Roberto Sallouti, presidente do BTG Pactual: "A necessidade de mudar o portfólio de investimentos se acelerou, para maior diversificação", diz o executivo (Divulgação/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 24 de novembro de 2020 às 14h33.
Última atualização em 24 de novembro de 2020 às 15h26.
Transferências por Pix, auxílio emergencial e juros baixos: o setor bancário foi impactado por diversos fatores neste ano. Assim como diversos segmentos da economia, que viram o contato presencial com consumidores desaparecer durante a pandemia, o setor bancário também não escapou de uma maior digitalização.
"Mesmo pessoas mais velhas ou que não tinham costume de realizar transações digitalmente passaram a usar a internet e estão gostando", diz Roberto Sallouti, presidente do banco BTG Pactual. Ele falou durante a Money Week, evento sobre investimentos e finanças pessoais promovido pelo escritório de agentes autônomos EQI em parceria com o BTG Pactual.
Essa tendência deve acelerar o fechamento de agências bancárias. Para o executivo, o Brasil ainda é um país enorme com realidades muito diferentes, então as agências físicas devem continuar sendo necessárias no médio prazo. "As agências não vão sumir em cinco anos, mas se tornarão menos relevantes e os grandes bancos precisam encontrar um ponto de equilíbrio. Mas, nos próximos 20 anos, quem sabe qual será o futuro das agências", diz Sallouti.
O sistema bancário brasileiro já tem a tradição de usar a tecnologia a seu favor há muito tempo, diz ele. Durante a inflação galopante do início dos anos 1990, os bancos precisavam descontar cheques da noite para o dia seguinte, para que o dinheiro não perdesse o valor, enquanto esse processo poderia demorar semanas nos Estados Unidos. "Já é um setor pioneiro no uso de tecnologia", afirma Sallouti.
A pandemia acelerou ainda mais essa digitalização, não apenas pela migração de certas atividades para o mundo virtual. Com o pagamento do auxílio emergencial, a Caixa ajudou a digitalizar 64 milhões de pessoas — muitas dessas nem sequer tinham conta em banco. Outra transformação do sistema financeiro é o Pix, afirma o presidente do banco. "As transferências por DOC e TED vão deixar de existir, é uma questão de tempo."
Outro grande motor para o mercado financeiro é a taxa de juro, que está em sua mínima histórica. De acordo com Sallouti, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos na década de 1980, o mercado de capitais brasileiro estourou como consequência dos juros baixos.
"Foi o que aconteceu neste ano no Brasil, com muitas aberturas de capital, emissão de debêntures, é uma transformação inimaginável", afirma. "A necessidade de mudar o portfólio de investimentos se acelerou, para maior diversificação", diz o executivo. De acordo com ele, esse movimento fortalece casas de investimento e análise especializadas, como o BTG Pactual.
Mesmo que os juros baixos tenham estimulado o mercado de capitais, o presidente acredita que esse patamar não deve continuar para sempre. "Os juros estão muito abaixo do equilíbrio. Estão baixos para estimular a economia, como deve ser, mas com a retomada do crescimento, vai haver pressão de inflação", afirma. Segundo ele, o ideal seria uma taxa de juro de cerca de 2% a 2,5% acima da inflação.