Produção de petróleo convencional (Jessica Lutz/Reuters Business)
Juliana Estigarribia
Publicado em 8 de junho de 2020 às 15h09.
Última atualização em 8 de junho de 2020 às 15h16.
O petróleo vem ganhando fôlego há mais de uma semana com a retomada gradual da economia chinesa e a melhora dos dados de emprego nos Estados Unidos, além da decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados de estender o atual nível de cortes de produção para o final de julho.
No entanto, os preços não devem ter grandes saltos porque a cotação em alta favorece a produção de shale gas dos Estados Unidos — exatamente o que a Arábia Saudita e a Rússia não querem.
Nesta segunda-feira, 8, os preços do Brent subiam quase 1% pela manhã, para cerca de 42,6 dólares e o WTI, nos Estados Unidos, avançava 0,48%, a 39,7 dólares por barril. Porém, nos últimos dias houve um crescimento ainda mais contundente, de quase 20%, diante da expectativa de relaxamento das medidas de isolamento social no mundo.
Segundo levantamento da Wood Mackenzie consultoria especializada, os produtores de shale gas dos Estados Unidos cortaram cerca de 2,3 milhões de barris por dia (bpd) de capacidade desde o início da pandemia.
"Não é interessante para sauditas e russos ceder market share para os americanos", afirma Marcelo de Assis, chefe de pesquisa da área de upstream da consultoria na América Latina.
O corte previsto pela Opep e aliados até o final de julho é de quase 10 milhões de bpd. Se os preços continuarem avançando, inúmeros perfuradores de shale terão estímulos para voltar à ativa e brigar por espaço no mercado global.
"O problema da Arábia Saudita, que é um dos maiores produtores do mundo, vai continuar se os preços do barril viabilizarem o shale americano. Os sauditas não querem isso", diz Assis.
Do lado da demanda, o especialista salienta que o consumo chinês está quase retornando ao nível pré-pandemia. Esse fator, juntamente com a decisão da Opep e aliados, deve ser suficiente para estabilizar as cotações do barril no curto prazo.
"Não vemos espaço para uma queda dos preços, mas também não enxergamos a cotação voltando ao nível dos 60 dólares do início do ano."
Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, alerta para a volatilidade que marca o setor neste momento, mas acredita que há fundamentos para estabilidade do nível atual de preços do barril.
"A tendência é de recuperação gradual da demanda por petróleo. Os preços devem se manter próximos do nível atual pelo menos enquanto durar o atual corte de oferta promovido pela Opep, previsto para o final de julho."
A Wood Mackenzie estima uma média de preço do Brent entre 35 e 40 dólares para 2020, ancorada na expectativa de contínua pressão dos estoques de petróleo sobre os preços da commodity.
Segundo a Agência Internacional de Energia, o volume de armazenamento de petróleo ao final de maio em Cushing, Oklahoma — referência para os contratos futuros do WTI — registrou uma queda de 20% em relação a abril, quando ocorreu um dos maiores picos do indicador, levando o mercado futuro a negociar contratos no terreno negativo pela primeira vez na história.
Apesar do recuo, os estoques devem se manter elevados. De acordo com o analista da Wood Mackenzie, a velocidade de redução dos níveis de armazenamento não acompanha os cortes de produção, que são feitos de forma gradual.
"Ainda há muita estocagem no mercado global. Os níveis de estoques só devem ter um equilíbrio no ano que vem", diz Assis.