Roberto Monteiro, presidente da Petrorio: disciplina é palavra de ordem (Petrorio/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 23 de junho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 23 de junho de 2020 às 07h46.
A Petrorio, empresa brasileira especializada na produção de petróleo em campos maduros, continua de olho em novas aquisições mesmo diante da pandemia do novo coronavírus, que derrubou os preços da commodity e, consequentemente, a receita das petroleiras. Para 2020, a companhia não descarta a compra de ativos.
"Estamos olhando alguns campos e participando de processos de venda de ativos da Petrobras. Esperamos retomar em breve nossa esteira de aquisições, podemos voltar às compras ainda neste ano", afirma Roberto Monteiro, presidente da Petrorio, em entrevista à EXAME.
Em três anos, as ações da Petrorio na bolsa brasileira, a B3, subiram mais de 850%. Somente em 2020, a alta acumulada é de 4,66%.
Monteiro explica que o êxito se deve principalmente à disciplina de capital da empresa. Segundo ele, dentro da indústria de petróleo, existem várias etapas e a Petrorio escolheu aquela que se encaixa melhor ao seu potencial.
A fase de exploração, por exemplo, não é uma delas: envolve a compra de blocos - geralmente por altíssimas cifras - e posterior pesquisa e desenvolvimento. "Nesta etapa, o negócio é uma ciência inexata e muito complexa. Inúmeros problemas podem acontecer no meio do caminho."
Por esse motivo, a Petrorio escolheu o caminho dos campos maduros, em que a produção já está amplamente desenvolvida. No entanto, ao longo dos anos, o nível de produtividade dos poços começa a declinar, obrigando as petroleiras a concentrar muitos recursos para manter o rendimento do ativo. "É aí que nós entramos", diz Monteiro.
As grandes petroleiras globais, conhecidas como majors, têm uma estrutura muito complexa e cara para operar campos pequenos e que já não apresentam um elevado grau de produtividade. Neste sentido, companhias como a Petrorio adquirem os campos maduros a preços atrativos e reduzem drasticamente a sua estrutura de custos, melhorando a eficiência, retirando burocracias e revisitando processos.
"Redesenvolvemos os ativos e conseguimos aumentar a produção em 20% a 30%, dependendo do campo." Segundo o executivo, as majors têm uma grande preocupação com os compradores de seus campos maduros e, com a mudança recente de estratégia da Petrobras - com foco em grandes ativos no pré-sal - há mais oportunidades para empresas como a Petrorio.
A companhia opera, atualmente, 100% do Campo de Polvo, comprado da BP e da Maersk Energia; 70% do Campo de Frade, adquirido da Chevron e 10% do Campo de Manati.
A Petrorio aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para a conclusão da compra de 80% do campo de Tubarão Martelo, negociada com a Dommo Energia, e dos outros 30% do campo de Frade.
Com estas aquisições em operação, a Petrorio espera atingir cerca de 33.000 barris por dia (bpd) de produção, dos atuais 24.000 bpd.
Monteiro afirma, entretanto, que a companhia não deve crescer somente por meio de aquisições. A Petrorio tem à frente pelo menos 3 projetos relevantes. Um deles é a conexão do campo de Tubarão Martelo com o de Polvo. Por se tratar de ativos que estão muito próximos (cerca de 10 quilômetros de distância, apenas), a Petrorio está trabalhando para utilizar apenas uma plataforma de produção (FPSO) para os dois campos.
"O aluguel de uma FPSO chega a custar 40 milhões de dólares por ano. Com essa união, vamos reduzir drasticamente nosso custo de produção."
Com a queda abrupta dos preços do petróleo, todas as petroleiras precisaram refazer suas estratégias. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados de grande porte, como a Rússia, se comprometeram a cortar quase 10 milhões de barris de oferta até o final de julho, em uma ofensiva para tentar mitigar os danos da pandemia no setor.
Embora os preços do barril tenham apresentado recuperação de quase 50% desde meados de abril, quando os contratos futuros de petróleo operaram no terreno negativo pela primeira vez na história, a Petrorio não se diz tão preocupada com as cotações da commodity.
"Não precisamos do petróleo a 60 dólares para fechar as contas. Tentamos não ter uma operação atrelada a determinados preços do Brent. O que nós trabalhamos é custo", diz Monteiro.
A Petrorio afirma ter um custo de operação após o pagamento de royalties - o chamado lifting cost - de 17 dólares por barril, patamar atingido no primeiro trimestre deste ano. "Este número deve vai cair nos próximos meses", afirma o executivo.
O custo médio de produção de grandes produtores como a Rússia é de aproximadamente 15 dólares por barril, entretanto, Monteiro salienta que russos e sauditas, por exemplo, atrelam as contas do país à receita do petróleo. "Nosso custo de produção nos dá conforto para operar atualmente."
Além disso, ele acrescenta que a Petrorio chegou a ter 160 milhões de dólares em caixa em março e que fechou, na semana passada, uma renegociação de dívida com a Chevron. "Vendemos toda nossa carga a 65 dólares em março, não poderíamos estar mais preparados para um cenário difícil."
A petroleira registrou um aumento de 38% da receita líquida no primeiro trimestre, para 223 milhões de reais, com um lucro líquido de 44,5 milhões de reais no período. Para especialistas ouvidos pela EXAME, os papéis da Petrorio na B3 ganham mais atratividade à medida que os preços do petróleo sobem, mas mesmo com as dificuldades do mercado atualmente, a empresa continua bem posicionada.
Neste momento, a trajetória das cotações do petróleo é incerta, com pressão para baixo, devido às oscilações de demanda no mercado global. Ainda assim, Monteiro não vê as majors se desfazendo de ativos a qualquer preço.
"Como estas empresas têm caixa para atravessar períodos de turbulências, elas seguram um pouco os desinvestimentos para não vender a preços muito baixos."
Hoje, a Petrorio tem cerca de 130 funcionários no administrativo - todos em home office - e 150 na produção offshore (alto-mar). Com a pandemia, a petroleira dobrou o tempo que os funcionários passam embarcados e também em folga, reduzindo a quantidade de traslados até as plataformas. "Não demitimos ninguém", diz Monteiro.
Além disso, houve redução temporária de 25% do salário e da jornada para quem não está na produção e um corte de 50% para cargos de diretoria.
"A companhia está sólida e bem preparada para o momento que estamos atrevessando. Quando a pandemia passar, a demanda vai continuar existindo, mesmo que o mundo esteja diferente. E nós queremos ser uma solução para as majors."