção gera toneladas de cada item.
Para reduzir o desperdício, a pequena fábrica do laboratório de inovação faz lotes de poucos quilos por vez. "Cada lote pode ser dividido para testes com diferentes aromas ou texturas, para aumentar a abrangência", diz o diretor.
Além dos testes de laboratório, a companhia também realiza testes digitais com sistemas na nuvem em uma parceria com o Google. A Natura já eliminou os testes de produtos em animais em 2006 e adotou mais de 60 metodologias alternativas, como o uso de uma pele 3D, criada em laboratório. Agora, os testes ficaram ainda mais digitais, abrangentes e 30% mais velozes.