Victor Moutinho e Filipe Gouveia, da Abacus, e Fernando Machado, da Mooney: “A ideia inicial foi tornar organizada e divertida a educação de tecnologia” (Mooney/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 08h00.
A pandemia evidenciou uma dificuldade iminente na educação brasileira: as crianças estão cada vez mais em frente às telas, mas muito do método educacional ainda é convencional, com quadros, cadernos, lápis e borracha.
Para tentar superar, em alguma escala, essa dificuldade, edtechs começaram a trabalhar em oportunidades de ensinar, também, na tela do computador. Foi aí que começaram a surgir estratégias para “gamificar” a educação.
A gamificação se caracteriza pela aplicação de elementos, mecânicas e lógicas de jogos, como designs criativos, recompensas sociais e materiais e métodos de pontuação, em diferentes atividades de diversos segmentos.
A startup Abacus, fundada em 2022, usa gamificação para ensinar crianças sobre tecnologia de forma bilíngue e pensamento computacional. A ideia é servir como um complemento às aulas tradicionais de matemática, português e história, por exemplo.
Na Abacus, o aluno vai aprendendo sobre tecnologia jogando num “mundo” com avatares e em grupo com outros alunos. Para incentivar o aprendizado, há a recompensa -- assim como num jogo normal. E ela é atrativa para a criançada: é possível trocar as moedas que ganha no jogo por gift cards a serem usados em aplicativos como a Roblox, uma das plataformas mais populares de joguinhos digitais.
“Criamos um sistema de recompensa no qual o estudante recebe gift card conforme aprende”, diz o cofundador da Abacus, Filipe Gouveia. “E ele vai aprendendo sobre programação em português e com matemática”.
A operação chamou atenção de uma outra plataforma que ensina pela internet. A Mooney, fundada em 2020, dá educação financeira a estudantes de escolas privadas por meio de interações pela internet. Há aulas dinâmicas, vídeos divertidos, métodos de storytelling, etc.
Com a intenção de criar um hub de plataformas para ensino complementar, a Mooney acaba de adquirir a Abacus. O valor da transação não foi divulgado, mas foi usado como base de cálculo um valuation da startup de 17 milhões de reais.
Gouveia, cofundador da Abacus, sempre trabalhou no mercado financeiro. Começou na Goldman Sachs e se especializou no setor de fusões e aquisições, cobrindo indústrias de petróleo e, depois, tecnologia. Trabalhou também em outras instituições financeiras e em fundos de investimento.
Nessa toada, seguiu até o final de 2021 e início de 2022, quando passou a olhar também para startups. Foi quando se juntou com algumas outras pessoas da área de tecnologia e passou a desenvolver um projeto de educação gamificada. Foi o início da Abacus.
“A ideia inicial foi tornar organizada e divertida a educação de tecnologia”, diz Gouveia. “Começamos com um modelo mais ligado às escolas usando um canal de distribuição. Era um modelo B2B2C”.
Hoje em dia, a Abacus funciona para cerca de 40 escolas. Ela fatura cobrando uma mensalidade anual por aluno. Nesse modelo de negócio, a startup vende para a escola, e a escola cobra dos pais, junto com a mensalidade.
“Nosso cliente são escolas privadas, mas não as Triple AAA, internacionais”, afirma. “Nossa escola vai na realidade do Brasil. Escola particular, double ou single A”.
A operação será realizada por meio de um equity swap. Nessa modalidade, os fundadores e investidores da Abacus receberão uma participação acionária da Mooney.
Com a aquisição, a meta é ganhar escala nacional e, também, internacional, focando na América Latina.
“Já temos dois representantes comerciais, no México e na Colômbia. Na Colômbia, inclusive, com projetos fechados”.
Hoje em dia, a Abacus e a Mooney juntas educam cerca de 50.000 alunos. A meta é que, nos próximos quatro anos, escalem para 500.000 alunos impactados. Números que ainda podem ganhar escala, já que o mercado de edtechs na América Latina já fatura cerca de 3 bilhões de dólares, segundo dados disponíveis na plataforma Statista.
“A nossa expectativa, como uma empresa só, é nos consolidar como uma solução completa de tecnologias para a educação complementar nas escolas, que tanto é importante para o desenvolvimento de crianças e adolescentes”, afirma o fundador da Mooney, Fernando Machado.