Picape Badger: movida a eletricidade e células de hidrogênio (Nikola Motor/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 3 de julho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 3 de julho de 2020 às 14h06.
A indústria automotiva é centenária, mas são as novatas que estão ganhando todos os holofotes. Após a Tesla ter se tornado a montadora com o maior valor de mercado do mundo, agora é a vez da Nikola Motor, que acaba de lançar a picape Badger, movida a células de hidrogênio. Com a novidade, a Nikola já vale mais do que montadoras tradicionais como Fiat Chrysler e Renault.
“A Badger é provavelmente a picape mais avançada do mundo em termos de tecnologia, estamos muito confiantes de que este será o melhor ano na história da Nikola”, afirma Milton Trevor, fundador e presidente do conselho de administração da empresa, à EXAME, em sua primeira entrevista a um veículo de imprensa brasileiro.
Para reservar o modelo, a montadora exigiu um depósito de 5.000 dólares, que será descontado do valor final da compra e dará direito ao evento exclusivo da Badger.
A montadora com sede no Arizona, Estados Unidos, é alvo de inúmeras críticas. Uma delas é justamente sobre a Badger que, por ora, só está acessível “virtualmente” ao público. Além disso, a Nikola não produz os veículos sozinha. No segmento de caminhões, tem parcerias com empresas como Iveco e Bosch.
No caso da Badger, a identidade da parceira ainda está sob sigilo. “As críticas trazem as pessoas para perto e, quando elas conhecem a empresa, passam a acreditar na Nikola. As críticas equilibram o mercado”, diz Milton.
A venda da Badger, assim como dos caminhões da marca, não será feita por rede própria. Segundo o executivo, a estratégia inclui usar as concessionárias de uma montadora parceira. “As entregas vão começar muito mais rapidamente e vamos economizar bilhões de dólares.”
Ele afirma que a carteira de caminhões a ser entregues é de 14.000 unidades, com contratos grandes como o da AB InBev, dona de marcas como a Budweiser. “Os caminhões são nosso negócio, mas a picape trará para mais perto os nossos investidores.”
A Nikola foi fundada em 2015 e o nome é uma homenagem ao inventor sérvio Nikola Tesla, que entre muitas contribuições desenvolveu a corrente alternada. Até isso gera críticas à empresa, pois lembra a sua rival.
“Tesla e Nikola são duas das empresas mais inovadoras do mundo e esta é uma forma de prestar homenagem ao homem que realizou um grande serviço à humanidade”, diz Milton.
O jovem executivo ganhou ainda mais destaque nos últimos meses por figurar na lista dos bilionários que mais aumentaram a sua fortuna durante a pandemia - grande parte em função da valorização da Nikola.
No entanto, seus bens não vêm de berço. De uma família de cinco irmãos, Milton chegou a morar no Brasil por quase dois anos, fazendo trabalho voluntário na região da Baixada Santista e no ABC Paulista. Ele até arrisca algumas palavras em português, uma vez que sua passagem pelo país foi há mais de 20 anos.
“O Brasil é parte importante da minha história. Foi uma experiência valiosa, que influenciou muito as minhas decisões sobre o que eu queria fazer na vida.”
De volta a sua terra natal, alguns anos depois ele fundou um comércio eletrônico nos moldes da Amazon, que não deu certo. Depois ergueu duas empresas no ramo de controle e transformação de motores para gás natural. Uma delas acabou alvo de aquisição. Foi só então que ele chegou à Nikola.
Atualmente, a companhia vale cerca de 23 bilhões de dólares na bolsa americana Nasdaq. Frequentemente, a Nikola é comparada à Tesla. “Sabemos da importância das parcerias. Diferentemente da Tesla, não queremos fazer tudo sozinhos”, diz Milton. “Essa é uma das razões pelas quais nossas ações estão indo tão bem.”
Embora o mercado venha aumentando a cobrança acerca das entregas da montadora, que ainda não aconteceram, o executivo não perde o tom de otimismo. “Temos um futuro incrível pela frente. A Nikola vai ser uma das maiores empresas do mundo.”