Petróleo: anúncio será adiado pelo menos até julho, para coincidir com um programa de resgate do governo para o setor (thinkstock)
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2015 às 10h31.
Rio de Janeiro - A Petrobras deve atrasar os detalhes dos grandes cortes de investimentos previstos para o seu Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 até julho, disseram duas fontes à Reuters, quando o governo planeja anunciar um programa de resgate para a indústria.
A Petrobras, em meio a um escândalo de corrupção e lutando contra a queda dos preços do petróleo, a produção estagnada e a maior dívida mundial acumulada por uma petroleira, havia planejado anunciar uma profunda redução de investimentos, de cerca de 30 por cento, até o fim de junho.
No entanto, executivos da companhia depararam-se com resistência interna e política aos cortes, dado o importante papel que a empresa desempenha na economia brasileira, afirmou à Reuters um executivo sênior da Petrobras com conhecimento direto das discussões da empresa.
O anúncio será adiado pelo menos até julho, para coincidir com um programa de resgate do governo para o setor, afirmou uma segunda fonte, um membro sênior da base governista da presidente Dilma Rousseff.
O governo está começando a lidar com as fragilidades econômicas da Petrobras e com a maneira como seus esforços para aumentar o controle sobre os recursos naturais do país poderiam enfraquecê-la ainda mais, afirmou o membro sênior da base governista à Reuters.
Ambas as fontes pediram anonimato porque detalhes finais dos planos do governo e da Petrobras ainda têm de ser decididos. Ambas têm contato regular com a presidente Rousseff e outros altos funcionários do governo e da estatal.
"O plano será adiado até julho para coincidir com um programa de governo para toda a indústria", disse o membro sênior da base governista. "A indústria depende da Petrobras e o governo quer uma resposta coordenada, mas eles também sabem que não podem esperar muito tempo."
Grandes gastos
Nos últimos anos, os investimentos anuais da Petrobras de mais de 40 bilhões de dólares em navios, plataformas, sistemas de petróleo e refinarias têm sido quase o dobro dos próprios gastos discricionários do governo brasileiro em infraestrutura.
Agora, com a Petrobras cortando custos, o governo, confrontado com a inflação e uma economia estagnada, também está cortando o seu próprio orçamento.
Enquanto isso, um esquema de corrupção, que envolveu desvios de dinheiro de contratos da Petrobras para empreiteiras, políticos e executivos de grandes companhias, obrigou a Petrobras a suspender o pagamento de grandes fornecedores, levando a pedidos de falência por grandes empreiteiras e demissões generalizadas.
O plano de petróleo do governo para julho deve ser semelhante a um programa anunciado no início deste mês para reforçar investimentos em portos, rodovias e outras obras de infraestrutura com capital privado, afirmou uma das fontes.
Tornar a indústria de petróleo no Brasil mais atraente para investimentos não-governamentais brasileiros e estrangeiros exigirá mais do que grandes declarações políticas, afirmou a autoridade sênior da base governista.
Isso vai exigir mudanças na lei do petróleo de 2010 do Brasil, disse a fonte, principalmente a derrubada da exigência de que a Petrobras seja a operadora única do pré-sal com pelo menos 30 por cento de participação nos ativos.
Acabar com a exigência, o que abriria o caminho para gigantes internacionais, como Shell e Exxon, foi endossado pelo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, pela diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, e pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga.
Todos disseram que a Petrobras pode não ter fôlego para ser responsável por todo o desenvolvimento.
Apesar do crescente apoio do Senado, é improvável que tal mudança seja feita até julho, afirmou a fonte, acrescentando que ela poderia ganhar o apoio de Dilma.
A opinião é endossada por uma terceira fonte, um burocrata sênior do governo envolvido no dia-a-dia das conversas sobre o planejamento do setor de petróleo.
"Estamos no início", disse a autoridade da base governista. "Alguns querem mudar, mas não todos. Poucos no Congresso têm pensado sobre isso. Depois, há a presidente."
Funcionários da indústria petrolífera, incluindo alguns da Petrobras, também querem mudanças na atual política de conteúdo local, responsabilizada pelo aumento dos custos e atrasos em projetos, frisou. Dilma disse que não vai mudá-los.